Quando o medo fala mais alto, a busca por locais mais seguros de trabalho pode se tornar a principal alternativa. É isso o que aconteceu com o comerciante Sandro*. Depois de ter sido assaltado duas vezes em menos de dois meses, ele começa a procurar um novo espaço para se instalar. Com receio da criminalidade na região do bairro Santa Cândida, está quase decidido a mudar de cidade. “Penso em ir para Joinville, em Santa Catarina. Tenho uma parente morando lá e já conheço o município. É bem mais tranquilo do que aqui. Acho que assim poderei trabalhar com mais tranquilidade”, explica.
A solução vem após os dois crimes registrados no comércio dele, entre os meses de abril e junho deste ano. “Na primeira ocorrência, apareceu um rapaz sozinho e armado. Eram por volta das 22h. Ele entrou, anunciou o assalto, levou todo o dinheiro do caixa e alguns produtos, também. Já o segundo caso (dias depois) foi mais tenso. Três bandidos entraram aqui, sendo dois armados, revistaram todo mundo que estava dentro e fizeram a limpa”, desabafa.
Por causa disso, Sandro contratou um segurança para permanecer na entrada do estabelecimento diariamente. “O nosso gasto aumenta, mas pelo menos nos sentimos um pouco mais seguros”.
Segundo o comerciante, ao menos uma vez por mês há algum crime registrado nas ruas ou quadras próximas. “Na semana passada, assaltaram o pessoal no ponto do ônibus. Levaram celular, bolsas e carteiras dos meus vizinhos”.
Facilidade pra bandidagem
Sandro reclama da precariedade da iluminação pública em uma esquina próxima. Segundo ele, um dos postes, que não funciona, se tornou quase um “esconderijo” para os criminosos. “Eles ficam ali só manjando a gente e, na primeira oportunidade, anunciam o assalto”.
O comerciante afirma que solicitou a substituição das lâmpadas de dois postes, para a prefeitura, em junho deste ano. “Vieram, arrumaram só um e o problema continuou”. Procurada, a prefeitura de Curitiba garantiu que vai mandar uma equipe até o local ainda nesta semana. Caso seja identificado algum problema, a promessa da administração municipal é que será resolvido de imediato.
*Sandro é um nome fictício. Por questões de segurança, o entrevistado preferiu não se identificar.
PM demora
A vítima dos dois assaltos alega que não vê uma viatura policial há meses. De acordo com Sandro, na última ocorrência, a PM foi acionada pelo telefone 190. O telefonema foi feito às 22h e os policiais só chegaram depois da meia-noite. “Me falaram que a demora é porque eles precisam patrulhar todos os bairros vizinhos”.
Fechou mesmo
A poucos quilômetros dali, estava o comércio de Wyldwagner Neris de Souza, de 26 anos. A loja de artigos para informática, instalada na Estrada de Santa Cândida, saiu do bairro. O empresário optou por encerrar as atividades no local depois que quatro homens invadiram o comércio, na madrugada de 20 de agosto, e deixaram um prejuízo superior a R$ 8 mil. A PM, solicitada por telefone, só apareceu depois de dois dias. À Tribuna, ele adiantou que, junto com o sócio, escolheria outro local para trabalhar. Nesta semana, a reportagem confirmou que o imóvel agora é ocupado por outras pessoas.
Patrulhamento reforçado
Em nota, a Polícia Militar contraria o depoimento de Sandro e alega que o 20º Batalhão realiza policiamento diuturno no Santa Cândida. Nas últimas semanas, a PM recebeu do governo do Estado novas viaturas, inclusive no bairro citado. A corporação cita que os mais de 2 mil alunos soldados em formação no Paraná estão iniciando o estágio operacional supervisionado nas ruas, o que reforça o patrulhamento. Segundo a PM, operações especiais do BOPE são realizadas pela região, em dias e horários específicos.
A orientação é que comerciantes e moradores repassem características de marginais e informações como placas de veículos à Policia Civil, a quem cabe investigar e identificar suspeitos. A corporação reforça a importância de vítimas registrarem boletins de ocorrência, o que embasa as ações policiais e se coloca à disposição da população pelo 190.