Os arrombamentos e assaltos no Jardim das Américas já passaram dos limites. Ninguém aguenta mais, até porque os crimes aumentaram muito nas últimas semanas. São vários por dia. Mas o que mais preocupa os moradores e comerciantes da região é que, do jeito que a coisa anda, algum destes crimes possa terminar na morte de inocentes.
Um grupo de moradores procurou a Tribuna para relatar diversos roubos e arrombamentos sofridos. O administrador Luiz Henrique Cotelleti, 30 anos, foi vítima de dois roubos. No mais recente, voltava a pé do Shopping Jardim das Américas, com uma sacola na mão, quando um carro parou ao lado dele, dois homens desceram e o assaltaram. Na outra vez, Luiz Henrique estava dirigindo, com o carro em movimento, quando foi fechado numa esquina e os bandidos levaram dinheiro, carteiras e outros objetos de valor dele e dos outros passageiros.
Big Brother
Andar pelo Jardim das Américas observando as casas chega a assustar, pois quase todas estão cobertas com uma enorme parafernalha de segurança: câmeras, sirene, grades, cerca elétrica, cerca cortante, garrotes afiados de metal, sensores de presença, luminárias fortes. Mas nada tem espantado o crime. Os bandidos, pelo contrário, parecem mais ousados. Um dia, passam só observando. No outro, já passam chacoalhando portões e grades, para averiguar a possibilidade de arrombá-los. No terceiro dia (ou até no mesmo dia), voltam para arrombar. Isso quando não aproveitam a entrada ou saída dos moradores, para rendê-los à mão armada.
Perto e perigoso
A engenheira ambiental Ellen, 35, mora perto do trabalho e poderia ir a pé, para economizar combustível. “Mas não vou porque tenho medo de assalto”, revolta-se. Vizinha de Ellen, a aposentada Leci Pereira, 62, também está amedrontada. Ela morou por 25 anos em Nova Iorque, a quinta maior metrópole do mundo, e disse que nem de longe passou pelo medo que tem passado por aqui. “Chega 18h eu fecho toda a casa e fico no andar de cima”, diz, temendo a entrada de algum ladrão enquanto está em casa.
“Os vizinhos não conversam mais na calçada como antigamente. Ninguém mais consegue ir a pé no mercado”, lamenta o auditor Mário Nazaré Filho, 60. Muitos dos moradores não confiam nas empresas de segurança. Temem que elas ajam em conluio com ladrões e, por isto, não as contratam.
Pais inseguros
Nem a porta das escolas está livre dos roubos. Em frente à escola Catavento, de educação infantil, na Rua Sinke Ferreira, vários pais já foram assaltados enquanto chegavam para deixar ou buscar os filhos. Conforme relatou a diretora, Zoé Buss, os bandidos se aproveitam do momento em que os pais estão embarcando ou desembarcando as crianças do carro, para rendê-los.
A onda de assaltos obrigou a escola a contratar um segurança, que fica na frente do estabelecimento três vezes por dia, nos horários de entrada e saída dos alunos. No ano passado, cita Zoé, foram dois roubos à mão armada. “Este ano, graças a Deus, ainda não aconteceu nenhum”.
O comerciante Juliano Coelho, 41, é testemunha dos roubos contra os pais na frente da Catavento. “Vira e mexe vem algum pai pedir as imagens das câmeras aqui do meu comércio, pra ver se captaram algo dos ladrões”, comenta ele, que possui 16 câmeras espalhadas pelo pet shop. Mesmo com os equipamentos, ele já foi vítima de dois assaltos.
Num dos crimes, os bandidos trancaram ele e outros funcionários no banheiro da loja, o que fez com que Juliano tirasse de vez a fechadura do banheiro. Ele lamenta que o bairro só “ferve” de viaturas quando a casa de algum policial é assaltada. “Aí fica uma semana tranquilo, cheio de viaturas. Vem até cavalaria. Depois os crimes voltam ao normal”, observa, entristecido.
Cadê a polícia?
Os moradores andam bem descrentes com a eficiência da polícia. “A gente chama, eles não vêm. E ainda botam a culpa na gente porque não há mais ações de segurança no bairro, pois dizem que a gente é que não registra a ocorrência e, por isso, não entra nas estatísticas de crimes, que pautam as ações de segurança. Nos dizem que a PM não pode estar em todos os lugares e é a gente que tem que se cuidar. Ou ainda dizem que temos ‘sorte’ porque tinha uma viatura perto quando acionamos”, lamenta o advogado Fausto Silva Júnior, 71.
