Livre pra ajudar

Foto: Felipe Rosa

Depois de passar quase cinco anos atrás das grades, o ex-presidiário Oscar Moreira, hoje com 42 anos de idade, quis uma mudança radical em sua vida. Não queria mais cometer crimes, usar drogas, nem mesmo fumar. Enquanto estava preso, pediu transferência para a Casa de Custódia de Curitiba (CCC), na CIC, onde a disciplina é mais rígida que em outros presídios e nem cigarro comum entra. Passou a seguir uma religião e teve vontade de ajudar outros presidiários a sair da vida criminosa.

Foi lá na CCC que uma noite ele sonhou com as letras ONG. Sem saber o que significavam, foi perguntando a um e outro. Até que lhe explicaram que era “organização não governamental” e, estudando o assunto, viu que através de uma ONG poderia colocar em prática sua vontade. Assim que saiu da cadeia, procurou um contador e um advogado. Em 45 dias já estava em andamento a papelada de abertura da ONG Amigos Nova Jerusalém Organização Social (Anjos), no bairro São Miguel, em Curitiba. Logo em seguida, conseguiu a doação de um terreno para montar a sede, em 2007.

Preconceito

Mas de 2007 para cá, as dificuldades são muitas. “Existe um preconceito muito grande das pessoas com os ex-presidiários. Ninguém quer ajudá-los. Pelo contrário, quer que eles se danem”, lamentou Oscar, que já sentiu vontade de voltar ao mundo do crime depois das dezenas de negativas das empresas onde foi apresentar seu projeto e pedir vagas de emprego para os presidiários e patrocínios. Mas resistiu e continuou em frente.

Hoje a ONG oferece assessoria jurídica e psicológica aos que saem da cadeia; ajuda às famílias dos presos, que muitas vezes não têm o que comer; acompanhamento por assistentes sociais; cursos profissionalizantes; enfim, tudo o que o preso necessita para se ressocializar e não voltar ao crime.

Vidas agradecidas

Foto: Felipe Rosa
Oscar Moreira já ajudou várias pessoas a saírem do crime. Foto: Felipe Rosa

O presidente da ONG Anjos, Oscar Moreira, já ajudou várias pessoas a saírem do crime. “Esses dias me assustei andando no Centro, quando uma pessoa veio e me abraçou pelas costas. Era um rapaz que eu ajudei a sair do crime e estava trabalhando como panfleteiro, fazendo propaganda de um restaurante. Ele me agradeceu muito”, disse.

Em outra história, mais dramática, Oscar literalmente salvou a vida de um jovem, que estava para ser morto a tiros por um traficante. “Minha esposa me chamou correndo no banho, porque estava dando uma baita confusão com tiros na frente de casa. Saí correndo enrolado na toalha e tinha um rapaz ajoelhado na calçada, e um traficante daqui da área querendo matá-lo. O traficante achava que ele tinha sido o cagueta que o denunciou. Mas a informação corre pelo bairro e o cagueta não era aquele rapaz, e sim um dos próprios integrantes do grupo do traficante. Eu revelei isso ao atirador e salvei a vida do rapaz. Mais tarde, quando o traficante descobriu o verdadeiro cagueta em seu grupo, o matou. E esse rapaz que eu salvei hoje mora em outro lugar, trabalha corretamente, está fazendo sua vida. A mãe dele sempre vem aqui me agradecer”, relatou.

Serviço:

ONG Anjos
Rua Carlos Eduardo Martins Mercer, 31 – São Miguel
Fone: 3088-4727
http://www.onganjos.org.br/

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