Quem é funcionário sabe. Com a chegada das celebrações de fim de ano, as confraternizações institucionais – as famosas “festas de firma” – são aguardadas ansiosamente pelos colaboradores. A descontração entre colegas, acompanhada de comida e bebida fartas, fazem da ocasião o momento ideal para refletir e contabilizar os sucessos do ano. Assim como em qualquer ambiente corporativo, na Divisão de Infraestrutura da Polícia Civil, os preparativos para o tradicional jantar de Natal – organizado anualmente pelos próprios policiais da divisão – estavam a todo o vapor.
Enquanto isso, no Parolin, Laís de Oliveira, 21, observava angustiada o desespero da mãe, Raquel, 50. Sem fogão para cozinhar e nem geladeira para armazenar comida, as novas dificuldades não se restringiriam à ceia de Natal – frustravam também a expectativa de um próspero ano novo. Na casa simples, localizada na Rua Porthos Velozo, a situação chegava a extremos. Desempregada, Raquel lutava para pagar as contas e dividia o tempo entre o serviço doméstico e os cuidados com o filho Anthony, 4. Portador de autismo, o menino exige atenção redobrada. Até poucos meses, a família contava com a ajuda de uma amiga de Raquel que durante um tempo, morou na casa e contribuiu com a compra de alguns eletrodomésticos. O Problema começou quando a mulher decidiu se mudar e levar consigo os bens que tinha comprado, deixando Laís, Raquel e Anthony sem os aparelhos – necessários em qualquer casa.
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Foi então que mãe e filha tiveram a ideia de escrever uma carta, do Anthony, para o Papai Noel dos Correios. Nas linhas da folha de caderno, o resumo simples: “uma moça que mora com a gente comprou uma televisão, um fogão e uma geladeira, já que os nossos estavam muito velhos. Essa moça falou que vai embora e vai levar tudo que ela comprou”. No dia de depositar a carta, a incerteza. “Fui aos Correios sem nenhuma esperança. Não imaginava que nosso pedido seria atendido. Minha mãe foi a única que teve fé e acreditou que alguém leria nossa cartinha”, lembra.
Ao mesmo tempo em que a família Oliveira depositava as esperanças numa folha de caderno, uma ideia nasceu no coração da Divisão de Infraestrutura da Polícia Civil: pegar e atender uma cartinha endereçada ao Papai Noel, numa das unidades dos Correios. O policial Alexandre Oliveira foi destacado para a missão. “Peguei a primeira carta que apareceu. A história do Anthony comoveu a equipe e, de repente, todos viramos ‘papais noéis’ ”, conta.
Sob o comando do delegado Benedito Gonçalves Neto – responsável pelo departamento – e com apoio do Programa do Voluntariado Paranaense (Provopar) e da Secretaria da Família e Desenvolvimento Social do Estado do Paraná, o pedido dos Oliveira foi atendido na forma de uma grande surpresa, na manhã da última quarta-feira (21). “Estávamos em casa fazendo o serviço quando ouvimos o barulho das viaturas do lado de fora. Parecia perseguição policial na rua. Quando abrimos o portão pra ver o que estava acontecendo o susto virou festa”, conta Laís.
Sob os olhares surpresos da vizinhança, cerca de 20 policiais descarregaram 4 viaturas cheias de presentes endereçados à Raquel, Laís e Anthony. Entre os itens arrecadados, brinquedos, alimentos, galões de água, botijões de gás e eletrodomésticos – incluindo fogão e geladeira novos. “Foi emocionante. A emoção deles quando começamos a descarregar as viaturas foi o nosso presente”, afirmou Alexandre.
Para o delegado Benedito Gonçalves Neto, chefe da Divisão, nessa ação, o coração falou mais alto. “Muitos de nós somos pais de família e quando o cabeça falta, o resto perece. Fomos enriquecidos por fazer o bem sem olhar a quem e agora, além da festa do nosso departamento, também nos alegramos por saber que a família Oliveira também vai comemorar as festas”, finaliza.