Fila do emprego

A necessidade de trabalhar, atrelada à esperança de dias melhores, levou milhares de pessoas para longa fila na manhã desta quarta-feira (16). Na tentativa de garantir uma das 250 vagas ofertadas pelo Grupo Muffato, aproximadamente 5 mil pessoas esperavam pelo atendimento na Comunidade Vida Plena, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC).

Segundo os responsáveis pela nova loja do Max Atacadista do Afonso Pena, as pessoas chegaram muito antes: “Teve gente que chegou às 21h de terça-feira e dormiu na fila. Trabalho há 12 anos na área e nunca tinha visto algo dessa proporção. Isso é um retrato de como está a situação em nosso país”, disse Alessandra Nicoletti, supervisora de RH da Regional Sul.

O atendimento começou às 9h e continua até 17h. Por volta das 11h, a fila dobrava o quarteirão e nem mesmo o sol forte foi um impeditivo para as pessoas. A prioridade de contratação era para quem mora na região do Afonso Pena ou em bairros próximos, mas tinha gente de outras cidades da RMC e até de alguns bairros de Curitiba.

Oportunidade

Victor: em busca do primeiro emprego.
Victor: em busca do primeiro emprego.

As opções de vagas vão de operador de caixa a auxiliar de limpeza. Junto com cada um que esperava na fila, além do olhar esperançoso, havia uma história diferente. Victor Gustavo de Lima Silva, 18 anos, por exemplo, busca pelo primeiro emprego, mas assim como a maioria das outras pessoas, espera apenas uma oportunidade.

O rapaz contou que tem encontrado dificuldade para entrar no mercado de trabalho. “Por isso busco apenas uma chance. Até porque a situação em casa está crítica. Minha mãe teve que parar de trabalhar pra cuidar da minha avó, que está doente. Temos passado algumas dificuldades”, disse o rapaz, que contou ter o sonho de ser engenheiro.

"Trabalho até de madrugada", disse Sirlei. Foto: Gerson Klaina.
“Trabalho até de madrugada”, disse Sirlei.

Há dois anos desempregada, Sirlei Schneider, 40, deixou de trabalhar depois que, por causa da crise, o restaurante que trabalhava faliu. “Desde então, eu busco por uma nova oportunidade. A vaga que tiver pra mim, eu agradeço”.

A mulher, que tem uma filha, de 17 anos, contou que tem feito bicos de costureira, mas nem assim consegue se manter. “Minha filha, que morava comigo, teve que ir morar com o pai, porque em casa não tínhamos mais condição. A situação está bem difícil, mas estou disposta, trabalho nem que seja de madrugada”.

Cansado de ouvir “não”

"O mais difícil, é esperar àquela ligação de retorno", disse Anderson. Foto: Gerson Klaina.
“O mais difícil, é esperar àquela ligação de retorno”, disse Anderson.

Entre os últimos lugares da fila, distante quase três quadras do local onde era feito o atendimento, estava Anderson Gomes da Rocha, 21. Desempregado há aproximadamente um mês, o ex-auxiliar de almoxarifado relatou que já fez algumas entrevistas, mas tem sido difícil. “O que a gente mais ouve é que vão retornar, mas quando falam isso a gente sabe que não vão retornar. Sem contar que tem tido pouca oportunidade”.

Em casa, Anderson disse que a situação ainda não está complicada, mas beira o risco. “Minha mãe foi demitida. Ela trabalhava numa empresa que faliu e a partir do mês que vem recebe o seguro-desemprego. Meu pai continua empregado e tem sido a força da casa. Estamos indo”.

Maior apoio

Lucélia de Camargo, casada e mãe de três filhos, tem passado dificuldades em casa com o marido. Foto: Gerson Klaina.
Lucélia de Camargo, casada e mãe de três filhos, tem passado dificuldades em casa com o marido.

Encostada num muro, sob a sombra de uma árvore, estava Lucélia de Camargo, 46. Ela esperava, aflita, o marido que tentava uma das vagas. “Tem que dar apoio. A gente não pode desanimar, né?”, comentou. A mulher contou que a família começou a passar dificuldades há oito meses, quando o homem que sustentava a casa perdeu o emprego com o fechamento da empresa que trabalhava.

Desempregado, o homem, que atuava como metalúrgico, agora busca por qualquer oportunidade. Com três filhos, tem sido difícil sustentar a casa. “Minha filha mais velha, de 17 anos, trabalhava. Mas ela perdeu o emprego porque a empresa também fechou. A gente tem dado um jeito, né? Cortamos o supérfluo, mas se não conseguirmos restabelecer nossa situação por aqui, vamos ter que voltar para o Norte do Paraná”, falou a mulher.

Olhando e acompanhando o fluxo da fila, Lucélia pensava sobre tudo que vem acontecendo no país e definiu tudo como humilhação. “Dá pra ver o sofrimento das pessoas. O que o governo tem feito com a gente tem sido um caos. Uma humilhação”.

Triagem continua

Uma segunda fase vai ser feita para, definitivamente, contratar os candidatos. Foto: Gerson Klaina.
Uma segunda fase vai ser feita para, definitivamente, contratar os candidatos.

A quantidade de candidatos foi muito maior do que o esperado pelo Grupo Muffato. Por isso, os gestores tomaram a decisão de criar uma segunda etapa para as seleções e, nesta quarta-feira, ninguém saiu empregado. “Fizemos isso, uma pré-seleção, para poder atender a todos. Todo mundo passou por essa primeira etapa e depois de uma triagem, na segunda fase, as pessoas chamadas vão ser efetivamente contratadas”, explicou a supervisora de RH da empresa, Alessandra Nicoletti.

Nesta segunda etapa, os candidatos vão passar por uma entrevista mais detalhada, uma dinâmica em grupo e, ao fim, vão saber se ficam ou não na empresa. Como é um estabelecimento novo que está abrindo, a maioria das funções não exige experiência, pois os contratados devem receber um treinamento na Universidade Corporativa do Grupo Muffato (Uniffato).

Com muitos currículos em mãos, a supervisora de RH explicou que as pessoas que preferiram deixar os documentos com os funcionários também serão analisadas. “Caso identificarmos que alguém possa ser contratado por outra unidade, por exemplo, encaminhamos também. Tudo vai ficar salvo em nosso banco de talentos”.

Inauguração

Muffato oferece 250 vagas em nova loja. Foto: Gerson Klaina
Muffato oferece 250 vagas em nova loja. Foto: Gerson Klaina

O Max Atacadista Afonso Pena, que vai ficar na Avenida Rui Barbosa, tem previsão de começar a funcionar ainda neste semestre. A unidade vai ter 14 mil metros quadrados de área construída e a previsão é gerar 350 empregos diretos e indiretos após a inauguração.

Sobre o autor

Lucas Sarzi

Jornalista formado pelo UniBrasil e que, além de contar boas histórias, não tem preconceito: se atreve a escrever sobre praticamente todos os assuntos.

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