São Miguel

Linha muda

a0160914Quando o aposentado Jurko Marcczuk entrou em contato pela primeira vez com a operadora de telefonia Oi, relatando o problema em sua linha de telefone fixo, ele recebeu a resposta de que a situação seria solucionada em 72 horas. A mesma informação foi passada aos demais moradores do bairro São Miguel, na divisa entre Curitiba e Araucária, que no dia 11 de abril deste ano encontraram seus telefones mudos e desde então não conseguem fazer nem receber ligações.

Os cinco meses em que o problema persiste correspondem a 51 vezes o período estipulado pela empresa para o conserto, mas até hoje nada mudou. Os moradores continuam sem comunicação com familiares e clientes ao mesmo tempo em que arcam com os prejuízos. A situação se complica por se tratar de uma região rural, onde o sinal dos telefones celulares é falho. Muitas vezes é preciso andar pelo menos cinco km até que seja possível fazer uma ligação.
Jorge: sem contato com patrão. Foto: Ciciro Back“A alegação que passaram é que um foi cabo roubado, mas é má vontade de resolver o problema”, critica Marcczuk, que registrou uma queixa no Procon e se prepara para a segunda audiência sobre o assunto. “Na primeira audiência o advogado da operadora nem olhou na minha cara. Eles não reconhecem o problema”, conta. Ele também já procurou a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), mas não obteve resposta.

Prejuízo

O problema virou prejuízo para o dono de um pesque-pague na região. Sem a linha de telefone, ele ficou impossibilitado de fazer operações para pagamento com cartões de crédito e débito durante quatro meses. Na ponta do lápis o desfalque chegou a R$ 25 mil, mais os R$ 4 mil investidos na instalação de uma antena para que a linha de celular funcionasse no local. “O comércio perde, já que hoje quase ninguém usa dinheiro. Vivemos na base da informação, a tecnologia está avançada e ficar sem telefone é a mesma coisa que ficar sem um braço”, observa Felix Zeszutko.
Rosália pediu cancelamento. Foto: Ciciro BackO trabalho do tratador Jorge Seniv, que recebe pelo telefone as ordens do dono do haras onde trabalha, também foi prejudicado. Sem a linha funcionando, a comunicação é praticamente nula. “Ele sempre avisa o que é pra fazer e não estamos conseguindo. Já fomos pegos de surpresa”, conta.

Conta ainda chega

A saída encontrada pelos moradores foram os aparelhos celulares com planos destinados a produtores rurais, que também representam mais gastos. Além do sinal não pegar em todos os locais, o preço das ligações é alto, especialmente entre operadoras diferentes.
Marcczuk vê má vontade. Foto: Ciciro BackE mesmo sem o funcionamento da linha fixa, a fatura com a cobrança pelo pacote básico continua chegando à casa dos moradores. A situação revoltou a moradora Rosalia Mordas, 63, que tem a linha há mais de 30 anos e investiu bastante no serviço. “Pedi pra cancelar a linha. Se não estou usando, vou pagar o quê?”, questiona. Ela, assim como o marido, teme pela segurança. Os dois moram sozinhos e, sem telefone, não têm a quem recorrer em caso de emergência.

Tratando um câncer, a esposa de Jurko Marcczuk já perdeu consultas por não conseguir contato telefônico. “O telefone não funciona e quase nunca temos sinal do celular”, lamenta. “Vão levando a situação em banho maria…”, diz.
Felix contabiliza prejuízo. Foto: Ciciro BackEm nota, a Oi informou que uma equipe técnica irá ao local verificar a situação. “Se for constatado algum dano na rede, o reparo será feito o mais brevemente possível”, promete a operadora.

Sobre o autor

Carolina Gabardo Belo

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