Os constantes ataques da “Gangue da Marcha à Ré” tornaram a Rua São José dos Pinhais, no Sítio Cercado, um trecho do bairro temido pelos comerciantes. Depois de pelo menos quatro ações, quem tem loja por ali já pensa em o que fazer para evitar o prejuízo. Alguns avaliam até mudar de endereço. Já os moradores dizem estar em alerta por conta dos assaltos à mão armada.
“Nós convivemos com o medo. Porque além dos ataques da quadrilha, que acontecem de madrugada, os assaltos são rotina. De um tempo pra cá, qualquer pessoa que entra na loja, a gente desconfia. Isso faz com que não atendamos tão bem quanto queríamos”, desabafa a funcionária de uma loja de roupas.
Achar reclamação sobre a onda de ataques dos bandidos é fácil ao andar pela via. “Todos têm alguma história. Moro aqui e sei que os assaltos acontecem todos os dias. Já os ataques da marcha à ré se tornaram uma epidemia, não sabemos mais o que fazer”, lamenta outra trabalhadora.
Quem mora e, principalmente, trabalha na Rua São José dos Pinhais está cansado da tensão. Por conta deste medo, nenhum dos entrevistados pela Tribuna quis se identificar. “Eu tenho medo de falar até a minha idade”, diz outra funcionária.
Em um dos comércios da rua, que já foi assaltado mais de quatro vezes, os trabalhadores começaram a perceber que existem horários definidos para as ações e quais são as preferencias dos bandidos. “Pela manhã, entre 10h e 11h. Eles aproveitam quando há menor movimento para agir. Não levam só dinheiro, pegam também mercadorias, como roupas e acessórios das lojas de celular. As farmácias já perderam as contas. Todos sabem, a polícia também, mas ninguém faz nada”, reclama a funcionária de uma loja.
Os ataques da gangue da marcha à ré acontecem nas madrugadas. “Parece que os bandidos escolheram nossa rua para agir. Eles não sentem medo algum e o pior é que agem com a maior sensação de impunidade, porque ninguém faz nada”, opina um morador.
Em apenas uma das ações dos bandidos, o prejuízo para o comerciante, entre roupas e a destruição provocada, passou de R$ 10 mil. “Só não foi maior porque não conseguiram entrar por completo. Quem aguenta trabalhar assim? A gente vive segurando as economias para manter os funcionários, as coisas não estão boas, e ainda temos que alimentar bandido”.
Ferro na proteção
Depois dos constantes ataques, definidos pelos comerciantes como uma “epidemia”, várias lojas tomaram uma atitude por conta própria. Algumas sequer receberam a “visita” dos bandidos, mas já se preveniram para evitar qualquer gasto futuro.
“Mandamos colocar as barras de ferro e muitos outros comerciantes tomaram a mesma atitude. Se eles (os bandidos) vierem, terão prejuízo, mas como sabemos que antes de virem na madrugada eles passam pela loja pra ver nossos pontos fracos, eles já evitam a da gente e vão para a próxima”, relata uma lojista.
As barras de ferro, fixas, protegem a fachada das lojas. Alguns comerciantes optaram por colocar outros tipos de apoios, também de ferro, na tentativa de dificultar as ações. “A gente sempre costuma dizer que pelo menos dificultamos, né? Porque se eles quiserem, eles vão entrar”.
Além das proteções por conta própria, os comerciantes e moradores passaram a ficar mais atentos. “O negócio também é gritar. Se viu algo errado, apronta um escândalo que os bandidos fogem. Afinal de contas, estamos abandonados, a polícia que vivia por aqui já não vem mais. Temos que pensar em como manter a nossa segurança”, protesta uma lojista.
PM pede ajuda popular
A Polícia Militar (PM) informa que o 13º Batalhão realiza policiamento preventivo e ostensivo diariamente no Sítio Cercado. “Tanto a Radiopatrulha da unidade, quanto as ROTAMs desempenham atividades na área para evitar o crime e prender suspeitos. O BOPE também faz operações esporádicas na área. O bairro também com patrulhamento nos eixos comerciais em horários específicos”, informa a corporação, em nota enviada à Tribuna.
Segundo a PM, é importante a população registrar o boletim de ocorrência, o que embasa o planejamento do policiamento. A corporação não informa o número de policiais e viaturas que atuam na área “por questão de segurança”. Na semana passada, a PM prendeu 17 pessoas supostamente envolvidas em roubos com utilização de veículo. Os integrantes da Gangue da Marcha à Ré foram encaminhados à delegacia para averiguações e para saber se eles têm responsabilidade em diversos roubos na capital.
A corporação reforça que a população pode ajudar a polícia repassando informações no momento do crime, para uma equipe ir até o local, e, posteriormente, com imagens coletadas, características, placas de veículos ou qualquer outro indício que identifique suspeitos. Após o ocorrido, a responsabilidade passa a ser da Polícia Civil.