Nada do postinho

Foto: Felipe Rosa

Os moradores do Jardim Aliança, no Santa Cândida, nem têm mais esperança em ver a Unidade Básica de Saúde (UBS) da Rua José Ursulino Filho funcionando. A obra que abrigaria o posto está parada, pelo que se recordam, há pelo menos dois anos. Abandonado com 72% de execução, como os Caçadores de Notícias já mostraram, o prédio tem vidros quebrados, pichações e fiações arrebentadas. Materiais de construção se deterioram dentro e fora do imóvel, que virou moradia para dois cães. Eles têm até cobertinha e potes para ração e água.

Jurandir: Desde antes da Copa do Mundo que ninguém mexe aí.
Jurandir: Desde antes da Copa do Mundo que ninguém mexe aí.

“Desde antes da Copa do Mundo que ninguém mexe aí. Essa obra é coisa antiga, começou quando o Beto Richa era prefeito e o (Luciano) Ducci era secretário de saúde, continuou quando o Ducci virou prefeito, e desde que o Fruet pegou não foi mais pra frente. Aí já morou mendigo, depois teve um senhorzinho que cuidava e trouxe os cachorros dele. Há uns oito, dez meses, a filha desse senhor veio trazer uma refeição e encontrou o corpo dele, estava já há dois dias morto aí dentro. Ficaram só os cachorros”, conta o taxista Jurandir Tagliamento, 54, que mora bem próximo à construção.

Segundo ele, houve um tempo em que a unidade tinha vigia, mas a atividade também parou. Quando suas filhas, com quem mora, necessitam levar seus netos para consultas médicas, têm de se deslocar até a UBS do Santa Cândida. “Tem que pegar ônibus, aqui é tudo cheio de morro.

Foto
Marido de Marilda precisou ir a um outro posto para se consultar.

Sendo que podia ter atendimento aqui na frente! O posto está praticamente pronto, era só equipar e trazer gente pra trabalhar”, protesta.

A aposentada Marilda Staben, 70, mora a 20 metros da obra e também está indignada. “Não tem jeito, está parado, não vai pra frente. E o povo precisando. Hoje mesmo meu marido teve que ir ao médico, foi lá no posto do Santa Cândida, do lado da Rua da Cidadania”, conta. Sobre o motivo da paralisação, ela só ouviu boatos. “Pelo jeito, é falta de verba, como sempre. Pra onde vai o dinheiro que eles arrecadam é que eu não sei. Está tudo abandonado, pichado, teve época que isso aí era uma maloqueirada, dava até medo de passar na frente.”

Sem previsão

Foto: Felipe Rosa
Prefeitura de Curitiba não tem data para retomar as obras. Foto: Felipe Rosa

A prefeitura de Curitiba não tem data para retomar as obras. De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), os trabalhos pararam no primeiro trimestre de 2015, e a construtora responsável pelo empreendimento perdeu o direito da obra em fevereiro de 2016, devido a problemas administrativos e financeiros.

“Os problemas foram agravados pelos atrasos no fluxo de repasses do governo estadual ao longo da obra. Desde o início de 2015, a empresa foi acionada diversas vezes pelo município e sempre garantiu a retomada do empreendimento. Desde que a contratada perdeu o direito da obra, a construção passou a ser monitorada pela Guarda Municipal. A prefeitura tem tentado viabilizar a continuidade da obra sem a necessidade de uma nova licitação, convocando as outras empresas participantes da concorrência inicial”, afirma a SMS.

Assim que a obra for retomada, a previsão é de que a unidade de saúde seja concluída em cinco meses. O contrato com o governo do Estado foi renovado e tem validade até junho de 2017.

A administração municipal acrescenta ainda que o início da construção foi autorizado somente em dezembro de 2012, fim da gestão Ducci, e que foi feita uma medição da obra no início da gestão Fruet, em fevereiro de 2013, que constatou que a execução da obra estava em 6,24%.

Falta uma parcela

O governo do Paraná diz que não tem nenhum débito com o município de Curitiba referente à construção da UBS. “Pelo convênio firmado, os pagamentos são feitos pelo Estado conforme a medição da obra. A unidade Jardim Aliança está com 72% da obra e já recebeu cinco das seis parcelas previstas no convênio. A sexta e última parcela será paga quando a unidade estiver com 90% da obra concluída. Estamos aguardando novas medições da prefeitura, porém, mesmo que tivesse uma nova medição, ainda não conseguiríamos repassar o recurso, pois o município está sem certidão no Tribunal de Contas”, informa a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).

Obra retomada no CIC

A outra unidade de saúde que estava com obras paradas na capital teve a construção retomada no início deste mês. Segundo a prefeitura, a obra da Campo Alegre, no CIC, que ficou parada com 69,40% de execução, deve ser concluída ainda neste ano. A previsão é que os moradores da região comecem a ser atendidos na unidade no início de 2017. Como a Tribuna já noticiou, o local foi transformado em mocó após a interrupção dos trabalhos.

O município alega que o cronograma foi comprometido por atrasos no fluxo de repasses do governo estadual ao longo da construção – com algumas pendências que levaram até 23 meses para serem quitadas. Os constantes atrasos acarretaram no abandono do empreendimento pela empresa vencedora da licitação ainda em 2014. A administração se preparava para lançar nova licitação para dar continuidade à obra, mas conseguiu que uma construtora com empreendimento no bairro Cascatinha termine os serviços, graças a uma medida compensatória de cerca de R$ 1,5 milhão.

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