Quando você entra numa sala de cinema, já parou para pensar quantas pessoas queriam ter a mesma sensação? Alguns não conseguem desfrutar já que sofrem com alguma condição que os impede de ver ou de ouvir o que passa na telona. Isso tem mudado e, pouco a pouco, os cinemas têm se adaptado, seguindo a instrução normativa da Agência Nacional do Cinema (Ancine). Em Curitiba, uma ideia inovadora transformou a experiência de deficientes visuais e auditivos, que agora podem ter acesso ao filme escolhido como todo mundo.
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O interesse partiu dos proprietários do cinema do Shopping Jardim das Américas, que procuravam colocar um equipamento que atendesse não só às necessidades, mas que não tivesse falhas. “Sentimos a necessidade de trazer uma estrutura que permitisse que qualquer pessoa assistisse aos filmes, da forma que mais agradasse. Por isso tornamos o cinema acessível e sempre estamos pensando em como melhorar”, destacou o diretor geral da Rede Cineplus, Milton Alexandre Durski.
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Pensando na acessibilidade, a sala TSX, a mais nova do cinema da rede, foi totalmente equipada com um aparelho feito por uma empresa curitibana. Por lá, quem tem deficiência visual ou auditiva consegue sim ter a experiência de estar numa sala de cinema como todo mundo e aproveitar um bom filme.
Segundo os representantes do cinema, essa é a primeira sala do Brasil com todos os equipamentos de acessibilidade. E o que traz à equipe do cinema é a alegria proporcionada pela experiência que é proporcionada. “Nos dá muito orgulho saber que já proporcionamos momentos únicos de diversão e cultura a pessoas que foram ao cinema pela primeira vez. O que nós esperamos é revê-los mais vezes‘, disse a sócia do Cineplus, Marina Pastre.
Além da tecnologia, o cinema também contratou pessoas que conseguem conversar com os deficientes e que entendem o que eles precisam, um deles intérprete e o outro com deficiência auditiva. “Eles mudaram minha vida, porque antes eu ficava mais longe das pessoas e agora eu tenho acesso a todo mundo. Isso sem contar o salário”, brincou Adão Rodrigues Xavier, que é o funcionário com problemas auditivos.
Segundo o homem, que tem 62 anos, poder conversar com as pessoas mais jovens que têm a mesma condição que ele é um presente. “O contato com as pessoas me faz muito bem”, destacou Adão, que assistiu pela primeira vez com o equipamento, adorou a experiência. “Mas exige atenção da gente, principalmente para quem não está tão acostumado com libras”, explicou.
Como funciona
O acesso à tecnologia é individual e, portanto, deve ser solicitado pelo cliente logo na bilheteria, no momento da compra do ingresso. Para clientes com deficiência visual, o equipamento vem com um fone de ouvido que narra tanto a fala quanto as expressões e cenários em tempo real, junto com um aparelho que regula o volume.
A mesma tecnologia foi empregada para os clientes com deficiência auditiva, mas aí a estrutura é ainda maior: o cinema fornece uma pequena tela, que é encaixada ao porta-copos da poltrona. Neste equipamento aparece uma pessoa fazendo os sinais de libras e a legenda, isso tudo sem interferir na exibição aos demais espectadores.
Aprovado ou não?
Thami Nascimento, de 36 anos, é mãe de duas meninas com deficiência auditiva. Por já conhecer muito das necessidades de suas filhas, a mulher resolveu ir junto para experimentar. Ao testar o equipamento usado pelo cinema do Jardim das Américas, Thami se emocionou. “Achei sensacional, o equipamento me surpreendeu. A interpretação foi bem feita, com uma pessoa fazendo, o que já é um diferencial bem grande, diante de outros aplicativos que não dão uma tradução fiel. Como mãe foi emocionante”.
