“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. Esse ditado explica exatamente o que aconteceu com a cratera que se abriu no mirante ao fim da Rua Elvira Harkot Ramina – a mesma em que fica o “Suite Vollard”, o prédio que gira – no Mossunguê. Hoje, no buraco que começou do tamanho de uma pizza, cabe tranquilamente um carro. Depois de três anos sem soluções, moradores dos prédios vizinhos temem o desastre.
É fim de tarde. No parapeito do mirante que dá vista aos bairros Bigorrilho e Água Verde, ao fim da rua, jovens se apoiam para jogar conversa fora e fumar. Despreocupadas, senhoras passeiam com crianças e cachorros bem pertinho da área isolada com faixas e uma pequena barreira de concreto que foram colocadas no local há quase três anos. Quem mora na região já sabe do perigo mas, mesmo assim, curiosos que passam pelo local se arriscam para observar mais de perto a enorme cratera onde até um poste já caiu.
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Além de complicar o trânsito, o rombo representa perigo constante para quem trafega por ali a pé, já que em redor não existe nenhum aviso ou alerta sobre os riscos de circular pelo local. Quem conta é o Ronaldo Barra, morador de um dos prédios vizinhos ao mirante. “Imagine se uma criança se solta da mãe e sai correndo ali. Ou mesmo um cachorrinho que se solte da coleira. Não tem nenhuma placa alertando e as pessoas só se dão conta do tamanho da rachadura quando passam por lá”, reclama.
Além dos perigos para quem anda a pé, o tráfego de veículos também fica prejudicado por conta do buraco. “Pra quem entra na rua por engano ou precisa fazer a volta, é um transtorno para manobrar o carro. Isso sem falar nos caminhões, que precisam entrar de ré. Se um dia algum edifício aqui do fim da rua precisar dos bombeiros vai ficar sem socorro porque não tem como chegar”, revela Cristina Lacerda, síndica de um prédio próximo ao local.
Gigante
O buraco assusta. Com aproximadamente quatro metros de diâmetro e cerca de 30 metros de profundidade (segundo o engenheiro civil especialista em urbanismo – Luiz Calhau), a rachadura é tão grande que não dá pra ver o fundo. Por baixo e pelos lados, tubulações por onde passa a água da rua ficaram expostas e, dali para baixo, o vazio. De pé somente por um pilar de aço que sustenta a estrutura, o mirante está situado sobre um bosque que margeia a Rua Deputado Heitor Alencar Furtado por onde passa a canaleta do ônibus articulado correndo risco de desmoronar a qualquer momento e pondo em risco não somente os prédios da quadra, mas também as pessoas e veículos que trafegam na rápida.
Cuidado!
De acordo com o engenheiro civil especialista em urbanismo e diretor do Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná (Senge), Luiz Calhau, a necessidade de consertar o “buraco do mirante” é urgente. “É extremamente perigoso que essa estrutura fique desse jeito. Os únicos pilares que ainda resistem estão corroídos e danificados.
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Qualquer chuva mais forte, vento ou temporal podem afetar ainda mais essas estruturas fazendo não só com que a própria área desmorone mas prejudicando a fundação dos prédios vizinhos”, explicou. Segundo Calhau, a cratera é resultado de dois fatores: primeiro os processos erosivos, resultantes da ação das chuvas e, depois, a circulação de veículos de carga, como caminhões. “Nesse caso não se trata de um problema de mobilidade, mas estrutural. O primeiro buraco foi negligenciado e, por isso, a situação chegou nesse ponto”, afirma.
A vizinhança já cobrou soluções, porém, nada foi feito. “Logo que o buraco abriu, ainda na gestão Fruet, encaminhamos um ofício à Prefeitura. Além disso, inúmeros protocolos foram registrados por moradores no 156 e diversas reclamações encaminhadas à Defesa Civil. Até agora ninguém fez nada”, afirma Cristina.
Além do perigo que a própria cratera representa a possibilidade de desmoronamento de toda a estrutura é o que torna o tráfego pelo local ainda mais arriscado. Para o engenheiro, Luiz Calhau, a tragédia está anunciada: “Certamente essa parte da rua vai entrar em colapso se isso não for consertado logo. Não temos como falar num prazo, ou seja, o mirante pode cair a qualquer momento”, alertou.
“Cada um por si”
Enquanto nada se resolve vale o lema “cada um por si”, já que muitos insistem em ultrapassar a barreira de isolamento da área. “Sempre vejo gente pulando o bloqueio e fico apavorada porque o pavimento ali virou uma casquinha”, afirma a analista de sistemas, Olga Honnicke, 48, que passeia todos os dias pelo local com seus cachorros. “Eu não me arrisco. Quando saio com eles só desço até a barreira. Tenho muito medo de passar por ali e sofrer algum tipo de acidente”, afirma.
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A Tribuna procurou a Secretaria Municipal de Obras Públicas da Prefeitura, que, por meio de nota afirmou que já recebeu do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) o projeto para recomposição da parte do mirante que cedeu. Segundo o órgão “o edital de licitação da obra já está sendo elaborado”. O jeito é sentar para esperar, mas sem apreciar a vista.