Parolin

Casa nova

Apenas dois dias. Esse é o tempo necessário para erguer uma casa emergencial em uma comunidade carente. Uma moradia de madeira, com 18 metros quadrados, que oferece mais conforto para as famílias beneficiadas e resgata a autoestima e a esperança de quem convive diariamente com as muitas dificuldades impostas pela situação de extrema pobreza.

Quem realiza este trabalho com recursos limitados, mas com muita boa vontade, é a ONG Teto, que surgiu no Chile em 1997 e chegou ao Brasil há 10 anos. Está presente hoje em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Paraná. Na região de Curitiba a Teto concentra suas ações em comunidades dos bairros Parolin, Caximba, Santa Quitéria (Portelinha) e no Jardim Independência, em São José dos Pinhais. No total, cerca de 80 casas já foram construídas no Estado, contando com as mais recentes, erguidas no último fim de semana: entre sábado (30) e domingo (1º), voluntários construíram 20 casas – 13 no Parolin e sete em São José dos Pinhais.

Um dos favorecidos nesta etapa foi o pedreiro desempregado Jeferson dos Santos, 30 anos. “Eles chegaram na hora certa, minha casa estava em uma situação difícil, desabando. E com o desemprego, eu não tinha como arrumar nada. Agora, com a casa nova a sensação é de alegria. A gente teve fé e o resultado é esse, o que me dá mais esperança pra melhorar e conseguir um emprego. Os voluntários poderiam ter tirado esse fim de semana frio pra ficar com a família, mas estão aqui trabalhando. Fico sem palavras”, desabafa o morador do Parolin, que dividirá a casa nova com sua esposa e filha.

Voluntária do interior

Foto: Átila Alberti
Jeferson: “Eles chegaram na hora certa.” Foto: Átila Alberti
Foto
Daniela já construiu casas em São Paulo e Maringá.

Uma das voluntárias que ajudou a casa de Jeferson a tomar forma foi a advogada Daniela Siquerolo, 23, que veio do interior do Paraná especialmente para trabalhar nas construções. “Sou voluntária da Teto há alguns anos, descobri a ONG com amigos de São Paulo, em 2011. Já construí casas lá e agora vim de Maringá só para participar desta ação, em que sou líder pela primeira vez. E a sensação é gratificante, não tem outra palavra para definir”, diz.

Daniela conta que entre 10 e 12 voluntários atuam na construção de cada moradia, sendo dois deles os líderes, pessoas com mais experiência, mas sem necessariamente conhecimento técnico em engenharia ou arquitetura. Em uma jornada puxada, que começa por volta das 6h e só que termina depois das 18h, eles instalam os pilares que sustentam a casa e a retiram no nível do solo (evitando umidade e entrada de bichos), colocam o piso e as paredes de madeira pré-moldada e, por último, o telhado, trabalho rápido que ao final, proporciona uma mudança significativa na vida das famílias escolhidas.

Histórias que se cruzam

Não bastasse a emoção que é poder dar uma casa nova para uma pessoa necessitada, os voluntários ainda se deparam com situações inesperadas. Durante as entrevistas que antecedem as construções, o funcionário público João Bracarense, 20, teve uma grata surpresa.

Foto: Átila Alberti
Seu Joaquim foi um dos beneficiados pela ONG Teto. Foto: Átila Alberti

“Conversando com o outro João, também voluntário, descobrimos que o “Seu Joaquim” que recebeu uma das casas, foi colega de meu bisavô na lavoura de café, em Paranavaí, há mais de 50 anos. Ele lembrou do meu bisavô e para mim foi emocionante. Acredito que não existe coincidência, era eu quem precisava estar aqui, para poder ajudá-lo”, confidencia João.

Como funciona o trabalho?

Foto: Átila Alberti
ONG vive de doações empresariais e dos voluntários. Foto: Átila Alberti

A diretora da ONG Teto no Paraná, Aline Tavares, 26, explica que o processo que resulta na construção das casas começa meses antes, com a definição das comunidades e a escolha das famílias atendidas, decisões que são tomadas com base em estudos socioeconômicos e na presença dos voluntários na região.
Dias antes de a casa ser erguida o morador se responsabiliza pela desmontagem da casa antiga e pela limpeza do terreno. No dia, ele ainda ajuda na construção. Além disto, outros pré-requisitos são: ser maior de 18 anos, não estar usando drogas durante o processo e participar das reuniões.

“Montamos uma equipe de trabalho e avaliamos as demandas da comunidade, para além das casas, realizarmos com eles outras ações, como a construção de fossas ecológicas, bibliotecas e hortas comunitárias, por exemplo. Tudo isto é feito com o trabalho de voluntários e recursos vindos de empresas e pessoas. Também temos planos de sócios: o “Amigos do Teto” e a “Empresa Amiga do Teto”, que recebem doações mensais dos voluntários e a arrecadação anual, feita nas ruas dos estados onde atuamos”, esclarece.

Quanto custa?

– R$ 6,5 mil é o valor necessário para construir uma casa, quando a doação é feita por famílias e voluntários.
– R$ 15 mil é o valor arrecadado de empresas parceiras por residência. Custo envolve ações de marketing.
– R$ 440 mil foi o valor arrecadado nacionalmente na última coleta feita pela ONG, em abril de 2016.
– Além das casas, esses recursos também custeiam despesas dos voluntários e demais ações sociais da ONG.
– Para doar ou se candidatar como voluntário: http://www.techo.org/paises/brasil/ ou info.pr@teto.org.br

Leia mais sobre Parolin

Sobre o autor

Paula Weidlich

(41) 9683-9504