O complexo, que abrigava o centro de distribuição de Curitiba, tem 20.252 metros quadrados, toma conta de um quarteirão e fica entre quatro ruas: além da Avenida Presidente Getúlio Vargas, também a Avenida Iguaçu, a Rua Rockfeller e a Rua João Negrão. Por ser uma região mais empresarial, pouca gente presencia o problema, mas alguns moradores procuraram a Tribuna do Paraná para dizer que a situação está cada vez pior.
Segundo quem vive na região, moradores de rua e, principalmente, usuários de drogas ocupam parte do complexo e trazem preocupação. “Tem uma parte do prédio, a que fica mais para os fundos, beirando à Avenida Iguaçu, que os seguranças nem vão mais, por orientação da própria empresa. Isso porque se tornou perigoso até pra eles, imagina pra gente, que passa na rua?”, denunciou outra moradora que passa todos os dias por ali.
Numa rápida passagem pelo local, a reportagem encontrou portões fechados e dois seguranças no interior do complexo. Por medo de possíveis represálias, eles não quiseram dar detalhes do que veem diariamente, mas confirmaram que o prédio abandonado tem sido motivo de preocupação até mesmo para quem foi contratado para cuidar da vigilância.
Lá dentro, porém, até a água teria sido cortada para os seguranças, que também trabalham com a falta de limpeza nos banheiros, por exemplo. Todo o maquinário e também tudo o que poderia ser furtado pelos bandidos foi retirado do local por uma empresa terceirizada que foi contratada pela Ambev, então, os seguranças ficam sempre sozinhos. “Tá tudo sujo, porque o lixo não é mais recolhido. Quando trabalhei, já era ruim, agora então, a situação está pior ainda. Tenho dó dos seguranças”, contou um funcionário de uma das empresas terceirizadas que prestou serviço à Ambev.
Drogas e sexo
O funcionário disse à reportagem que, tanto de dia como também à noite, ficam dois seguranças no complexo para cuidar de tudo. “Eles precisam lidar com péssimas condições de trabalho, sem contar na própria insegurança, porque a todo o momento alguém invade o local. Quando estávamos lá, só tinham luz, por exemplo, porque o bar que fica ao lado fornece. Se não, trabalhariam no escuro”.
A reportagem apurou que as invasões são diárias e que até alguns flagrantes já foram registrados pelos seguranças. A Polícia Militar (PM) informou que tem ido ao local quando é acionada, mas os bandidos conseguem sempre fugir. A intenção de quem invade o local, além de se abrigar para usar drogas e até mesmo fazer programas sexuais, quase sempre é para buscar por algum material que possa ser furtado como fios de cobre, alumínio ou alguma coisa que possa ser vendida.
“Rolo” na Justiça
A posse do terreno deve ser passada ao Governo do Paraná. O que tem, de certa forma, atrasado o processo é o contrato da própria Ambev com o Bar Brahma, que fica em uma área dentro do terreno. O bar, que foi instalado no local em 1999 justamente para ficar próximo à cervejaria Ambev, está ameaçado. Nos últimos meses, uma ordem de despejo, concedida pelo Tribunal de Justiça a pedido da própria Ambev, foi suspensa, mas o futuro do bar tradicional de Curitiba ainda não é certo. “Acontece que, indiferente de a cervejaria ter vendido o terreno ou não, existe um contrato de parceria da Ambev com o bar, que vai até 2027 e que permite usar o espaço”, explicou a advogada Marina Martynychen.
Segundo Marina, que representa o bar, a Ambev não procurou a empresa para discutir a questão. “Soubemos da situação quando chegou a notificação extrajudicial. A Ambev esvaziou a fábrica, tem que entregar o terreno para o Estado, mas nós estamos no local porque temos a posse. Foi um erro de planejamento da cervejaria, que concedeu a propriedade para dois nomes ao mesmo tempo”.
Enquanto nada é decidido, até mesmo o futuro dos 30 funcionários do bar é incerto. “Não foi feita nenhuma tentativa de acordo. Em 2012, quando a Ambev assinou com o governo do Paraná, ela não pensou. Temos o compromisso não só com os fornecedores, mas também com os 30 funcionários, que não podem ser demitidos de uma hora para a outra”, completou a advogada.
O que diz a Ambev?
A Tribuna do Paraná procurou a assessoria de imprensa da Ambev, que disse, em nota, que há cerca de dois anos tem tentado entregar o imóvel, que já possui destinação, como é publicamente conhecido. “Uma pequena parte do imóvel está ocupada, o que tem nos impedido de resolver a situação. Estamos prontos para entregar o imóvel e esperamos resolver essa questão o quanto antes”, finalizou a empresa.
O governo do Paraná informou que ainda espera pela transferência de posse do imóvel. Só assim que o futuro do espaço, que antes abrigava a Ambev, vai poder ser discutido e os projetos levados adiante. Até foi iniciado um projeto do que fazer com o prédio, mas tudo depende da liberação das pendências judiciais.
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