Uma das filhas da mulher, Caroline Hinteregger, de 10 anos, também acompanhou a exibição do filme e aprovou o equipamento. Um pouco tímida, a menina só confirmou que gostou. “No caso da minha filha, que usa tecnologia e consegue ouvir um pouco, foi ainda melhor, porque tem o apoio da legenda e da tradução de libras. Isso sem contar a questão de ter um cabo flexível para a tela, porque ajuda bastante ao assistir. Está bem próximo do que seria o ideal, isso é um grande avanço e uma vitória para a comunidade surda”, comentou Thami.
Coisa nossa!
A novidade do Cineplus só foi possível a partir de uma parceria com a empresa de equipamentos de tradução simultânea Riole. Hoje fixada em Colombo, Região Metropolitana de Curitiba, a empresa surgiu há quase 40 anos, no Bacacheri. Pensando em soluções para os mais diferentes públicos, a Riole pode ser vista como um exemplo de inovação tecnológica.
A diretora da empresa, Cristiane Moro, contou à Tribuna que a empresa começou a produzir o equipamento usado no cinema depois que percebeu que havia necessidade. “O próprio mercado nos procurou, pois havia uma lei, mas não existia equipamento para isso. Nós mesmos projetamos, fizemos todas as pesquisas necessárias, e desenvolvemos esse equipamento, que é brasileiro e totalmente feito por nós”.
Segundo Cristiane, o Brasil é o primeiro país a ter linguagem de sinais no cinema, se tornando exemplo para outros países. “Nos Estados Unidos, por exemplo, ainda usam somente legenda ou audiodescrição, mas logo logo vão começar a se espelhar no que é feito por aqui”.
No momento da criação do equipamento, a principal preocupação da empresa era com a facilidade não só de uso, mas também de acesso. Isso porque já existia um equipamento, feito por uma grande empresa internacional, que não é bem visto pelos deficientes pelo modo de utilização e também pela forma que a tradução é feita. “A gente acabou fazendo dois equipamentos separados, um para o deficiente visual e outro para os deficientes auditivos, porque as necessidades são diferentes”, comentou Cristiane.
Para facilitar, o equipamento da Riole não tem botões. “Optamos por um aparelho que fosse o mais fácil possível, com menos botão, para entrar na sala e já estar captando o sinal, para que o deficiente não perca tempo e não precise ter muito conhecimento do equipamento para usá-lo”.
Além disso, a própria empresa desenvolveu uma tecnologia de transmissão dos dados para que, de alguma forma, tirasse a preocupação das distribuidoras, como a Disney, com relação ao conteúdo. “Somos a única empresa no mundo a fabricar um sistema com transmissão em infravermelho de áudio e vídeo, com sincronização automática da audiodescrição do filme, legendagem descritiva e em libras. Foi tudo criado para evitar que esse sinal se perdesse no caminho”, explicou Cristiane.
Em Curitiba, além do Cineplus, os cinemas do Espaço Itaú também já receberam a tecnologia. Mas o mais legal é ver o quanto uma empresa curitibana cresceu. “No Brasil, já colocamos o equipamento em muitas regiões: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas, Bahia, Brasília, enfim, muitos estados já usam o que foi feito aqui”.
Produzindo vários tipos de equipamentos de transmissão de áudio sem fio, a Riole não faz só produtos para o cinema. “No Paraná, quase todas as multinacionais usam nossos equipamentos de alguma forma, seja tradução simultânea, com transmissão de áudio para visitas. Mas também estamos desenvolvendo uma forma de tornar adaptado o plenário, em Brasília, e também já estamos montando produtos para exportação, já que muita gente de fora passou a querer o que é feito aqui”.
Cristiane avalia que, para uma empresa totalmente familiar, que foi criada por seu pai, Eloir Moro, e hoje é mantida por ela e seus dois irmãos, as conquistas são um avanço. “Isso tudo, na verdade, faz parte de um sonho que a gente sempre teve, pois sempre soubemos que tínhamos um equipamento de qualidade. É muito gratificante ver o quanto o trabalho do meu pai e agora o nosso tem surtido efeito. No caso da exportação, faz três anos que estamos buscando mercados internacionais, já exportamos, e agora vamos fazer isso com mais força”.
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