Pacientes do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) III Boa Vista mostraram na última sexta-feira como o incentivo à criatividade e à autonomia é importante no tratamento de transtornos mentais. Obras de arte produzidas nas oficinas realizadas no centro de tratamento ou de forma individual foram reunidas e apresentadas à comunidade durante a primeira Feira Cultural do CAPS.
Aberto ao público, o evento começou na Praça General João Gualberto de Sá, no Jardim Social. A chuva fez a exposição das obras e a confraternização dos pacientes e familiares ser transferida para a sede da instituição, a poucos metros dali, na Rua Ilha de Granada. Mas não diminuiu o entusiasmo dos atendidos pelo CAPS em mostrar suas criações.
Pinturas, gravuras, artesanato, música e um jornal foram motrados no evento. Também foram servidos doces produzidos na oficina de culinária e apresentadas as propostas trabalhadas na oficina de Cidadania. Segundo a coordenadora local do CAPS, Luciane Jungles Manente, a organização do evento ficou a cargo dos próprios pacientes. “A programação partiu deles. Cada oficina preparou o material exposto e eles fizeram a divulgação e foram às casas do bairro pra convidar a comunidade. Eles mesmos se engajam, se empenharam… É um grande exercício de autonomia”, explica.
O CAPS III Boa Vista faz parte da rede de atendimento à saúde mental financiada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e gerida pela prefeitura de Curitiba, em convênio com o Grupo Marista. No local são atendidos adultos com transtornos mentais, como esquizofrenia, depressão grave e transtorno bipolar, das regionais Boa Vista, Matriz e Cajuru. São 220 pacientes, que recebem tratamento psicológico e psiquiátrico e participam de vários grupos e oficinas.
Para lá, são encaminhados usuários do SUS atendidos pelas Unidades Básicas de Saúde, Unidades de Pronto Atendimento 24 Horas e consultórios de rua. Mas também através da política de “portas abertas”, que permite a qualquer cidadão procurar atendimento diretamente no local. “O objetivo do CAPS é substituir a internação e cuidar em liberdade. Os pacientes que hoje estão criando essas obras e fazendo brigadeiro para os familiares são os mesmos que há poucos anos estariam amarrados e sedados dentro de um hospital psiquiátrico”, diz Luciane.
O pai de um paciente que é artista plástico e participou da Feira Cultural diz que os resultados do tratamento são impressionantes. “Meu filho sempre foi muito tímido e introspectivo, mas hoje apresentou suas obras, falou em público… A estrutura que o CAPS oferece é bem diferenciada, algo que nunca teríamos acesso se não fosse através do SUS. O tratamento de transtornos mentais é longo e feito passo a passo. É uma oportunidade importantíssima, que a família não tem como retribuir”, afirma.