Um casal de Almirante Tamandaré, que vive e trabalha às margens do Contorno Norte, está se acostumando com uma triste rotina. Nos últimos meses, o marceneiro Amauri Marcondes e a auxiliar de enfermagem Neuci Carvalho têm testemunhando acidentes automobilísticos violentos no trecho entre os quilômetros 7 e 15 da rodovia (PR-418). “Moramos e trabalhamos nesta área, por isso não temos como não escutarmos e nos envolvermos com as colisões”, diz Amauri.
Segundo o marceneiro, no último mês de março ocorreram seis batidas no trecho da estrada. O mais recente aconteceu na tarde do último sábado, quando um veículo Santana colidiu de frente comum caminhão Mercedes. O motorista do carro morreu na hora devido a múltiplas lesões em todo o corpo. “O barulho da batida foi muito forte. Eu estava trabalhando e, quando eu ouvi, já fui correndo para ver o que tinha acontecido e tentar ajudar, mas não deu tempo. O rapaz morreu nos meus braços, todo machucado. Foi horrível”, lembra Amauri.
Apesar de lidarem com situações extremas e cenas fortes, Amauri e Neuci, sempre que possível, procuram dar todo o suporte e o primeiro atendimento às vítimas. Por ter trabalhado com materiais elétricos, ele conta que recebeu orientações de primeiro socorros e por isso tenta oferecer ajuda após as colisões. “A primeira coisa que vem à cabeça é correr para tentar ajudar e tentamos dar o atendimento. Em seguida já chamamos o socorro, que, graças a Deus, sempre chega rápido”, conta Amauri. “Infelizmente, conseguimos salvar apenas alguns. Outros, ficamos sabendo que acabaram morrendo”, lamenta.
Para o marceneiro, o trecho onde ocorrem os acidentes está bem conservado e tem sinalização, porém peca pela falta de sistemas redutores de velocidade. “As colisões ocorrem nos períodos de menor movimento, que é de noite e nos finais de semana. E sempre tem abuso de velocidade envolvida. Então, acho que deviam colocar lombadas eletrônicas ou radares. Só assim, pra conseguir segurar a onda de quem gosta de correr”, conclui.
Trauma
Neuci Carvalho é esposa de Amauri e companheira fiel no resgate às vítimas. Ela é quem o acalma quando as fortes imagens dos acidentes insistem em permanecer vivas na memória. As m s lembranças acabam atrapalhando a rotina do marido que, ainda assim, não desiste de seguir ajudando. Ela ainda revela: nunca alguém salvo pelo casal retornou ao local para agradecer. “Ele não se importa com o reconhecimento. É o jeito dele, sempre quer ajudar. Mesmo ficando às vezes muito incomodado e sem conseguir voltar a trabalhar”.
Hoje, Neuci deixou o trabalho para cuidar das duas filhas pequenas. A família já pensou em se instalar definitivamente nos fundos da oficina, mas o medo da imprudência dos motoristas e os constantes incidentes na rodovia impedem a mudança. “Eu já insisti para mudarmos, mas o Amauri não quis. Fica complicado mesmo, morar à beira da estrada e cuidar de crianças pequenas”.
Por enquanto, nada de radares
A Secretaria de Infraestrutura e Logística (SEIL) informou, por meio de assessoria, que recebeu reclamações sobre abusos cometidos por motoristas no trecho citado na reportagem. No entanto, de acordo com a pasta, o Departamento de Estradas e Rodagens (DER/PR) aguarda que um projeto de lei complementar seja enviado à Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), para avaliar a instalação de novos radares nas rodovias estaduais.
Para tentar conter a imprudência, a SEIL disse que tem pedido à Polícia Rodoviária Estadual (PRE) que intensifique a fiscalização em pontos de risco. E afirmou repassar verba para que a PRE faça a compra de radares móveis. A secretaria ainda afirma que também prevê a instalação de uma passarela para pedestres na região. A proposta está em estudo e o projeto deve ficar pronto até o fim do ano. Porém, a construção não tem prazo para se iniciar, já que 2014 é um ano eleitoral.
Colaborou: Lucas de Vitta