“Professor Pardal” de Curitiba já flagrou sinais misteriosos com suas criações!

Foto: Marco Charneski.

Pelas prateleiras, engenhocas malucas cujas funções só ele conhece. Num canto da sala, medidores de rádio frequência e cabos elétricos para todos os tipos de aparelhos dividem espaço com centenas de ferramentas. Entre antenas parabólicas, painéis solares e birutas de telhado, ele observa o céu com o rosto colado à luneta gigante que ele próprio montou. Se ao começar a ler essa reportagem você se lembrou do Doutor Brown – interpretado por Christopher Lloyd no clássico “De Volta Para o Futuro” – saiba que passou bem perto. Para nossa sorte, no entanto, o personagem desta matéria não mora na Califórnia, mas na Rua Rosa Saporski, em Curitiba. Conheça Claiton Fogiatto, que do alto dos 73 anos de idade, esbanja criatividade e se orgulha da fama de “Professor Pardal do Pilarzinho”.

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Basta andar pela calçada para notar que, naquele ponto da quadra, há algo diferente. Pedrinhas coloridas, esculturas de cogumelos e um enorme triângulo maçônico – logo no portão de entrada – já renderam à residência uma fama quase sobrenatural. Pelo menos é o que afirma Mara Fogiatto, esposa de Claiton. “Tinha um menininho, vizinho nosso aqui, que sempre que passava ali na frente e dizia que queria entrar na ‘casa do bruxo’. Muita gente para no portão e fica olhando aqui pra dentro porque realmente chama a atenção. Isso quando o próprio ônibus da Linha Turismo não para para as pessoas fotografarem”, afirma.

Foto: Marco Charneski.
Foto: Marco Charneski.

De fato, já do portão de entrada, as excêntricas invenções de Claiton despertam a curiosidade de quem passa em frente à casa. Entre as mais divertidas, o catalisador de água de chuva em forma de “minion” se destaca. Porta adentro, mais surpresas: um medidor de umidade (feito por ele mesmo), uma luneta gigante e um exército de miniaturas. Pelas paredes, prateleiras de carrinhos, brinquedos antigos e itens de coleção. No teto, uma tropa de aviões em miniatura obriga quem passa a baixar a cabeça. “Cada objeto tem uma história diferente. Alguns eu ganhei, outros eu achei. Alguns eu encontrei no lixo. É impressionante ver o que as pessoas jogam fora”, desabafa.

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O gosto por “cacarecos” começou cedo. Desde criança, segundo o próprio Claiton, sua verdadeira adoração era montar e desmontar aparelhos para ver como eram por dentro. Curitibano, filho de descendentes italianos, o técnico aposentado se criou no mesmo bairro onde mora até hoje. Fã de telecomunicações e alienígenas, ele transformou o telhado da própria casa numa verdadeira torre de comunicação espacial. “Já captei diversos sinais misteriosos por meio dessas antenas e já vi objetos não identificados sobrevoando a cidade. Só lamento o fato de Curitiba não ter um céu mais limpo. Daria para ver bem melhor”, desabafa.

Com uma coleção incontável de objetos, Claiton afirma não ter ideia – em números – do valor ou da quantidade de seus bens. Segundo Mara, a esposa, a paixão por colecionar coisas sempre existiu, porém ficou mais evidente depois que Claiton se aposentou. “Já tentei convencê-lo a doar parte das coisas ou ao menos reordenar os objetos, mas não adianta. Ele tem muito apego e se vê algo no lixo que ainda possa ter alguma utilidade, ele traz pra casa”, afirma.

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“Dominada” pelas coleções, a casa dos Fogiatto exige cuidado de quem por lá circula, afinal, por todos os cantos “se periga” esbarrar em algo valioso para o aposentado. Entre os itens, a réplica de um navio francês em miniatura e – pasme – um mascote do próprio “Lampadinha”, assistente do Professor Pardal, da Disney, são seus prediletos. Ao acompanhá-lo, porém, pelos corredores da casa, não é difícil notar o apreço que tem por cada um de seus artigos, incluindo um busto do mitológico monstro “Minotauro” e uma enorme maquete construída por ele próprio.

Acumulador ou colecionador?

Apesar de reconhecer a “extravagância”, Claiton não se considera acumulador compulsivo. “Eu simplesmente ‘reaproveito’ as coisas e invento outras, novas, a partir daquilo que os outros jogam fora. As pessoas descartam tudo muito fácil hoje em dia”, desabafa.

Foto: Marco Charneski.
Foto: Marco Charneski.

Mais que um “local inusitado”, a casa dos Fogiatto é um convite à reflexão sobre o consumo. “Fico perplexo diante da falta de responsabilidade de algumas pessoas ao jogarem as coisas fora. Além de descartarem itens com pleno potencial de uso, muitos nem cuidam da própria segurança”, afirma ao relatar a ocasião na qual recuperou um computador no qual todas as informações do antigo usuário estavam salvas. “Fui até a casa dele, levei o HD de volta e ‘dei um toque’, afinal, uma pessoa mal intencionada poderia ter utilizado aqueles dados para praticar algum crime”, diz.

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“Bom vivant”, Claiton não quer briga com ninguém e enxerga em seus objetos não somente uma paixão, mas a oportunidade de desenvolver, cada vez mais, uma de suas principais características: a criatividade. Sem pretensão de parar tão cedo, ele desenvolve novos projetos. O mais novo, a “Ponte Vagão”, já foi impresso e está pronto para ser apresentado. “O projeto original foi feito na Índia. Trata-se de um vagão de trem que faz vez de ponte. Se lá deu certo, porque aqui não daria?”, questiona. Convicto, ele defende a ideia: “ainda levo pro Greca”, brinca.

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