Quem vê a Tais sempre com blusas de mangas compridas, inclusive no calor, pode até estranhar. A jovem, de 23 anos, não tem o costume de mostrar as partes do corpo, nem sob temperaturas elevadas. Tudo isso por vergonha. Com dois anos de idade, ela foi vítima de um descuido de uma babá, que, sem saber, faria a vida dela mudar drasticamente de uma hora para outra. “A minha família veio do norte do Paraná. Para conseguir trabalhar, minha mãe contratou uma moça para cuidar de mim. Ela foi me dar banho e me colocou na banheira com água fervendo, que havia acabado de tirar do fogo, foi terrível. Queimou metade do meu corpo”, explica.

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Internada por 90 dias, Tais Pereira do Nascimento ficou entre a vida e a morte. As queimaduras atingiram 45% do corpo. A mãe havia sido informada pelos médicos que dificilmente a filha sobreviveria. Contrariando as expectativas, Tais conseguiu se recuperar, mas nunca deixou de ter as marcas nas costas, quadril e no braço direito. Sinais que explicam a timidez. “À praia eu não vou. Não me sinto bem e acho até melhor evitar. Algumas pessoas olham com cara feia. Quando eu estudava foi uma das piores fases, porque me olhavam demais e eu ficava magoada. No segundo ano eu parei de estudar”, revela.

Parkinson

Tais perdeu o emprego por não ter equilíbrio nas mãos. Foto: Antonio More

As mãos de Tais tremem durante todo o tempo. Em alguns momentos, a tremedeira é agravada. “Quando eu fico mais nervosa”, explica. O motivo, segundo os médicos que acompanharam o caso, é um Mal de Parkinson pós-traumático – doença neurológica crônica e progressiva que atinge o sistema nervoso central e compromete os movimentos.

A causa exata da doença ainda é desconhecida, mas pesquisadores sugerem que seja uma enfermidade genética hereditária, apesar de poder estar também relacionada a traumas. Segundo ela, os médicos afirmaram que a medicação só poderá ser utilizada quando chegar aos 35 anos. Enquanto isso, Tais precisa lidar com os movimentos involuntários.

Sem emprego

A tremedeira fez Tais perder o emprego. Completando um ano em uma empresa de componentes eletrônicos, foi demitida devido à falta de firmeza nas mãos. “Estava no setor de solda, como auxiliar de técnica em eletrônica. Como comecei a tremer demais, minha patroa achou melhor me dispensar. Não conseguia lidar com a função. Me batia demais e demorava mais que as outras pessoas para fazer minhas tarefas”, desabafa. Filha de uma doméstica e um mecânico, encontra dificuldades para bancar as despesas da filha, de apenas dois anos.

Cirurgia cara

Tais aguarda há dois anos cirurgia pelo SUS. Foto: Antonio More
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Por ter sido queimada quando estava em fase de crescimento, Tais amarga uma complicação nas costas. A pele está afundando e o problema pode se tornar irreversível. “O médico já me disse que se eu não operar, vai ficar tudo para dentro e sem chances de recuperar”.

O custo para o procedimento é de R$ 30 mil. Amigos fizeram um abaixo-assinado para tentar agilizar a cirurgia. Quase 500 assinaturas foram coletadas em pouco tempo, para tentar “fazer a fila do SUS andar mais rápido”. Há dois anos na espera, Tais não perdeu a esperança de ser chamada e poder abrir mão da vergonha que sente do corpo.

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Ela já conseguiu uma clínica para fazer a cirurgia plástica reparadora e um doador que vai bancar metade do valor do procedimento. Mas ainda faltam R$ 15 mil. “Decidi abrir uma campanha no vakinha (site que permite a contribuição em dinheiro por amigos e desconhecidos) e comecei a torcer. Fiz isso há pouco tempo, e espero que consiga o dinheiro suficiente. Qualquer contribuição é de grande ajuda”, diz, esperançosa.

Prioridade

A Secretaria da Saúde de Curitiba alega que a entrada de Tais na fila do SUS aconteceu no dia 13 de maio de 2016 e não havia a solicitação de prioridade no procedimento –  o que deveria ter sido requisitado pelo município de Piraquara, onde ela reside. Após ser procurada pela Tribuna, a Prefeitura de Piraquara alegou que o protocolo da paciente foi priorizado no sistema às 16h35 de ontem (1º de setembro). Apesar disso, não há prazo para que a cirurgia seja feita. Também consultado pela reportagem, o Hospital Evangélico de Curitiba, responsável pelo procedimento, não se pronunciou sobre o caso.

Quer ajudar?

Telefone: (41) 9244-0565 – Tais
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