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Tela de criação

Escrito por Magaléa Mazziotti

A sabedoria acumulada nas três décadas vivendo e se engajando em diferentes ações na Vila Salgueiro, no Sítio Cercado, foi o que ajudou o aposentado João Sotto Navarro, 66 anos, a descobrir o caminho para afastar o problema da pichação do lugar onde mora. O convidativo espaço para esse tipo de ação, um muro longo ao redor da casa entre as esquinas das ruas Plutão e David Towns, por anos a fio foi alvo do vandalismo até que Navarro convocou um jovem que passava pela rua a usar o seu muro como “tela de criação”. Resultado: há quase dois meses o espaço não recebeu novos rabiscos de spray.

Navarro recorda que a situação do muro foi motivo de várias discussões familiares. “Chegou um momento que cansei de pintar sempre, porque era para passar raiva, já que por vezes o muro tornava a ser pichado em menos de um dia de intervalo. Mas aí eu tinha que aguentar as cobranças em casa para pintar novamente”, recorda.

O morador conta que muito antes de encontrar o responsável pela obra que baniu as pichações do muro, Navarro já vinha amadurecendo o projeto. “Há respeito velado pelo desenho do outro”, explica. O jovem, que assina o trabalho com as inicias J.M., prometeu retornar ao endereço para fazer novo desenhos mais elaborados. “Ele trabalha para comprar tintas e fazer a sua arte. Disse que gastou quase R$ 200 e quando o traçado estiver melhor, fará um pássaro no lado de dentro do muro”, revelou a esposa de Navarro, Luiza.

Problema crônico

O morador e a esposa dizem que deixaram de fazer diversas melhorias na casa por conta das despesas com o muro. “Vai pelo menos uma lata grande de tinta para apagar essas coisas”, afirma Navarro. Luiza faz planos de consertar o telhado com a economia.

E mesmo com esse problema crônico da pichação, Navarro fez da sua presença na Vila Salgueiro um meio de melhorar o local onde vive. Contribuiu para a construção de duas igrejas e para o funcionamento da unidade de saúde. Por longo período, o agendamento do atendimento odontológico foi realizado na casa onde mora. “Hoje não quero mais integrar a diretoria da associação de moradores, mas estou sempre disposto a participar das ações em prol da nossa comunidade”, afirma.

Sobre o autor

Magaléa Mazziotti

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