O engenheiro da computação aposentado Francisco Zeni, 68 anos, percorreu cerca de 300 quilômetros do Caminho de Santiago de Compostela, em 2007, e trouxe na bagagem alguns frasquinhos com água benta. A viagem foi na companhia da esposa e amigos. O objetivo do passeio espiritual era encontrar a paz durante o momento de transição para a aposentadoria, algo que ele foi conquistando aos poucos. O aposentado não imaginava se tornar um colecionador apaixonado de água abençoada em igrejas católicas do mundo todo.
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Zeni mora em São José Pinhais, região metropolitana de Curitiba. A coleção dele conta com mais de 440 frascos catalogados de água benta de igrejas de vários países. “Creio que sou a única pessoa no mundo com uma coleção assim. Tem água benta da China, Grécia, Itália e de vários outros países que eu próprio visitei, mas também de lugares em que amigos estiveram e me presentearam com a água de alguma igreja. Posso entrar pro Guinness Book”, brinca o engenheiro aposentado.
Tudo começou no Caminho de Santiago, na Europa, conhecido pela peregrinação espiritual e cultural entre a França e a Espanha. Em 2007, ele estava na transição para a aposentadoria e viajou para fazer parte do Caminho com a esposa Jussara Linhares Zeni, 70 anos, professora aposentada. “É um lugar onde o tempo paralisa. Nos primeiros dias de viagem, meus pensamentos ainda divagavam pensando nos boletos para pagar, na conta de luz, se a aposentadoria era mesmo uma boa ideia. Depois, tudo se acalmou. Até o canto dos pássaros eu passei a perceber. Trouxe frascos de água benta dessa viagem como recordação desse momento de vida. Para agradecer”, conta Zeni.
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Desde então, ele a esposa já viajaram para cerca de dez países. Na primeira viagem, que incluiu o Caminho de Santiago, eles passaram por Portugal, França e Espanha. Depois, em outra oportunidade na Europa, foram para Itália e Áustria. Na lista entram Estados Unidos, Argentina, Uruguai, Chile e Colômbia.
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Segundo Zeni, a ideia de guardar água como recordação não surgiu por acaso. Ele já costumava ver na internet o trabalho do fotógrafo e escritor japonês Masaru Emoto (1943-2014). “Ele fazia experiências de fotografar a molécula da água, depois das pessoas falarem e pensarem próximo dos frascos. Quando eram palavras bonitas, nas fotos de Masaru parecia que a água estava bela. Quando falavam coisas ruins, as fotos ficavam feias. Isso sempre me intrigou. Quando pensei em trazer algo da viagem, foi logo a água”, explica.
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Por isso, quando esteve na Itália, foi emocionante para Zeni poder trazer água, terra e pedra do lugar de origem do seu bisavô. “Sou descendente de italiano e queria conhecer a cidade do meu bisavô, Giovani Zeni, que veio de lá para o Brasil. Ele era de Tonadico, uma comunidade da província de Trento. Trouxe a água da igrejinha do lugar, onde, na época da imigração, tinha a celebração de despedida para os imigrantes que iam embora do país. Junto, trouxe também um pouco de terra da cidade e uma pedrinha. Simboliza uma raiz, pois meu bisavô com certeza esteve na região da igreja”, conta ele emocionado.
Já os Estados Unidos fazem parte da rotina. “Minha filha mora lá. Sempre que dá, nós vamos. Mas, ultimamente, o preço do dólar não tem colaborado”, brinca o colecionador. “Tenho água benta de uma igreja de Milwaukee, terra da Harley-Davidson”, completa.
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Para cada um dos locais para onde viajaram tem um ou mais frasquinhos de água benta catalogados. Mas chegar aos 440 frascos não seria possível sem os amigos. “Gente do meu coração, que lembra de mim quando passa por uma igreja. Estejam no país que estiverem. Eu valorizo muito nossas amizades. Gostaria de colocar, aqui no jornal, o nome de cada um que colaborou com a coleção”, agradece Zeni.
E parece não ser fácil para os amigos acharem água benta para trazer de presente. Em 2022, a Márcia Linhares Meyer, 68 anos, cunhada de Zeni, foi para o Leste Europeu. “Em todas as viagens que faço, sempre entro nas igrejas para recolher água benta para o Chico. E encontrar nem sempre é fácil. Depois da pandemia ficou mais difícil. Já fiz grupo inteiro me esperar para entrar na igreja só para recolher água benta”, conta a cunhada, com orgulho.
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“Iniciativa louvável”
A historiadora e escritora Maria Angelica Marochi, que costuma escrever sobre São José dos Pinhais, também colabora com a iniciativa do amigo Zeni. Ela e a irmã já presentearam a coleção com água benta de várias igrejas de Jerusalém e locais próximos, como da Galileia e Belém. “Da Itália, no ano de 2010, foram de igrejas de várias cidades. Mas no ano de 2001, no Vaticano, teve uma especial, benta pelo hoje Santo Papa João Paulo II. A iniciativa do Chico é louvável”, revela a historiadora.
No fim das contas, a inciativa de colecionar água benta de vários locais do mundo se torna algo inspirador. “Tem tudo a ver com energia. É tudo muito simbólico para quem acredita. Acaba fazendo um bem para mais gente”, reflete Zeni, que costuma carregar um frasco maior com uma mistura de todas as águas bentas da coleção.
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“Pego um pingo de cada. Imagina a energia disso?”, argumenta o colecionador, que diz já ter curado até insônia de colegas. “Uma vez, um colega reclamava que o estresse do trabalho não deixava ele dormir. Vivia com dor de cabeça por causa disso. Passei a mistura de águas bentas e só esperei o dia seguinte. Ele disse que dormiu feito um anjo. Mas isso é pra quem acredita”, explica.
Vale ressaltar que a coleção não está aberta à visitação. Ela ficou disponível apenas para a realização da matéria.
Ao se despedir da reportagem, Zeni fez questão de “pingar” água benta na equipe. O caminho de volta, de São José dos Pinhais até Curitiba, por volta das 17h de uma quinta-feira, foi tranquilo, com todos os sinais de trânsito abertos. Mas isso também é para quem acredita.
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