Turma do mal

Comercialização de drogas acontecem em plena luz do dia. Foto: Felipe Rosa
Comercialização de drogas acontecem em plena luz do dia. Foto: Felipe Rosa

 

Por Ricardo Pereira

O consumo e a venda de drogas em plena luz do dia têm se tornado hábito nas imediações do Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Moradias Olinda, situado na Rua Apucarana, bairro Sítio Cercado, em Curitiba. A ousadia de quem negocia ou consome entorpecentes na praça pública em frente à instituição chega a impressionar quem passa pelo local, mas não quem mora na região. “Isso aí é todo dia, eles não têm vergonha e nem medo. Quem sofre é o pessoal de bem”, desabafa Ana Paula*, moradora do bairro há quase 30 anos.

Ela, que também trabalha nas proximidades, diz utilizar o carro por medo de ser assaltada. “Moro a duas quadras do meu trabalho e não venho mais a pé. Todas minhas colegas já foram assaltadas nesse caminho e eu não quero ser mais uma”, afirma. Quem mora e trabalha na região do CMEI relata uma média de três assaltos por semana.

Compra e venda de drogas acontecem na academia ao livre e na praça defronte ao CMEI. Em poucos minutos no local, a Tribuna percebeu as “rodinhas”, formadas em sua maioria por jovens, que se dispersaram assim que perceberam a presença da equipe de reportagem.

A vizinha de Ana*, Bianca*, 35 anos, mora no Sítio Cercado desde que nasceu e acredita nunca ter visto o bairro tão violento. Mãe de um menino de apenas um ano de idade, passou por apuros há poucos dias, logo no começo do dia. “Não eram nem 7hs e eu estava a caminho do trabalho, andando com meu filho no colo e o meu marido ao lado. A moça que vinha logo atrás de mim foi abordada por um rapaz armado. Depois de pegar as coisas dela, ele ainda anunciou que ‘teria tiro’. Não deu outra, começou a atirar pra cima. O pior passou pela minha cabeça. Por Deus, ninguém saiu machucado”, explica.

Insegurança diária

Há poucas semanas, Camila* precisou entregar o celular a dois homens de moto. “Chegaram em mim, o garupa desceu da moto e veio pedindo minhas coisas. Pediu dinheiro e eu falei que não tinha. Ele pegou minha bolsa, mandou eu calar a boca e quando achou meu celular, fugiu”, desabafa. Sem telefone celular desde então, tem enfrentado dificuldades. “Eu preciso me comunicar, inclusive por questão de trabalho, mas agora não sei o que fazer. Dinheiro pra comprar outro eu não tenho”, lamenta.

Funcionário de um comércio local, Diego* garante que a insegurança faz parte do dia a dia de todos por ali. “Eu já fui assaltado algumas vezes. Eles vêm a pé, de moto ou de carro. Fazem a limpa no caixa e somem. A gente até chama a polícia, mas daí já não adianta nada. O que a comunidade precisava era de uma polícia preventiva, que pudesse saber o que fazer pra evitar esse tipo de ação. Vir depois do crime não diminui as ocorrências”, explica. (*Ana Paula, Bianca, Camila e Diego são nomes fictícios. Os moradores e trabalhadores da região preferiram não se identificar, por questões de segurança)

Reforço no policiamento

A Prefeitura de Curitiba alega que a Guarda Municipal faz rondas em parques e praças de maior vulnerabilidade, de acordo com o mapeamento da Defesa Social. “As ações são realizadas conforme a verificação de indicadores de violência, criminalidade e vulnerabilidade, apontados por diferentes organismos de segurança pública, mas também de acordo com solicitação da população, por meio das centrais 156, da Prefeitura de Curitiba; o 153, da Guarda Municipal; e o 190, da Polícia Militar”, diz, em nota, com uma ressalva: é importante reforçar que, embora com o apoio da Guarda Municipal, o policiamento ostensivo deve ser feito pela Polícia Militar e o combate ao tráfico de drogas envolve também a Polícia Civil”.

A Polícia Militar nega que neste ano tenham sido registradas ocorrências nas ruas próximas ao CMEI. Promete que o 13º Batalhão Policial irá verificar as denúncias e aumentar o policiamento. A corporação ressalta a importância do registro de boletins de ocorrência por parte das vítimas, para que novas ações policiais possam ser planejadas.

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