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Desde maio, a rotina da auxiliar de consultório, Maria Estela Sabatke, 46 anos, passou por mudanças drásticas. Atividades corriqueiras do dia a dia, como circular pela vizinhança, ou simplesmente entrar e sair de casa, já não são mais feitas com a mesma tranquilidade de antes. “Cada movimento, do portão de casa pra fora, tem que ser calculado. Pra entrar com o carro na garagem ou ao abrir o portão pra sair, fico alerta o tempo todo”, relatou.

Moradora do bairro Sítio Cercado há 24 anos, pela primeira vez ela cogita se mudar, motivada principalmente pelo medo e a constante sensação de insegurança, após a instalação de um Centro POP da prefeitura nas proximidades da sua casa. De acordo com Maria Estela, depois que a unidade foi instalada, aumentou a concentração de moradores de rua, pedintes e usuários de drogas nas redondezas do albergue e espaços públicos antes pacatos hoje servem como ponto de encontro para usuários de entorpecentes e praticantes de pequenos delitos.

Foto: Giuliano Gomes.

Inaugurado em maio deste ano, o albergue comunitário funciona sob responsabilidade da Fundação de Ação Social de Curitiba (FAS), em um prédio desativado do antigo Linhão do Emprego, localizado na Rua David Tows. Com cerca de 1.200 metros quadrados, o local é também é sede da Casa da Acolhida do Bairro Novo, que tem capacidade para atender até 100 pessoas em situação de rua. Na instalação, facilidades como quartos, refeitório, cozinha e lavanderia, teoricamente atenderiam 30 homens e 70 mulheres diariamente, incluindo idosos e crianças.
Com horário de funcionamento restrito, das 18h às 6h, a Casa da Acolhida oferece pernoite para moradores de rua. O Centro POP, por sua vez, oferece – em tese – 65 vagas, e funciona das 8h às 17h. O núcleo faz o encaminhamento de pessoas em situação de rua para atendimento médico e disponibiliza refeições como café da manhã, almoço e jantar.

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A princípio, uma ideia boa. No entanto, sob o ponto de vista dos moradores e comerciantes das ruas no entorno do albergue, não há muito que comemorar. Segundo o representante do Conselho de Segurança (Conseg) do Sítio Cercado, Arnaldo Milki, o núcleo estaria funcionando acima da capacidade. “Na prática, muito mais que 100 pessoas frequentam o núcleo. A maioria vem atraída somente pelo serviço de alimentação e acaba ficando. Filas enormes se formam, eles comem e ficam pelas ruas. Alguns se oferecem pra cuidar dos carros, outros simplesmente dormem pelas praças e debaixo das marquises das lojas. Lugares que antes eram tranquilos acabaram virando ponto de uso de drogas”, relatou.

Foto: Daniel Caron.

Sufoco diário

Na Rua Izaac Ferreira da Cruz, um dos locais de maior concentração comercial do bairro, os problemas vão desde a depredação das fachadas das lojas, até assaltos à mão armada. “Todo o dia pra abrir a loja é um sufoco. Eles trazem colchões, dormem, e fazem as necessidades na porta, onde costumo expor meus produtos. Fezes, urina, restos de comida e garrafas de bebida. Fica tudo jogado pelo chão”, conta a empresária Juliana Oliveira Magalhães, dona de uma loja de artigos domésticos.

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Já para Wallace Fernandes Azevedo, proprietário de uma farmácia alguns metros à frente da loja de Juliana, o problema são os assaltos constantes. “Perdi a conta de quantas vezes fomos roubados. Eles vêm, normalmente à noite, e levam o que conseguem. Produtos, dinheiro do caixa, qualquer coisa. Tenho registros em câmera da ação dos bandidos e já procurei a polícia, mas nada foi feito de forma efetiva. A situação só piora porque o albergue não pode atender a todos e as ruas ficam tomadas”, conta.

Foto: Daniel Caron.

Segundo Arnaldo Milki, que além de membro do Conseg também trabalha como segurança para uma empresa privada da região, o número de ocorrências dobrou desde a instalação do Centro POP no Sítio Cercado. “Antes, eram em média, dois furtos por dia nas imediações da Izaac Ferreira da Cruz. Depois da inauguração do albergue são quatro, cinco casos. A predileção é por carteiras, bolsas e celulares. Coisas leves e fáceis de roubar, que depois são revendidas para a compra de drogas”, afirma.

A Tribuna visitou oito estabelecimentos comerciais da Rua Izaac Ferreira da Cruz. Em todos, sem exceção, funcionários e comerciantes relataram problemas com a segurança. Para tentar amenizar o sentimento de vulnerabilidade e promover ajuda mútua, membros do Conseg organizaram um grupo, pelo aplicativo Whatsapp, no qual moradores emitem alertas e se comunicam ao identificarem movimentações suspeitas na região. “Alguns policiais também participam do grupo e atendem rapidamente quando acontece alguma situação mais grave. Porém, a população ainda se sente insegura”, ressalta Arnaldo.

Providências?

Em nota, a FAS informou que, “a partir das reclamações sobre o alto número de moradores de rua na região, vai intensificar as abordagens sociais às pessoas em situação de rua na região do entorno de Casa de Acolhida”. O objetivo é realizar os encaminhamentos devidos e diminuir a concentração de moradores de rua no bairro. A fundação informa ainda que, em ambos os espaços, não foram registrados excedentes no número de atendimentos, ou operações acima da capacidade do núcleo.

No que diz respeito às patrulhas e rondas policiais na região, a Guarda Municipal informou, também em nota, que “há guardas municipais operando no Centro POP, de forma fixa, e equipes da Guarda Municipal da regional fazem rondas preventivas no entorno, como apoio às ações de segurança pública”.