“Mandei uma carta à PM, expondo nossa situação e pedindo ajuda. Pedi estatísticas de roubos no bairro, pedi uma reunião com o comandante da PM e expliquei que, do jeito que a situação está, o jeito era a população se armar. Sabe o que me responderam? Que não fornecem estatísticas, que não teremos reunião com o comandante, e que se quisermos temos que ir lá na sede da companhia falar diretamente. Mas a sede é tão pequena que nem telefone atende às vezes. Falaram que a polícia não pode estar em todo lugar, que é o cidadão que tem que se defender, mas que se alguém se armar vai preso. Isso não é cinismo?”, esbraveja.
“Ainda alegam que a culpa da situação estar assim é da Justiça. Mas se tivesse prevenção, não precisaria Justiça. Isso não é justificativa, porque o que eles tinham que estar fazendo é prevenção, e não fazem. Eles são reativos. Só agem quando o estrago está feito. Então pedimos a responsabilização das autoridades, o fim da demagogia, mais viaturas e policiais pra andar nelas. Não queremos ter nossa casa arrombada, um parente morto ou assediado. Porque nós pagamos os impostos e eles nos devolvem com latrocínio, invasão, roubo, tentativa de assalto”, critica Fausto.
Monitoramento empacado
José Carlos Mendes, presidente do Conselho de Segurança (Conseg) local, também está bem chateado com a Polícia Militar. Além da falta de efetivo e viaturas para policiar o bairro, ele aguarda um posicionamento da polícia para colocar em prática um projeto, mostrado pela Tribuna em maio deste ano, que pode ajudar a reduzir a criminalidade no bairro. A ideia dele é integrar câmeras particulares de vigilância (de residências e comércios) ao sistema de monitoramento público, da Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária (Sesp).
Conforme o presidente do Conseg, o projeto já foi para a Sesp, que encaminhou para a prefeitura verificar questões de mobilidade urbana e uso do solo, que distribuiu para a apreciação de 21 secretarias municipais e estaduais, e voltou para a PM. “Eu vou lá para ver como está o andamento disso. Mas ninguém me fala nada, sequer me dão um prazo de quando esta homologação vai acontecer. Eu vejo que a prevenção do crime no bairro depende de liberarem logo isto”, reclama. A Sesp informou que apoia a iniciativa de integrar às câmeras do bairro à estrutura do Centro Integrado de Comando e Controle. Já a PM prometeu dar uma resposta sobre o trâmite do projeto no Jardim das Américas nesta quarta-feira (16).
Solução paliativa
Enquanto isso não acontece, o conselheiro teve outra ideia, provisória, a do “Vizinho Solidário na web”. O Conseg conseguiu uma empresa de segurança que, além de fazer rondas pelo bairro, vai disponibilizar câmeras de segurança em comodato, para serem colocadas nas residências que toparem participar da ideia. Os moradores instalam um aplicativo no celular e podem acessar as câmeras de segurança do seu perímetro residencial pelo aplicativo, que tem até um botão de pânico. O projeto consiste em um vizinho cuidando do outro, através da internet.
“Não podemos esperar a homologação da PM ao projeto das câmeras. Estamos órfãos. A polícia não tem mais como nos acudir. E a pressão da sociedade por mais segurança é enorme. Então vamos abandonar o Estado por enquanto e partir para a segurança particular, para tentar minimizar o problema”, desabafa José Carlos.
O que diz a PM?
A Polícia Militar informou, através de nota, que a 2ª Companhia, do 20º Batalhão de Polícia Militar, responsável pelo policiamento da área, tem feito o patrulhamento ostensivo e preventivo na região, inclusive com as novas viaturas adquiridas pelo Governo do Estado. Também realizou no bairro, quinta-feira passada (10), a Operação Sinergia, para inibir criminosos.
“A Polícia Militar ressalta que necessita da colaboração dos cidadãos para que enviem pelo telefone 190 informações sobre características pessoais de suspeitos, placas de veículos, entre outros dados que possam auxiliar no readequamento do policiamento nos locais com maior necessidade. A PM também reforça que aqueles que forem vítimas de algum crime registrem a situação diretamente com a Polícia Civil, que é a responsável por investigar os casos”, orienta.