A história oficial conta que Laurindo Ferreira de Andrade era o proprietário de 180 alqueires de terra ao sul de Curitiba, cercados por rios e córregos, daí o nome do bairro, Sítio Cercado. Com a morte de Laurindo, a área foi partilhada com os filhos Júlia, Cezinando, Jovita e Izaac Ferreira da Cruz.
A partir da história de Izaac, que hoje nomeia uma das principais ruas da região, alguns moradores decidiram seguir contando a história do bairro, provocando a própria memória de seus residentes mais antigos e reunir tudo isso em um só lugar.
Assim, desde 2001 o Sítio Cercado abriga o Museu da Periferia, que conta o desenvolvimento da região e da formação das 13 vilas que compõe o bairro. “É uma história que parte de uma família e segue por belas histórias de luta, de conquistas. As crianças precisam conhecer isso, conhecer sua história. Isso muda até o conceito do bairro, que hoje é o segundo mais violento da cidade”, diz a presidente do Conseg e organizadora do museu, Palmira de Oliveira.
Ela é quem orienta as visitas e conta desde a tristeza do seu Izaac, com a perda de uma das filhas, Izaíade, em 1922, que o incentivou a vender parte das terras, até o começo da massificação do bairro, a partir de 1975, e as ocupações no Xapinhal, 23 de agosto, Sambaqui, no final da década de 1980, em que os líderes, como Dentinho e Cabelo, usavam apelidos pra manterem-se incógnitos.
Entre fotos e objetos que testemunham esses relatos, o museu cresce com as narrativas dos moradores mais antigos, como Maria de Deus da Cruz Rocha, a Deuzita, que morreu em 24 de abril deste ano.
O pequeno espaço ainda atrai mais a atenção de quem está de fora do bairro do que os próprios moradores. Alunos do curso de História da UFPR, por exemplo, estão entre os frequentadores assíduos do local e são quem têm colaborado para trazer visitantes internacionais, como sérvios e ganeses.
Garantido até 2017
O Museu da Periferia tem onde ficar até 2017: ocupa, por empréstimo, um espaço da Associação Nossa Luta, em condições que ainda não são ideais. Os documentos a serem digitalizados estão em um armário de metal sem tranca e, quando chove, os murais com as fotos em exposição ficam sob o risco das infiltrações.
“Fico preocupada. Inunda tudo aqui e também tem a questão da segurança dos documentos. Queremos fazer uma exposição diferente, com novas fotos, formar mais voluntários pra atender o público, mas tudo isso exige verba, o que não temos”, diz Palmira. Todo o trabalho de coleta de documentos e depoimentos é voluntária. A criação do museu foi inspirada no modelo dos que existem em periferias cariocas, como o do Morro da Maré.
Serviço:
Museu da Periferia
Rua Francisco José Lobo, 903, Sítio Cercado.
Aberto para visitações às quintas-feiras, das 14h às 17h, com agendamento prévio pelo e-mail
E-mail: museudeperiferia.mupe@gmail.com
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