Quem acha que a grama do vizinho é sempre mais verde, precisa visitar a Rua Helena Brusch Sartori, no Pilarzinho. Lá, a comparação da vizinhança não é a grama, mas o asfalto. Com cerca de 150 metros e 13 casas, a rua é a única que nunca recebeu asfalto na região. Ano após ano, a história é sempre a mesma. Quando esquenta, sobe poeira; quando chove, forma lama. E assim a situação se arrasta há mais de 20 anos.
Cansado de buscar uma solução junto à prefeitura, o aposentado Nelson Bazani, 83 anos, já desistiu de reclamar. “Já solicitei asfalto tantas vezes junto à prefeitura que me cansei de esquentar a cabeça. Ninguém vem resolver nossa situação”, lamenta. Nelson não é o único cuja paciência já se foi. Com a locomoção comprometida, o aposentado Francisco Norberto, 58, que mora algumas casas à frente, sofre diariamente para chegar de muletas até a esquina, onde existe um ponto de ônibus. “É muito difícil. Quando chove, faz muito buraco, e andar pela rua é praticamente impossível”, afirma.
Se as reclamações se limitassem às conversas de portão, a situação ainda seria grave. O problema é que vários pedidos já foram encaminhados formalmente aos órgãos públicos. Ao todo, já foram realizados mais de 10 abaixo-assinados e pelo menos três solicitações assinadas por vereadores. Numa das proposições encaminhadas à prefeitura em 2015, o aspecto da rua é colocado como “lastimável”. De acordo com os moradores, há cerca de três anos uma equipe iniciou a preparação da via para os reparos solicitados, porém, o serviço foi interrompido em alguns dias e depois nada mais foi feito. Com muitas promessas e nenhuma resposta, os vizinhos já não têm mais esperanças, e continuam sofrendo as consequências da falta de estrutura da rua.
A dona de casa Fabrizia de Fátima, 31, mora na Helena Brusch Sartori desde que nasceu. Para ela, a poeira já faz parte da rotina. “É poeira nos móveis, nos carros, nas roupas do varal. Tem que limpar todo o dia”, reclama. Ela conta que o tratamento antipó foi colocado algumas vezes sobre o chão, mas a medida não resolveu o problema. “Depois de um tempo volta tudo, e nos dias quentes fica difícil até de respirar”, afirma.
Fora do mapa
Infelizmente não é só a sujeira que tem causado transtornos. Quando os buracos viram sinônimo de perigo aos moradores, a situação fica mais grave. Angela Poll, 81, mora no fim da rua. A aposentada, que precisa fazer caminhadas diariamente por recomendação médica, teve de interromper a atividade após sofrer uma queda em frente à sua casa. “Quando vi, já estava no chão. Os vizinhos vieram me ajudar a levantar. Tive uma lesão grave no quadril e precisei operar. Depois disso, nunca mais saí para caminhar sozinha”, conta.
Longe do fim
Em nota, a Prefeitura de Curitiba informou que não pode realizar intervenções na rua. O motivo seria a “inexistência” da via, que teria sido construída em um loteamento não regularizado. De acordo com a administração municipal, “primeiro é preciso consultar a situação na Cohab, para ver a regularização dos lotes. Tal regularização define uma doação de parte destes loteamentos para a rua passar. Somente após este processo, a Prefeitura pode programar intervenções na via”.
Interesse
De acordo com a Cohab, a família proprietária do loteamento é responsável pelo processo de regularização fundiária da área, sem o qual nada pode ser feito. Curiosamente, o nome sob o qual o terreno está registrado é o de Rosalina Brusch – mesmo sobrenome que batiza a rua.
De acordo com a Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), “cabe aos proprietários tramitar o processo de regularização fundiária da área, por meio de projeto urbanístico embasado na legislação vigente. A participação da Cohab ocorre a partir do momento que for constatado o interesse em habitação social”.