Santo Inácio

Amor ao quadrado

Nem ela consegue explicar a razão que a faz tomar para si o problema dos outros. Mas o fato é que, ao longo dos 72 anos de vida, a comerciante Cecília Pareschi, também conhecida como “Cecília Quadradinhos de Amor”, fez da vontade de ajudar as pessoas uma ação tão rotineira quanto as mais elementares, como comer ou dormir.

Cecília Pareschi, conhecida como “Quadradinhos de Amor”, mobiliza grupo que oferece desde comida até equipamentos hospitalares. (Felipe Rosa)
Cecília Pareschi, conhecida como “Quadradinhos de Amor”, mobiliza grupo que oferece desde comida até equipamentos hospitalares. (Felipe Rosa)

Essa prática deu origem ao chamado Elos de Anjos Abençoados, uma rede de 30 colaboradores permanentes, dentre tantos outros que surgem por algum período, que há 30 anos resolve as mais diversas situações, desde emprestar equipamentos hospitalares para quem está gravemente doente a doações de cestas básicas aos que passam fome.

Aliás, o nome Elos de Anjos Abençoados foi inspirado no agradecimento feito por um homem faminto que bateu na porta da casa de Cecília, quando ela ainda morava na cidade de São Paulo. “Ele estava desesperado de fome e depois de saciado agradeceu dizendo que eu era um anjo abençoado”, recorda.

Ela confessa que quando veio morar em Curitiba, há quase 20 anos, pensou que não iria mais se envolver com tanto afinco nos diversos problemas que as pessoas enfrentam, mas bastou se instalar para começar tudo de novo e em qualquer canto da capital ou fora da cidade. “Uma das camas hospitalares que conseguimos está em Irati, uma cidade que nunca cruzei na vida”, exemplifica.

O princípio que faz mover a engrenagem dessa rede de ajuda é o de repartir. “Se você tem apenas uma boca e duas balas, chupa uma e dá outra. Se tem apenas um pão divide em dois e assim por diante”, explica.

Ela garante que tanto os três filhos, quanto o marido Rubens, companheiro de Cecília há 46 anos, nunca se opuseram à dedicação dela para ajudar o próximo. “Eles participam de cada empreitada”, garante. E isso inclui os gastos que a família tem para conseguir aproximar quem possui algo que outro necessita. “A conta de telefone é alta, pois uso muito o aparelho até encontrar quem tem aquilo que o outro necessita e como faremos para levar ao endereço da pessoa a ser ajudada”, explica.

Como ela não possui computador, porque acabou doando a própria máquina por usar pouco o aparelho, Cecília organiza todos os contatos em agendas de papel. Nelas, também estão registrados todos os equipamentos hospitalares que estão emprestados, bem como os enxovais de bebês e outros objetos que poderão ser utilizados por outras pessoas. “Os empréstimos são por tempo indeterminado, mas sempre tem um responsável por garantir que o objeto seja bem cuidado a fim de ajudar outras pessoas”, explica.

Ela acredita que todo mundo tem o que repartir, tanto que já houve situações em que a pessoa ajudada, mais tarde conseguiu ajudar. “Certa vez emprestamos um cama hospitalar que estava enferrujada e a pessoas que usou se recuperou e a reformou, devolvendo o equipamento ainda melhor”.

Cecília conta que nunca quis transformar sua rede em ONG por conta da burocracia, mas sonha com o dia em que ela vai poder realizar o sonho da casa própria e reservar um espaço maior para os equipamentos e produtos a serem doados, já que por enquanto eles ficam na sala da atual residência, no bairro Santo Inácio.

Quem tiver interesse de participar de alguma forma dessa rede, pode entrar em contato com Cecília pelo telefone: (41) 9828-2871.

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Quadradinhos de amor

Como ela não desiste de conseguir uma forma de resolver o problema que bate à sua porta, Cecília lança mão de todos os recursos, de ligar para empresas pedindo por uma vaga de emprego, a usar as habilidades manuais para confeccionar colchas de lã e aquecer quem tem frio. E foi justamente tecendo as colchas com quadradinhos de lã, que ela passou a ser conhecida como “Cecília Quadradinhos de Amor”.

Sobre o autor

Magaléa Mazziotti

(41) 9683-9504