Feitas de pano ou porcelana, para brincar ou homenagear o folclore de diferentes localidades, as bonecas enfeitam a alma de quem passa aos domingos pelo estande da artesã Marisette Maia Kreis, na Feirinha do Largo da Ordem. Desde a infância ela demonstrou uma vocação admirável pelas artes manuais, mas somente após se tornar mãe de uma menina, Claudia Maria, hoje com 46 anos, que Marisette começou a desenvolver as técnicas que a revelaram uma talentosa e premiada bonequeira.

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Diante da sabedoria acumulada ao longo de 76 anos, ela atribui à maternidade o direcionamento da vocação. “Fiz um curso rápido no Parque São Lourenço para fazer bonecas para a minha caçula. Antes dela, com dois meninos, não havia motivo. E a minha filha viveu algo parecido, nunca tinha bordado até ficar grávida, mas hoje faz coisas lindas e me ajuda com as bonecas, pintando os rostinhos”, comenta.

Defensora da máxima que “todas as mulheres gostam de bonecas”, ela sente um certo pesar em perceber que a atenção das crianças de hoje concorre com celulares e tablets. “Minha bonecas são procuradas por noivas que seguem uma tendência no casamento de trocar o buquê da dama de honra pelo objeto ou por quem realmente gosta do que faço, mas vejo que muitas meninas na faixa dos 10 anos, na hora de brincar, acabam optando pelos produtos tecnológicos”, avalia.

O ingresso na feira do Largo da Ordem se deu há mais de duas décadas, depois de ficar viúva e para ajudar uma cunhada. “Eu tinha muita vergonha, mas queria ajudar minha cunhada a entrar no Largo. Com o tempo deixei de ser tão tímida”. A linha de bonecas recebeu o nome Pacatu, em alusão ao modo como o avô materno a chamava.

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A busca pela excelência fez com que Marisette procurasse todos os consulados que ficam em Curitiba para confeccionar bonecas típicas capazes de reproduzir as características de cada nação. São mais de 200 modelos produzidos. “Algumas bonecas folclóricas possuem dois ou mais trajes. As polonesas são um exemplo disso”, aponta.

No mês passado, na 32.ª Feira Internacional do Artesanato da Argentina, que ela participa há 15 anos, a precisão dos detalhes de suas criações em meio ao acabamento impecável renderam a Marisette um prêmio pelo trabalho desenvolvido. Apesar do reconhecimento, ela conta que nem aqui, nem na Argentina as vendas estão boas.

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Mesmo não sendo a principal fonte de renda, ela diz que o amor ao trabalho e a ocupação são o que a mantém no ofício. “Minhas bonecas sempre tiveram um preço justo e bem aquém daqueles cálculos que orientam o empreendedor, porque ficariam muito caras. Perdi um filho há sete meses para o câncer e acho que só consegui suportar pela satisfação que o trabalho com elas me traz”.

Ela diz que, embora tenha dois modelos de bonecas em homenagem às curitibanas, ela também produzirá mais baianas por conta da proximidade da Copa. “Quem vem de fora acha que as baianas representam o Brasil”, atesta. Ela também aceita encomendas. “Sempre fui curiosa e gosto de descobrir novos modelos”.

Encanto eterno

Para conservar as bonecas é simples. A artesã confecciona todas com vestidos e calcinhas que podem ser retiradas para a lavagem. “Lavar na mão é o mais indicado e com sabão de coco”. Ela também recomenda sempre tirar o pó com espanador ou passar pano. Com o tempo, o rosado das bochechas pode sair, mas basta retocar com blush. Outra dica importante para o cabelo é espirrar laquê para manter o nylon sempre em ordem e brilhante.

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– Você conhece o trabalho da bonequeira curitibana?

– Será que as bonecas farão sucesso na Copa?

– Seus filhos brincam com brinquedos artesanais ou preferem a tecnologia?

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