Passageiros de São José dos Pinhais não estão nada contentes com os sistemas de ônibus público desde a desintegração financeira da Rede Integrada de Transporte (RIT). As queixas vão desde o número de baldeações necessárias devido ao encurtamento de linhas ao alto valor da tarifa metropolitana (R$ 3,80). Como as linhas urbanas, que circulam dentro do município, só aceitam o pagamento pelo cartão Vale Eletrônico Municipal (VEM), usuários que se deslocam até Curitiba precisam ter até três cartões diferentes para embarcar nos ônibus.
No Terminal Central do município metropolitano, os Caçadores de Notícias ouviram várias reclamações dos usuários. O que mais pega para a estudante Bruna Petel, de 20 anos, é precisar de três ônibus diferentes para chegar até a faculdade, no Centro de Curitiba. “Pego um ônibus pra vir de casa até o terminal, outro pra ir até o terminal do Boqueirão, e depois outro até o Centro. Tenho que sair de casa duas horas antes. Antes, eu pegava o Barreirinha/São José dos Pinhais, que me economizava no mínimo 20 minutos”, lembra. Após a desintegração financeira, a linha Barreirinha/São José foi encurtada, e se tornou o ligeirinho Boqueirão/São José.
A estudante afirma que a vida ficaria mais fácil se fosse implantado o antigo projeto do Ligeirão, anterior à desintegração financeira da RIT. A linha iria do Centro de Curitiba até o Terminal Central de São José, pela canaleta exclusiva de ônibus da Avenida Marechal Floriano/Avenida das Américas. Hoje, a obra de extensão da canaleta até o terminal, pertencente ao PAC da Mobilidade, já está pronta, mas a faixa exclusiva que vai da não está sendo utilizada.
Em maio de 2014, quando a Tribuna publicou matéria sobre o tema, o governo do Estado informou que a nova linha seria licitada após a conclusão do estudo de origem e destino, elaborado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Só que o levantamento foi concluído em novembro do mesmo ano e até o momento a licitação das linhas metropolitanas não saiu, apesar de o Tribunal de Contas do Estado (TCE) ter determinado um prazo de 12 meses, a partir de maio de 2015, para isso acontecer.
Canaleta ociosa
O único ônibus que sai do Terminal Central em direção a Curitiba é o ligeirinho Boqueirão/São José. De acordo com os cálculos do instrutor fiscal da Viação São José, Luís Fernando Flores, se a canaleta já estivesse em uso, o tempo de trajeto seria reduzido, amenizando o sofrimento dos passageiros que viajam em pé.
“Nos horários de pico temos saídas de sete em sete minutos. Imagina a diferença que ia fazer uma economia de tempo de cinco minutos. Ganharíamos muito tempo na operação. A obra já está pronta há uns dois, três meses”, informa. Vazia, a canaleta tem sido utilizada por ciclistas, motociclistas e até pedestres. Os ônibus que ligam a capital ao município metropolitano continuam disputando espaço com os carros.
Mobilização virtual
Um grupo de usuários do transporte coletivo de São José dos Pinhais criou um grupo no Facebook para se organizar e pressionar pelo retorno da integração financeira total do município com a região metropolitana. “A nossa intenção é mostrar para as autoridades que necessitamos de um transporte humano de qualidade, ágil, confortável, com preço acessível e integrado”, afirma o administrador do grupo, Fernando Claros, em uma das postagens.
Ele questiona o alto preço da passagem para deslocamento metropolitano: R$ 3,80. O administrador indaga por que a tarifa de Araucária, por exemplo, é mais barata (R$ 3,70), sendo que o município é mais longe de Curitiba do que São José dos Pinhais. O grupo também cobra pela liberação da canaleta da Avenida das Américas.
Comec
De acordo com a Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec), a liberação da canaleta depende da conclusão da semaforização e da sinalização horizontal e vertical. Sobre a possibilidade de implantação do Ligeirão, não houve retorno. “Com relação à licitação, está em elaboração o Plano de Mobilidade Regional, que orientará a modelagem da rede de transporte coletivo metropolitano que será licitada”, afirmou o órgão, que não deu previsão de datas nem para a canaleta nem para a licitação.
No que se refere ao custo da passagem, em janeiro deste ano foi adotado o degrau tarifário. “O cálculo do valor da passagem considera a distância percorrida, o número de passageiros e os custos operacionais. A tarifa técnica representa o valor real por passageiro. Na média, a tarifa técnica metropolitana é de R$ 4,98”, diz a Comec. “No caso de Araucária, a prefeitura do município tem mantido um subsídio mensal de R$ 400 mil para que ocorra a integração entre Curitiba e Araucária pela tarifa de R$ 3,70”, justifica.
Um, dois, três cartões
Para Airon Costa, 45, que está desempregado, a obrigatoriedade do cartão VEM para o embarque em linhas urbanas não é nada prática. “Como que um curitibano que vem visitar seu parente aqui em São José vai pegar ônibus se não pode pagar em dinheiro?”, indaga. O instrutor fiscal Luís Fernando Flores diz que os motoristas fazem a camaradagem de pegar o dinheiro de quem não tem o VEM e passar o próprio cartão para o passageiro desprevenido. “Mas isso é uma gentileza, não é oficial.”
O aposentado Lincoln Kozlowski, 80, mora no município metropolitano e almoça em Curitiba todos os dias. Ele tem de andar com três cartões a tiracolo: o VEM, para as linhas urbanas, o da Metrocard, para as metropolitanas, e o da Urbs, para deslocamento na capital. “Ainda bem que sou isento em todos”, brinca. A cobradora Luzia Ribeiro, 65, que também é usuária do transporte coletivo, não vê isso com bons olhos. “Tem um cartão que é pra isso, outro cartão que é para aquilo, ficou uma porcaria. E se você não tem o cartão (VEM), não pega ônibus dentro da cidade.”
Conexões possíveis
De acordo com o diretor de Transportes de São José dos Pinhais, Tarlis Mattos, a empresa que opera o sistema urbano teria tecnologia para ler os cartões da Urbs e da Metrocard e também para que o cartão VEM fosse aceito por leitores de outras empresas. “O que falta é boa vontade das empresas que operam o sistema da Comec e da Urbs”.
Mattos informa que os ônibus do município não devem voltar a aceitar pagamento em dinheiro porque 74% das linhas rurais e urbanas foram licitadas para operar sem cobrador. “O preço da mão de obra não poderia entrar na tarifa, sob pena de anulação da licitação”, argumenta.
Segundo o diretor, antes da retirada dos cobradores, 94% dos usuários já tinham o cartão VEM. “Os cobradores ficariam ociosos”. Outro fator apontado por ele é a segurança: desde maio de 2015, os assaltos a ônibus zeraram. “O VEM tem 30 pontos de recarga espalhados pela cidade e a recarga pode ser feita também pela internet”, defende. Sobre os totens de autoatendimento, prometidos para implantação no início de 2016, ele informa que a empresa não cumpriu o prazo para instalá-los, e que será pressionada.
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