Mestre no xadrez

No último dia 26 de janeiro o Paraná conheceu o novo campeão absoluto de xadrez. Presidente do Clube de Xadrez de São José dos Pinhais, Willian Ferreira da Cruz, de apenas 23 anos, conquistou o título regional após permanecer invicto durante as sete partidas do campeonato realizado em Foz do Iguaçu. O tradicional torneio, que ocorre desde 1937, apenas consagrou 37 campeões durante esses 77 anos de competição.

O jogo, que já é reconhecido como esporte desde 2001, ajudou a abrir as portas e novas oportunidades surgiram para William. O enxadrista conta que desde 2002, quando o xadrez não passava de uma atividade estranha que ocupava o tempo do futebol, até hoje muita coisa mudou. “Quando tinha apenas dez anos conheci o xadrez nas aulas de educação física, mas na realidade preferia mesmo jogar futebol. Mas nas competições de futebol apenas ficava no banco e só em torneios de xadrez que conseguia medalhas”, lembra.

A partir desse momento, o interesse pelo xadrez apenas aumentou. Em plena adolescência, os bons resultados, acumulados ao longo dos torneios em que competiu pelo país, lhe renderam uma bolsa e muitas oportunidades. “Lembro que com 14 anos recebi a bolsa atleta do governo federal. Isso além de muitos lugares do país que apenas conheci por que estava muito envolvido em competições”, conta.

Atualmente com 2.225 pontos, William ocupa a terceira posição no ranking oficial paranaense e está na 75.º posição na classificação nacional. Mas o que ele mais está comemorando é que, após a conquista do campeonato paranaense, recebeu o título de Mestre Nacional de Xadrez, concedido apenas aos competidores que ultrapassem a marca de 2.200 pontos em campeonatos oficiais. Para ter uma ideia, uma partida oficial entre competidores do mesmo nível não rende mais que dez pontos para o vencedor. Enquanto para o perdedor precisa aguardar outra competição para recuperar os pontos perdidos.

Competições

Apenas no ano passado, William participou de sete torneios, o que dá cerca de 45 partidas disputadas. Isso sem contabilizar torneios mais rápidos, que estão fora do foco do campeão paranaense. “No xadrez temos três modalidades de partidas em função do tempo: relâmpago de 5 minutos, rápida de até 20 minutos e a convencional, que pode chegar até a durar duas horas”, explica. William explica que a categoria convencional é a mais profissional, porque o jogo de xadrez pode ser mais explorado. “Em partidas muito rápidas a gente consegue treinar bem. Porém, nesses casos o tempo acaba sendo muito determinante para o resultado. Isso faz com que às vezes a habilidade do jogador fique de lado, e o raciocínio rápido prevalece”, diz.

Para 2014, William pretende dobrar o número de partidas e competições em relação ao anos passado. O objetivo dele é aumentar os pontos de rating da Federação Internacional de Xadrez (Fide), que classificam o nível dos jogadores em todo o mundo, e elevar seu status de enxadrista.

Para o presidente da Federação Paranaense de Xadrez (Fexpar), Paulo Virgilio Rios Rodriguez, o xadrez é parecido com outros esportes. “Gosto de comparar o xadrez com o atletismo, em que o competidor deve sempre estar se aperfeiçoando. Vejo que o William possui essa característica em comum com os atletas. Ele busca novos desafios para estar sempre entre os melhores”, diz Rodriguez. Além do primeiro lugar, o Clube de Xadrez de São José dos Pinhais ainda obteve a nona e a 15.ª colocações, com os competidores Jefferson Lucas e Guilherme Biazotto.

Ferramenta de aprendizado

Para o presidente Fexpar, Paulo Virgilio Rios Rodriguez, o xadrez pode ser usado como uma ferramenta de aprendizado. “No xadrez, além de desenvolvermos raciocínio, estratégia e trabalharmos com a memória do jogador, também criamos uma situação em que ele deverá tomar decisões rápidas. É igual como acontece na vida”, diz Paulo.

Ao longo da semana, o Clube de Xadrez de São José dos Pinhais recebe aproximadamente 50 pessoas. Mas esse público é bem democrático, dividido entre homens, mulheres, idosos e crianças. “O legal do xadrez é que é um esporte para todos. Aqui podemos ver uma mulher de 50 anos competindo no mesmo nível com um garoto de 10 anos”, diz. O xadrez em São José dos Pinhais ainda está em evolução tanto nas categorias de base, com o Circuito Escolar com mais de 400 participantes, com alunos do primeiro ao quinto ano.

Mas a Rodriguez já comemora os resultados. “Aqui contamos muito com o apoio da prefeitura. Conseguimos estender nossas ações, que eram apenas junto à secretária de esporte e lazer, e hoje também temos um trabalho com a secretária da educação”, diz. A federação ainda pretende desenvolver um projeto com um viés mais social. “Estamos tentando inserir o xadrez como uma das ferramentas de resgate social de dependentes químicos ou alcoólatras. Acredito que com os bons resultados que estamos obtendo isso será possível”, conta.

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Samuel Bittencourt

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