A conversa é sempre a mesma: “aqui é da Auto Lanne veículos. Vimos um anúncio do seu carro no OLX e temos um cliente para o seu automóvel, com cadastro pré-aprovado. Você poderia trazê-lo aqui na loja para mostrarmos ao cliente?”. Desta forma, vários moradores de São José dos Pinhais caíram em um golpe. Seus veículos sumiram, eles não receberam o valor da venda e muito menos tiveram seus carros transferidos para o nome do suposto novo proprietário. As vítimas estão se reunindo e já tem um grupo de WhatsApp, com oito pessoas, intitulado “Enganados pela Auto Lanne”. Porém o grupo acredita que existem mais vítimas.
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Quem explica o golpe é um autônomo, de 32 anos, que prefere não se identificar, por medo de represálias. Ele conta que, em fevereiro do ano passado, anunciou seu carro à venda no site OLX. No mês seguinte, uma vendedora da loja Auto Lanne, que fica na Avenida das Américas, bairro Três Marias, em São José dos Pinhais, ligou dizendo que viu o anúncio na internet e que tinha um cliente interessado no veículo, já com cadastro pré-aprovado para comprá-lo. Então a vendedora pediu ao autônomo levasse o carro até a loja, para fechar o negócio.
“Fiquei meio desconfiado. Até que na terceira vez que me ligaram, resolvi levar lá. Cheguei e vi uma loja bonita, aparentemente tudo muito organizado, com funcionários uniformizados, cafezinho, TV, parecia confiável. Mas me disseram que o carro tinha que ficar na loja, para ficar disponível para quando o cliente fosse olhá-lo. Então pedi uma garantia. Fizeram um contrato de consignação, com vistoria, e levei uma cópia”, explica o autônomo.
Pra confundir
Na semana seguinte, o autônomo foi na loja ver a situação do carro, já que ninguém tinha entrado em contato. O veículo não estava mais lá e, segundo o vendedor, já tinha sido vendido. Então o autônomo exigiu o valor da venda, mas só recebeu meses adiante, depois de ir à loja com um amigo e contar algumas mentiras para forçar o pagamento.
“Na pressão, consegui receber R$ 10 mil. Mas ainda falta receber outros R$ 10 mil, além de que ele não transferiu o documento para o nome do comprador”, disse o autônomo, que já telefonou e passou inúmeras mensagens à equipe da loja e não obteve resposta.
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“A Auto Lanne está tão queimada na praça, que nem consegue fazer financiamentos dos veículos nos bancos. Pra isso, usam o CNPJ de outra loja no Boqueirão. O dono da loja fica dizendo que está passando por uma fase ruim, que não está vendendo nada, mas que está tentando resolver. Só que com o nosso dinheiro, ele está andando de Camaro, morando em um tríplex. E ouvi dizer que ele e a família viajam bastante, enquanto a gente aqui está no prejuízo”, reclama a vítima.
Apesar da loja continuar sediada no mesmo endereço, os donos da loja promoveram algumas mudanças de endereços e nomes de comércios no Google Mapas, possivelmente para confundir clientes que já foram lesados. No endereço da loja, que fica na Avenida das Américas, 948, aparece o nome de outra loja de veículos. E a foto da fachada da Auto Lanne aparece no endereço Rua A Izabel Redentora, com o nome de uma floricultura.
Mais vítimas
Um engenheiro elétrico, de 39 anos, também teve problemas com a Auto Lanne. Foi abordado da mesma forma: através do anúncio que fez no OLX, para vender seu carro, em fevereiro de 2016. Depois de muita insistência, conseguiu receber R$ 8 mil pelo carro que deixou na loja. Ficaram faltando outros R$ 10 mil a receber. Cansado de exigir seu dinheiro, deu entrada com um processo no Juizado Especial. Junto com seu advogado, descobriu que não há bens em nome da loja, nem dos proprietários, e por isso ele não consegue reaver o dinheiro que lhe falta.
“Há só uma conta bancária em nome da loja, mas que está zerada. O Douglas (dono da loja) chegou a comparecer às audiências. Chegou a fazer acordo comigo, mas nunca honrou nenhuma das parcelas. Depois queria me empurrar uns carros velhos, todos arrebentados e que nem no nome dele estavam”, relata o engenheiro.
