Por: Danielle Peplov
Moradores do bairro Mercês, em Curitiba, se uniram em busca de proteção. Cansados de roubos e assaltos eles criaram um grupo no whatsapp para tentar alertar e prevenir casos de violência urbana frequentes no bairro.
O grupo “Mercês Unida”, formado a pouco mais de três meses, já conta com 75 pessoas. Desde então, qualquer movimentação estranha, seja de pessoas ou de carros, é alertada aos participantes. “O objetivo é provocar nos moradores a preocupação com o coletivo. Se cada um fizer a sua parte, observando a frente da sua casa e cuidando a casa do vizinho, acho sim que ficaremos mais seguros”, contou Ângela Lima, moradora responsável pela iniciativa.
O bairro Mercês tem um dos metros quadrados mais valorizados pelo mercado imobiliário na capital. A região já foi sinônimo de tranquilidade, hoje não é mais. Próximo à escadaria, ponto conhecido no bairro, os vizinhos se reuniram para contar a Tribuna os casos de assaltos e roubos que sofreram. Segundo eles, toda semana alguém é vitima.
“Aqui em casa eles entraram no dia 28 de setembro. Uma pessoa estava saindo da minha casa para ir embora quando eles chegaram. Eram três homens armados e mascarados. Eles a trouxeram pra dentro da casa, puxando o cabelo, empurrando, foram muito violentos. Estávamos em seis pessoas dentro de casa. Eles fizeram um verdadeiro terror, colocaram medo, perguntavam a todo tempo onde estava o cofre, queriam dinheiro, joias. Foram os 30 minutos mais terríveis das nossas vidas. Depois de carregar um dos carros que estavam na garagem com televisores, dinheiro e outros objetos, eles nos trancaram no banheiro e fugiram”. A proprietária da casa, que não quis se identificar com medo de retaliações, afirmou que hoje a família vive um estado constante de medo e insegurança. A rotina, claro, mudou e prudência virou palavra de ordem. “Agora qualquer entrada ou saída é sempre vigiada por alguém que está aqui dentro, isso mudou tudo”, afirmou.
As histórias se repetem
Outra vítima contou ao jornal que chegava em casa com os quatro filhos no carro quando foi abordada por três homens. “Eu não vi de que lugar eles vieram, era 17h, tinha várias pessoas na rua. Fiquei em pânico. As crianças saíram do carro gritando, correndo. Juntou muita gente na rua pra ver o que estava acontecendo, mas ninguém pode fazer nada. Eles levaram meu carro com tudo, bolsa, documentos, chaves de casa, tudo”. A mulher, nascida e criada no bairro, contou que a mãe mora há 44 anos nas Mercês e que a região nunca foi assim, tanto que ela optou após se casar continuar morando por ali. “Morei a vida toda aqui, era tranquilo. Agora essa situação de assaltos praticamente todos os dias. Não quero mudar, quero que o bairro melhore e volte a ser o que era”, afirmou.
Para tentar inibir a ação dos bandidos e mostrar que todos estão alerta, o “Mercês Unida” já colocou placas em todas as casas, que ficam no perímetro de quatro ruas. A placa do “Vizinho Solidário” é mais que somente um aviso é também uma iniciativa que vem dando certo. “De dentro de casa os moradores estão ligados, toda movimentação estranha é fotografada e postada no grupo. Inclusive já temos fotos de suspeitos e carros que serão investigados. Estamos convocando a todos, quanto mais pessoas no grupo vigiando maior será nossa segurança”, disse Ângela.
Descrição dos suspeitos
Em comum entre os casos os moradores já perceberam a vestimenta dos bandidos: blusa de moletom com toca, boné, calça jeans e mochila nas costas e a idade entre 25 e 30 anos. Os moradores reclamam que policiais não fazem ronda no bairro e que a presença policial é apenas quando um caso de violência acontece. “Os ladrões têm a certeza da impunidade e por isso agem com tanta frequência. Se for preso já tem conhecimento absoluto das leis e continuam cometendo os mesmos crimes quando saem da prisão. Ou seja, quando a polícia consegue prender, o judiciário afrouxa e coloca na rua. Na verdade mesmo, quem está preso somos nós”, afirmou o dono de um comércio assaltado quatro vezes.
Domingo tenso
Funcionária pública e moradora do bairro há 40 anos, uma mulher também passou momentos de tensão em uma tarde de domingo do mês de setembro. ‘Estava saindo da casa da minha mãe. Entrei no carro e fui fechar a porta e percebi que alguém segurou. Quando olhei tinha um homem armado em cada porta do carro. Saí do veículo e eles levaram o carro. A sensação que fica é de invasão, eu me senti invadida, vulnerável. Fica também o trauma, porque você pensa que poderia ter morrido, porque a vida pra eles não tem valor. Essa ideia do grupo vem dando certo, temos que nos unir, temos que enfrentar, não podemos desistir‘, finalizou. Depois do assalto a servidora conta que agora vai para a casa da mãe a pé e que o dia-a-dia mudou completamente, a insegurança é uma sombra a cada vez que ela sai de casa.