Preservar é preciso, mas sobreviver se faz necessário. Na Colônia de Pescadores de Shangri-lá, em Pontal do Paraná, ao mesmo tempo em que se percebe o bom conhecimento sobre a legislação que regulamenta a atividade pesqueira na costa brasileira, nota-se um certo desdém de quem sente a sua realidade ser ignorada pelos autores de tais restrições.
O camarão sete-barbas é um dos grandes motivos de descontentamento com a pesca autorizada somente a partir de 1,5 milha (2,4 quilômetros) da costa. “Não existe camarão nessa distância. Ele fica mais próximo da costa ou em mar aberto, mas daí fica inviável para a pesca artesanal”, explica o presidente da Colônia de Pescadores de Shangri-lá e pescador há quase 50 anos, Rubens Marcelino da Veiga, o Rubinho.
Ele conta que um meio termo seria liberar parte dessa primeira faixa de costa para a pesca com rede, proibindo o arrastão que pega os camarões em desenvolvimento. “Da forma como é hoje, o litoral do Paraná acaba servindo de berçário desses camarões que são pescados pela pesca industrial de Itajaí (SC)”, avalia.
Nas bancas de venda do Mercado de Peixe de Shangri-lá é fácil perceber que o recurso é utilizado pela maioria dos pescadores. “O camarão sete-barbas é um dos produtos mais procurados na temporada”, atesta o pescador João Donato, também com mais de meio século como profissional da pesca.
Outro sinal de que a fiscalização é frágil ocorreu durante a entrevista. Enquanto os Caçadores de Notícias conversavam com os pescadores, uma embarcação chegou trazendo uma raia manteiga que veio carregada no arrastão. O animal estava vivo, mas não havia nenhuma autoridade para garantir que ele seria devolvido ao mar.
Preservação
O engenheiro de pesca da Emater em Paranaguá, Astrogildo Melo, a experiência das colônias de pescadores começam a fazer eco no governo federal, especialmente no Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e da Pesca. “Entender a dinâmica das espécies marítimas de acordo com as diferenças da costa marítima de cada estado, bem como observar com atenção a vivência e o conhecimento armazenado pelas colônias de pescadores já têm sido realidade nesses ministérios”, informou.
Camarão branco e turismo
Ao contrário do sete-barbas, o camarão branco, principalmente na safra deste ano, deixa os pescadores paranaenses animados. “O tempo foi perfeito para não destruir as larvas. Devemos ter em março uma super produção”, prevê Rubinho.
Quanto a essa reivindicação, a única promessa de ampliação diz respeito à prefeitura de Pontal do Paraná, que, de acordo com a assessoria de imprensa, tem um plano para 2014 de criar um grande mercado de peixe para o município.