Uma “limpa”. Foi dessa forma que moradores e comerciantes do bairro Sítio Cercado, em Curitiba, definiram a ação realizada na manhã desta sexta-feira (10), pela Fundação de Ação Social, em conjunto com as secretarias municipais de Governo, Meio Ambiente e Defesa Social, nas ruas da região. Desde as 7h, viaturas foram vistas pelas ruas, realizando o recolhimento de pertences deixados para trás pelos moradores de rua que ocupam marquises e calçadas da Rua Izaac Ferreira da Cruz e proximidades.
De acordo com empresários e lojistas, a situação piorou depois da instalação de um Centro POP da prefeitura no bairro.
Os Caçadores de Notícias foram conferir a situação no Sítio Cercado. Duas Kombis da prefeitura circulavam pela rua, aparentemente cheias de objetos. Durante a produção da reportagem sobre o Centro POP e a Casa da Acolhida do Bairro Novo, realizada na semana passada, a equipe da Tribuna flagrou um edifício abandonado – pertencente à Igreja Universal do Reino de Deus – cuja frente estava tomada por um “acampamento” montado por moradores de rua. Cobertores, colchões, roupas e comida, que antes estavam em frente ao prédio, já não estavam lá na manha dessa sexta-feira.
Da mesma forma, calçadas e demais pontos de alojamento receberam a “limpa” da prefeitura. Por meio de nota enviada à Tribuna do Paraná, a FAS informa que a articulação faz parte das ações integradas na regional Bairro Novo, que têm por objetivo realizar o serviço de abordagem social de pessoas em situação de rua, e em conjunto com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Governo e Defesa Social, fazer o recolhimento de materiais (roupas, colchões, cobertores, garrafas e etc) abandonados em vias públicas. A prefeitura ressalta que esse recolhimento só acontece quando os materiais não possuem nenhum item que possa identificar o dono, como documentos ou celular. No caso do item conter identificação, e na ausência do proprietário, os materiais são armazenados, identificados, e levados para o Centro POP, onde podem ser retirados.
Na mesma nota, a FAS informa que: “nesta sexta-feira, as equipes encontraram dois espaços usados como moradia, que foram retirados da via pública. Em um deles não havia nenhuma pessoa ou item de identificação. No segundo, havia um homem em situação de rua que foiatendido pela equipe da FAS e aceitou acolhimento. Ele foi levado para o Centro POP Bairro Novo, para tomar banho, receber roupas limpas e se alimentar”.
Para moradores e comerciantes da região, no entanto, a ação não passa de uma “maquiagem”, para tentar mascarar a real situação do bairro. Para Arnaldo Milki, morador e membro do Conselho de Segurança (Conseg) do Sítio Cercado, a ação não é eficaz. “Temos certeza que até as 22h tudo vai estar ocupado novamente. Não basta retirar as coisas sem resolver a raiz do problema”, afirmou. Intimidados com o número de moradores de rua no bairro, vizinhos e lojistas reivindicam medidas que de fato resolvam o problema. “Queremos que o Centro POP opere dentro da capacidade e que esses moradores sejam recolocados no mercado, ou recuperados. Se tudo vai voltar a ser igual, não adianta. Do mesmo jeito que tirá-los do centro da cidade, e trazer pra cá não adianta. Não resolve o problema. Só ‘disfarça’”, disse.