Apesar da redução no valor da tarifa, que há duas semanas passou de R$ 2,95 para R$ 2,85, conforme antecipamos na última Tribuna Regional, os usuários das linhas urbanas de transporte público de São José dos Pinhais estão muito descontentes com a obrigatoriedade do cartão VEM (Vale Eletrônico Municipal). Desde 26 de novembro, nenhuma linha que circula dentro da cidade aceita mais pagamento em dinheiro. É necessário adquirir o cartão e carregá-lo antes de entrar no busão.
No terminal Afonso Pena, a insatisfação parece ser geral. “É ruim. Tive que vir a pé de casa até aqui porque não tinha crédito. Se pudesse pagar com dinheiro, eu poderia ter vindo de ônibus”, diz o roçador John Lennon Pontes, de 25 anos. A aposentada Cléia Cordeiro Faria, 55, reclama do funcionamento do sistema de recarga, nem sempre operante: “Fui recarregar o cartão e o sistema estava fora do ar. Não pude pegar o ônibus. A empresa mandou os cobradores embora e quem paga é o povo”.
Para o administrador Itamar Correia, 35, a mudança é uma afronta ao direito constitucional de ir e vir dos cidadãos. “O real é uma moeda de circulação nacional, não é? A empresa responsável ganhou uma licitação pública, e se não aceita pagamento com dinheiro, está negando meu direito de ir e vir. Eles cortaram custos em prejuízo da população”, diz ele, que levanta ainda o problema das pessoas de fora da cidade, que, sem conhecimento sobre o cartão VEM, podem ser impedidas de pegar ônibus.
Com uma única atendente no ponto de recarga do terminal Afonso Pena, a fila para colocar créditos era grande. “É muito tempo perdido, não é prático. Se pudesse pagar com dinheiro, eu já estaria dentro do ônibus”, aponta o operador de máquinas Max Juliano, 27.
Na opinião do inspetor de qualidade Carlos Augusto Cordeiro, 42, São José dos Pinhais se fechou para o turismo. “Como é que o visitante vai fazer para se locomover? São poucos postos de recarga, poucos atendentes. Se a empresa quer fazer a mudança, tem que oferecer uma boa estrutura”, reivindica.
Comec modifica linhas
Cinco das sete mudanças nas linhas metropolitanas de ônibus anunciadas pela Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) – e inicialmente suspensas – acabaram acontecendo entre o final de novembro e início de dezembro. Pressionado pela prefeitura de São José dos Pinhais, o órgão recuou e não extinguiu as linhas Curitiba/Apolo e Prado Velho/Pedro Moro.
De acordo com a Comec, as alterações realizadas eram necessárias para racionalizar o sistema de transporte coletivo metropolitano e foram programadas para que interferissem o mínimo possível na rotina dos usuários.
“Os estudos para definição das alterações levaram em conta, além do equilíbrio econômico e financeiro das linhas, também o menor impacto para os usuários, que contam com alternativas para o deslocamento entre Curitiba e São José dos Pinhais”. A Comec afirmou que não deve haver mais mudanças.
Nenhuma queixa formalizada
O diretor de transportes de São José dos Pinhais, Tarlis Mattos, argumenta que não há registro de queixas contra o novo sistema. “Formalmente, não há reclamações. Elas têm que ser formalizadas para o órgão gestor tomar conhecimento dos problemas. Como eu vou cobrar a empresa de transporte se não tenho protocolo de reclamação?”, indaga. As queixas e sugestões devem ser feitas por meio da internet, no portal Fale Conosco, ou pessoalmente, com preenchimento de protocolo na prefeitura.
Quanto aos postos de recarga, Mattos reconhece que são poucos, mas para o ano que vem promete a instalação de 15 totens de autoatendimento, semelhantes aos de shoppings centers, usados para o pagamento de estacionamento. Há ainda a possibilidade de recarga pela internet, mas o crédito só cai após a compensação do boleto, o que pode demorar mais de um dia.
Em relação às especulações sobre o fim da integração no terminal Afonso Pena, Mattos garantiu que as linhas urbanas continuaram integradas. “Pelo contrário, estamos estudando ampliar a integração”, afirma. E sobre o uso de ônibus por visitantes e turistas, o diretor informou que o projeto do cartão eventual já está na Câmara Municipal, aguardando que os vereadores o coloquem em pauta para ser votado.
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