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Através de uma busca simples no Google, pelo nome do comércio, é possível constatar pelo menos oito reclamações no site Reclame Aqui, com relatos parecidos com o do autônomo e do engenheiro. No próprio perfil da loja no Facebook há reclamações de clientes lesados, que inclusive falam que tentaram contato com o proprietário e não conseguem, pois ele nunca está na loja.
Conforme a assessoria de imprensa da Polícia Civil, na delegacia de São José dos Pinhais há alguns boletins de ocorrência registrados contra a Auto Lanne e todos os casos estão sendo investigados. Mas esta não é a primeira vez que os donos da loja se envolvem com coisas erradas.
Em 2008, familiares do dono da Auto Lanne foram presos, acusados de aplicar praticamente o mesmo golpe, através de duas lojas que possuíam, nos bairros Portão e Capão Raso. Na época, segundo a polícia, a empresária dona das lojas agia da mesma forma que agora. Telefonava a pessoas que anunciavam veículos, dizendo que tinha clientes para comprá-los.
Na época, dois crimes foram identificados. Primeiro, com os documentos de pessoas interessadas em comprar veículos em sua loja, a empresária dava entrada em financiamentos junto a bancos. Dizia às vítimas que o banco não tinha aprovado o crédito mas, na verdade, ela embolsava os valores. Segundo, ela vendia os automóveis deixados em consignação, sem as devidas transferências de propriedade. Ficava com o dinheiro da venda e não repassava ao antigo dono do carro.
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A primeira ação da polícia foi em setembro de 2008, na loja do Portão. De lá, os policiais apreenderam 21 veículos. Um mês depois a ação, frustrada, foi na loja do Capão Raso. Acredita-se que houve algum vazamento de informações e os proprietários, sabendo antecipadamente que a polícia ia até lá, tiraram todos os veículos e objetos de valor de lá de dentro.
O que diz a loja?
Douglamis Bento, dono da loja, conversou por telefone coma Tribuna. Disse que, no ano passado, a crise foi grande e ele vendeu muito pouco. Mas que já resolveu vários problemas que teve com clientes, principalmente os de 2016. “Eu estou trabalhando. Eu tenho loja há seis anos e não abri comércio pra não pagar ninguém. Aos poucos estou chamando alguns e parcelando a dívida. Estou começando a reagir de volta no mercado”, disse o comerciante, falando que uma publicação de matéria o prejudicaria, ele venderia menos e assim é que ficaria mais difícil em honrar os compromissos.
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“Eu estou trabalhando, sou pai de família também”, disse o empresário, afirmando também que não fez nenhuma modificação de nome ou endereço da loja no Google Mapas. “Ficaria mais difícil dos meus clientes me encontrarem. Por que eu faria isso?”, questionou o comerciante.
Não caia em golpe
– Comece com uma busca no Google, pelo nome da loja e pelo CNPJ, em busca de reclamações de clientes
– Consulte sites como o Reclame Aqui (www.reclameaqui.com.br) ou o Portal do Consumidor (www.consumidor.gov.br)
– Busque redes sociais em nome da loja e verifique os comentários dos clientes
– Veja se na parede o lojista tem os devidos alvarás de funcionamento, bem visíveis e atualizados
– Caso prefira uma busca aprofundada, peça a ajuda de um contador ou advogado e pesquise a empresa junto à Receita Federal, Junta Comercial, Prefeitura, Detran e Poder Judiciário, em busca de registros negativos
– Não se sentiu seguro em uma loja? Procure outra. Há muitas opções no mercado
– Se for possível, pegue indicações de pessoas que fecharam negócio com aquela loja
– Se não conseguir indicações, um bom começo é buscar lojas parceiras da Assovepar
– Se for deixar seu carro à venda numa loja, faça um bom contrato de consignação, citando todas as condições da negociação
– Verifique constantemente o site e redes sociais da loja, para ver se o seu carro está anunciado. Visite a loja sempre
– Nunca deixe o documento de transferência (CRV) na loja, muito menos assinado
– Mantenha o CRV consigo até que a venda seja efetivada e que você tenha recebido o dinheiro
– Faça uma comunicação de venda através do despachante ou no Detran, para ficar isento de multas e outras penalidades
– Desconfie de qualquer vantagem a mais que lhe oferecerem, diferente de outros lojistas
– Não se engane pela boa aparência de uma loja e sua equipe
Fonte: Associação de Revendedores Veículos Automotores no Paraná (Assovepar)