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A primeira lombada eletrônica de Curitiba foi instalada na Rua Francisco Derosso, no bairro Xaxim, certo? Errado! Por muitos anos, até mesmo a prefeitura de Curitiba pensava que a primeira era a do Xaxim. Mas a Tribuna descobriu que, na verdade, a primeira de Curitiba (e do mundo!) foi a da Rua Mateus Leme, no bairro São Lourenço, que recentemente foi retirada de lá por conta da criação do binário com a Rua Nilo Peçanha.

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Pra explicar o “engano”, nada melhor do que conversar com o arquiteto que inventou e instalou o equipamento: Osvaldo Navarro, 74 anos, que mora a poucas quadras da Rua Mateus Leme. Na época, ele era funcionário do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e expôs a sua ideia para um grande amigo que entendia muito de eletrônica e computação, o Donald Schause. E assim surgiu a primeira lombada.

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Na época, conta Osvaldo, os radares já existiam. “Mas eu queria que fosse algo mais preciso, que registrasse com mais precisão a velocidade, a placa, quantos carros passam por ali. Além disto, eu quis criar algo que fizesse parte do mobiliário urbano, que fosse uma marca da cidade. E tinha que ser bonito, que o motorista visse claramente as luzes verde (quando passava em velocidade permitida), vermelho (quando em velocidade acima do permitido) e o amarelo piscando constante (para que todos vissem de longe que ali havia uma lombada), além do visor mostrando a velocidade”, diz o arquiteto, referindo-se ao design do equipamento.

Primeira lombada eletrônica foi a da Rua Mateus Leme. Foto: Arquivo/Tribuna do Paraná
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Tudo foi montado em cima da filosofia de Osvaldo, de educação para o trânsito, de que era preciso diminuir a velocidade dos veículos nas cidades. “Na época, o Denatran queria aumentar a velocidade nos centros urbanos. Hoje todo mundo reconhece o que eu já falava lá trás, de quem tem que diminuir. Depois que as lombadas eletrônicas foram instaladas, várias pesquisas foram feitas e constataram que elas conseguiram reduzir os acidentes. Olha quanta gente está viva hoje por causa das lombadas”, afirma Osvaldo, mostrando que o intuito do design criado, com calçada e grama no meio e a luz amarela piscando era justamente para chamar atenção das pessoas e dos motoristas de que ali havia uma travessia segura para pedestres e que deveria ser respeitada por todos.

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Conforme a empresa Perkons, que é de propriedade de Donald, amigo de Osvaldo, e desde aquela época fabrica as lombadas, o número de infrações registradas pelos equipamentos diminui em média 70% após o primeiro ano de implantação. E o Detran-PR também verificou que, sete anos após a implantação dos equipamentos, os acidentes reduziram 40% na capital paranaense. Outra pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec-Rio), diz a Perkons, concluiu que cada lombada evita cerca de três mortes e 34 acidentes por ano. E agora, que os curitibanos estão habituados à filosofia educacional dos equipamentos, o índice de respeito à velocidade nos trechos fiscalizados é de 99,93%.

“No começo era difícil as pessoas entenderem o caráter educativo da lombada eletrônica. Diziam que era a máquina caça níquel da prefeitura, chamavam de Cássio Níquel (em referência ao então prefeito Cássio Taniguchi). Mas depois as pessoas foram entendendo a importância de reduzir a velocidade”, explica o arquiteto.

Vaias ou multas?

Lombada eletrônica da Rua Francisco Derosso é a mais antiga ainda em funcionamento em Curitiba. Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

A lombada eletrônica da Rua Francisco Derosso foi instalada no dia 20 de agosto de 1992 e segue firme e forte fiscalizando a velocidade dos motoristas. Osvaldo não lembra a data exata de quando foi instalada a da Mateus Leme. Mas é categórico em afirmar que foram vários meses antes do que a do Xaxim. “Instalamos e ficamos meses testando, ver se funcionava corretamente, se fazia a contagem dos veículos, se o povo estava aprovando. Só depois é que foi colocada a da Francisco Derosso. E lá na Derosso era engraçado. O povo ficava na calçada vaiando quem passava”, diz Osvaldo.

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Mas quando o arquiteto e o amigo Donald apresentaram o projeto ao Detran, foram informados de que a lombada não poderia multar ninguém, porque não havia nada na lei que previsse multas emitidas por equipamentos eletrônicos. “Até então, eram multas no papel, que o guardinha deixava no vidro do carro da pessoa. A lombada ou radar só poderia multar se a lei fosse modificada. Então colocamos o projeto debaixo do braço e fomos para Brasília”, conta o arquiteto, que mostrou o projeto e todos os estudos feitos ao Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e ao Conselho Nacional de Trânsito (Contran). “O Denatran aprovou, o Contran regulamentou e a lei foi modificada, prevendo a multa por equipamentos eletrônicos. Era algo inédito”, orgulha-se Osvaldo.

Made in Curitiba

Oswaldo Navarro é o criador das lombadas eletrônicas. Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

A invenção de Osvaldo e Donald ainda não existia em lugar nenhum do mundo e, portanto, a lombada eletrônica da Rua Mateus Leme foi a primeira do mundo inteiro. Hoje, o equipamento é usado em larga escala no mundo todo.

Invasão de privacidade

Já com a primeira lombada eletrônica de Curitiba instalada na Rua Mateus Leme, que é caminho para os motéis da Rodovia dos Minérios, os homens e mulheres infiéis foram os primeiros a reclamar da novidade. “É porque, na época, o equipamento fazia a foto de toda a frente do veículo e pegava a imagem dos ocupantes dos bancos da frente. Aí chegava a multa na casa da pessoa, a esposa abria a correspondência e via que o marido tinha ido pro motel com outra. Deu cada confusão! Mas por outro lado, lá no interior do Paraná aconteceu um crime e a lombada ajudou na solução do caso. Um ladrão baleou uma pessoa para levar o carro dela em assalto. O marginal passou na lombada em alta velocidade e o equipamento registrou a foto do bandido dirigindo com a vítima no banco do lado. Por causa desta foto, a polícia conseguiu identificar e prender o assaltante”, revela o arquiteto Osvaldo Navarro.

Mas não foi por muito tempo que a lombada “separou” casais. “Alguns dos infiéis entraram com processos em Brasília, alegando invasão de privacidade, e conseguiram modificar a lei. Hoje, o equipamento fotografa só a placa”, ri Osvaldo.

Conforme o arquiteto, a lombada eletrônica tem muitas vantagens em relação à lombada física. “Gasta menos combustível, desgasta menos o carro, melhora o fluxo no trânsito e evita acidentes. Se a lombada não está bem sinalizada, o motorista não enxerga e freia em cima, derrapa, pode causar engavetamentos. Como a eletrônica tem a luz amarela piscando, está sempre bem sinalizada e visível ao motorista”, analisa.

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