Morretes não é só barreado. Para comprovar isso, basta prestar atenção nas barracas que ficam na estrada de acesso à cidade litorânea. A abundância é de maracujás, plantados e colhidos na zona rural do próprio município. E a fruta ainda não é a única preciosidade da cidade, onde a lavoura funciona durante o ano inteiro.
“A maioria da população vive da agricultura. Mais do que o turismo”, avalia a secretária de Agricultura de Morretes, Maria Denise Valenga. Ela afirma que são mais de 1,2 agricultores cadastrados, entre a população de 16 mil habitantes. O Censo Agropecuário do IBGE, de 2006, aponta para 687 estabelecimentos agropecuários em uma área de 14,3 mil hectares.
Enquanto no verão o maior trabalho é na colheita de maracujás, pepino e quiabo, o inverno também é movimentado, com a produção de verduras como abobrinha, pimentão, pepino, vagem e alface. “O inverno é forte, com o diferencial da produção de Curitiba”, ressalta Maria Denise, se referindo aos produtores que fogem do frio de Curitiba e Região Metropolitana e migram para o litoral durante o inverno, onde dão continuidade à lavoura.
Na propriedade de Lucia Midori Furuya de Souza, 45, o trabalho principal nesta época do ano é o maracujá, com mais de 1,5 mil pés da fruta. Ela, o marido e dois funcionários dedicam dias inteiros na colheita, junto com o milho, a banana, a mandioca, o pepino e o chuchu. “O mercado está bom e o clima daqui ajuda bastante, com muito sol e o calor”, conta. Passada a estação, o casal se dedica a abobrinha. “Trabalhamos direto, tem trabalho pro ano inteiro”, comenta o marido de Lucia, José Elieser de Souza, 46.
Ele ainda conta que os produtores locais sentiram a queda na exportação do gengibre, há cerca de cinco anos, para os concorrentes chineses. Até então eram cerca de 100 toneladas enviadas aos Estados Unidos. Agora, no entanto, o produto voltou a ser valorizado no mercado brasileiro. “Muita gente parou de plantar, então valorizou”.
Chips caiçara
A agricultura também rende outras produções em Morretes, que é reduto da mandioca e da banana chips. Para a microempresária Clenir Tezza, 39, este é o período de maior trabalho. “O verão é quando a gente mais produz, principalmente pela procura dos turistas”, comemora ela que faz batata, mandioca e banana chips. A matéria prima para seus produtos cresce no próprio terreno da empresa e nas propriedades vizinhas. “O aipim é nosso, são mais de mil quilos por mês. Para a bala de banana chegamos a quatro mil quilos por mês durante o verão”, diz. Nos outros meses o foco é a mandioca congelada. “Estamos sempre trabalhando”.
Problema nas estradas
O que é produzido em Morretes segue para a Ceasa da capital e também é destinado a mercados no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Porém, o potencial produtivo da cidade sofre com as condições das estradas da área rural, que prejudicam o transporte. “É difícil, a área rural é muito grande e a manutenção é difícil”, lamenta a secretária de Agricultura do município.
De acordo com ela, a falta de interesse dos jovens em continuar na profissão dos pais também é uma dificuldade. “Muitos deles querem fazer outras coisas, não querem ficar na agricultura. Alguns já assumem o serviço da família”, observa.