Além de ser uma opção de transporte cada vez mais crescente e dos benefícios que traz à saúde, andar de bicicleta também pode ser uma atividade de confraternização. Mas para fazer parte desse grupo que aumenta a cada dia não basta apenas ter uma bicicleta. Para afastar as quedas e o cansaço nas subidas também é preciso ter fé sobre as duas rodas.
É com esse espirito jovem e bem humorado que o ciclista veterano Afonso Rauscher, aos 74 anos de idade e em plena forma física, inicia os novatos na “Igreja Turística Bicicletariana”. Para os ciclistas que acabam de ingressar no grupo que percorre diversas trilhas e percursos com muita força no pedal, o padre bicicletariano Afonso realiza o batismo e da as boas vindas. “Essa é uma brincadeira que o grupo criou para celebrar quando recebemos membros novos. É uma forma bacana de recepcionar os novatos e desejar boa sorte para os futuros percursos”, conta Afonso.
Para quem pensa que a idade atrapalha, ele logo avisa que irá “cair do cavalo”. “Fizemos um passeio em Santa Catarina e teve um rapaz novato que olhou para mim e disse que iria ficar atrás para me acompanhar, pois era sua primeira vez. Eu nem sei dizer se ele chegou a terminar o percurso por que já no começo o perdi de vista”, brinca.
O padre bicicletariano conta que se aproximou da bicicleta após se aposentar, há cerca de dez anos. “Depois que eu me interessei pelo ciclismo, meus filhos me deram uma bicicleta no dia dos pais. Na primeira vez quase passei mal. Mas com o tempo a gente se acostuma e vai longe”, lembra.
Segundo Afonso não existe coisa melhor para saúde do que pedalar. Em um dia comum ele chega a percorrer 80 quilômetros sem dificuldades. “Quando estou apenas querendo passear dou um pulo no pedágio e volto. Não demora muito, mas é bom para esticar as pernas”, conta.
Mas quando se trata de eventos longos, a distância amarela até mesmo os ciclistas mais bem dispostos. “Quando não pedalava lembro que chegava a perder o fôlego em qualquer subidinha. Depois que comecei a andar com mais frequência participei até de eventos com 300 quilômetros”, diz.
O padre das bicicletas não é um padre de verdade. A brincadeira do “batismo” já chamou a atenção de que assistia curioso à benção e rendeu algumas risadas. “Uma vez estava batizando o pessoal novo e uma família via e pediu para eu batizar seus filhos. Tive que explicar que isso era apenas um ritual entre ciclistas que gostam muito de pedalar”, conta.
Perito na mecânica
Antes de se dedicar ao ciclismo, Afonso era mecânico de automóveis, habilidade que utiliza nas bicicletas. “Já ajudei muita gente durante essas pedaladas que realizamos, porque é comum acontecerem acidentes. Quando ocorre algum problema eles sempre falam comigo, porque uma o funcionamento das bicicletas é muito mais simples que a mecânica de um carro”, explica.
Ele já percorreu muitas trilhas da região metropolitana, onde os amortecedores das magrelas chegam ao limite. “O bom de andar de bicicleta é que você realmente conhece os lugares. Além da vista bonita as estradas do sul possuem ótimos lugares que ninguém nunca conheceria, porque de carro as pessoas passam direto”, diz. O grupo variado que acompanha Afonso varia de destino para destino, entre 20 a 40 pessoas. Todos se impressionam com o pique dele. “O Afonso já sabe de tudo de bicicleta, já pedalou bastante”, diz José Américo Reis Vieira, do Park Bike, onde funciona o Bike Tour Club.
Novatos experientes
Antes de ser o padre da bicicleta, Afonso passou pela fase de coroinha. “Aprendi a fazer o batismo com o antigo padre bicicletariano Daniel, que hoje mora em São Paulo. Um padre bicicletariano basicamente deve ter: bom humor e gostar de pedalar”, explica.
Com a “benção” do padre bicicletariano, a caloura Feliciana Rosa, de 71 anos, conta como aprendeu a andar de bicicleta em pouco mais de 2 meses. “Nunca havia subido em uma bicicleta, mas sempre tive a vontade de aprender. Agora que já estou conseguindo garanto que valeu a pena. Além de vontade é preciso coragem e fé”, diz Feliciana.
Nesse período, Afonso conheceu José Américo Reis Vieira, criador de uma escola formadora de ciclistas e o percursor do cicloturismo. “Realizamos durante o ano inteiro esses passeios em regiões do interior. É uma ótima oportunidade para conhecer pessoas e novos lugares”, diz.
Para Américo, a bicicleta consegue atrair pessoas de 4 a 80 anos, por ser universal e acessível a todos. “Aqui recebemos pessoas com diferentes níveis de dificuldade, mas depois que eles conseguem andar pela primeira vez sozinhos dificilmente abandonam. Cada ciclista que formamos é conquista” comemora.