Uma leva toalhinhas de crochê, outra, bijuterias. Há quem prefira levar quitutes, como bolos e tortas salgadas. No Clube de Trocas Pinhão do Bairro Novo, as participantes ofertam produtos feitos por suas próprias mãos ou colhidos na horta do quintal. Em troca, levam para casa artigos produzidos pelas vizinhas e colegas da comunidade.
A reunião acontece quinzenalmente na Paróquia Profeta Elias, sempre às terças-feiras, e permite que a comunidade do Sítio Cercado troque afeto, além de objetos e alimentos. ‘Esta é uma ação de economia solidária, que valoriza o trabalho das pessoas e o contato humano, e vai de encontro com a economia do capital, que visa o lucro e explora‘, explica o agente solidário Perci Emerick de Oliveira, que organiza os encontros junto com sua esposa, Maria Cristina Ribeiro de Oliveira.
A troca é realizada através de uma moeda social, chamada de ‘pinhão‘, que gira somente nos encontros e não pode ser acumulada. Um pinhão equivale a um real. ‘Essa economia privilegia os excluídos, que estão de fora do mercado formal. As mulheres que vêm aqui não têm tantas oportunidades de trabalho pela falta de estudo, pela idade, ou por terem de cuidar dos netos‘, conta Maria Cristina.
A servidora pública aposentada Maria Célia de Souza, 58 anos, é uma das novatas do grupo. ‘Estou participando há quatro meses. Nunca tinha ouvido falar disso e achei maravilhoso. Às vezes, você tem algo parado em casa, sem utilidade, que, trazendo para cá, encontra um novo destino‘, diz. Na última reunião de setembro, ela levou livros, canecas e objetos de decoração de biscuit para trocar com as colegas.
Os encontros são ecumênicos e abertos a toda a comunidade, independentemente de religião, gênero ou idade. Atualmente, 26 mulheres de diferentes faixas etárias e crenças participam do clube.
Hora de confraternização
Uma grande mesa dispunha os objetos a serem trocados no segundo encontro do mês de setembro: porta-joias, capas para liquidificador, brinquedos, roupas, alimentos e acessórios. A artesã Andrea Fernanda Koehler dos Santos, 39, levou bijuterias para trocar. Ela produz as peças para vender na feira da Praça 29 de março, e troca o excedente no clube da paróquia, que frequenta há cerca de seis anos.
O contato com outras moradoras já ajudou muitas integrantes a lidar com depressão e problemas familiares. ‘Aqui é um espaço para conversa. Às vezes, as pessoas estão passando por dificuldades, mas não têm ninguém com tempo ou paciência em casa para ouvir‘, diz Cristina. Por poder fazer parte da economia, adquirindo bens de que necessitam, mesmo estando fora do mercado de trabalho, o clube também proporciona um resgate da autoestima das moradoras.
Pioneiro na capital
O Clube de Trocas Pinhão do Bairro Novo foi o primeiro a ser fundado em Curitiba, em 2003. Atualmente, a capital conta com seis grupos. A iniciativa surgiu na Paróquia Profeta Elias com a Campanha da Fraternidade de 2002, como motivação para combater a fome e a miséria. O casal de agentes solidários Perci e Cristina foi responsável por implementar a ação.
Além dos encontros para trocas, a paróquia criou a Feira Permanente de Economia Solidária, que comercializa artesanato e produtos alimentícios para gerar renda para a comunidade. O evento tem a parceria do Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo (Cefuria) e é realizado todos os sábados, no terminal do Portão, a partir das 8h30, e também no quarto sábado do mês, no pátio da paróquia, a partir das 14h.
Serviço
Clube de Trocas Pinhão do Bairro Novo
Endereço: Paróquia Profeta Elias, Rua Nova Aurora, 1340
Quando: Quinzenalmente, às terças-feiras, das 14h30 às 16h30 Próxima reunião: 13/10