Um caça que pertenceu a Força Aérea Brasileira (FAB) e que participou de missões militares faz parte do dia a dia da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), na sede localizada no bairro Santo Inácio, em Curitiba. A aeronave foi fabricada na Itália, passou pela África do Sul e depois de cuidar das fronteiras brasileiras encerrou a sua vida útil aqui na capital.
Alunos do curso de Engenharia Mecânica tiveram a honra de participar da montagem do avião nas dependências da instituição. Foi um presente da Força Aérea Brasileira (FAB) e com uma única exigência, o motor não pode ser instalado para evitar que o avião funcione.
O caça é um modelo Impala, motor Rolls Royce, com autonomia de 2130 km e alcança a velocidade de até 867 km/h. O custo aproximado da aeronave é de 50 milhões de dólares. É um avião concebido para atacar alvos terrestres com bombas ou tiros de metralhadora acoplados nas laterais da aeronave. Além disto, por ser relativamente pequeno e ter agilidade, o caça é perfeito em perseguições e interceptações em aviões inimigos. As peças foram fabricadas na Itália e o avião montado na África do Sul, depois comercializado com o Brasil, onde participou de ações de vigilância nas fronteiras na Amazônia e litoral. É um avião para apenas um tripulante.
A chegada desta aeronave na UTP aconteceu em 2013 e foi um pedido do pró-reitor Carlos Eduardo Rangel Santos, o Neneco (já falecido). Entusiasta e amante da velocidade, entrou em contato com o Ministério da Defesa para tentar conseguir uma turbina aeronáutica ou uma aeronave para que os estudantes tivessem acesso aos equipamentos após a criação dos cursos acadêmicos de Manutenção de Aeronaves e Piloto de Aeronave Profissional. Na época, a FAB apresentava uma série de aviões que estavam parados na base em Recife (PE) por questões técnicas, como horas de uso em excesso ou data de fabricação.
O uruguaio Rodolfo Perdomo, 61 anos, mais conhecido como Lolo, era o coordenador do curso de Engenharia Mecânica e acompanhou todo o processo desde a chegada do caça até a montagem realizada pelos estudantes em 48 horas.
“Chegaram duas carretas com o avião desmontado e pensávamos que seria um modelo Xavante, mas veio o Impala. Um sargento e dois oficiais acompanharam de perto e orientaram na remontagem. Imaginavam que ficaria pronto em dez dias, mas terminamos em dois. A turma estava muito motivada e foi uma ótima chance aos nossos alunos para que colocassem a chave no parafuso”, relembra Lolo que atualmente exerce o cargo de coordenador do departamento de Relações Institucionais da UTP e professor do curso de Engenharia Mecânica.
Remontagem e furo no tanque de combustível
A remontagem como de qualquer veículo precisa de espaço e de conhecimento. No caso de um Impala que possui um comprimento de 10,67 e altura de 3,72 metros, a universidade disponibilizou as instalações para a atividade. A fuselagem, as asas e todos os comandos precisavam estar alinhados e o motor não pôde ser instalado para evitar qualquer tipo de funcionamento.
“Foi uma montagem interessante, pois lembro que colocamos o charuto (fuselagem) em pé e fomos alinhando as asas e colocando os pinos. Os oficiais da FAB queriam furar os tanques de combustível para que não funcionasse a aeronave, mas comentei com eles que não adiantaria, pois, nossa equipe teria condições de restaurar. Ficou do jeito que veio e não fui destruído. Ele está inteiro, mas não colocamos o motor do lugar por uma questão de confiança mútua. O governo fez a diferença de nos ceder o avião e não iremos fazer nada. O motor nunca foi desmontado e o avião está intacto”, disse Perdomo.
Top Gun
Em Curitiba, além do caça da UTP, outros três aviões estão expostos para comunidade. O mais conhecido é o Republic P-47 Thunderbolt, caça da Força Aérea do Brasil que combateu na 2ª Guerra Mundial. O combatente completou em 2019, 50 anos em exposição na Praça do Expedicionário, no centro de Curitiba. Este modelo foi o maior, o mais caro e o mais pesado caça monomotor de combustão na história da aviação militar. O P-47 foi largamente produzido nos Estados Unidos e utilizado como caça pelos exércitos aliados na segunda grande guerra.
Outro caça que pode ser visto está localizado em frente ao Cindacta II, no bairro Bacacheri. É um Gloster Meteor de fabricação britânica montado no Rio de Janeiro entre as décadas de 50 e 60. O Meteor logo transformou em sinônimo de avião de ataque por ser o principal caça da FAB até 1970 quando os Xavantes foram adotados. O último voo em missão do Meteor no Brasil foi em 1971. Ainda dentro das instalações do Cindacta, tem o caça F-5. As visitações não são individuais, somente em grupos com pré-agendamento, mas com pandemia as visitas estão suspensas.
O Impala também não pode receber visitação para não causar aglomeração de pessoas que buscam o melhor registro com o avião. “O público interage com o avião e tira muitas fotos. Todos sonham em ser um pouco o Top Gun”, orgulha-se Lolo, que trabalhou dez anos na Fórmula 1 na extinta equipe Jordan e segue ajudando alunos em projetos universitários.