Parte das 54 câmeras de vigilância da Rodoferroviária de Curitiba não funciona, segundo denúncia feita à Tribuna e confirmada pela prefeitura. O aparato eletrônico deveria garantir mais segurança aos 17 mil passageiros que passam diariamente pelo local, além de funcionários e comerciantes. Mas um funcionário da Urbanização de Curitiba (Urbs) – responsável pela administração do espaço -, que preferiu não se identificar, revela que, além de algumas câmeras estarem desligadas, outras não gravam as imagens filmadas.
A Prefeitura de Curitiba admite que, em média, 10% dos equipamentos fiquem fora de funcionamento para conserto ou manutenção, seja por atos de vandalismo ou tempo de uso. Mas ressalta que nos locais mais movimentados, as câmeras inativas são substituídas em seguida. Isso porque, conforme a administração municipal, é feito um rodízio entre elas até que o equipamento seja reparado. O que não impede que haja “pontos cegos” na vigilância monitorada.
A maioria dos equipamentos 36 câmeras – foi instalada na Rodoferroviária em julho de 2009. A falta do monitoramento por imagens do ambiente foi sentida e cobrada após a morte de Rachel Genofre, de 8 anos de idade. Em novembro de 2008, o corpo dela foi encontrado dentro de uma mala, embaixo de uma escada no interior do terminal. O crime até hoje não foi solucionado, porque ninguém sabe como o objeto foi parar no local.
Outras 18 câmeras foram adicionadas ao sistema de monitoramento durante a reforma da Rodoferroviária concluída em 2014, por conta do PAC da Copa. O gestor da Rodoferroviária, Vanderlei Gimenes Ramos, garante que todas as câmeras gravam e as imagens são arquivadas por um prazo que varia de 20 a 30 dias.
Sem imagens
Taxista há 22 anos, Samuel José Cardoso, 54, prefere a Rodoferroviária como ponto, justamente pela maior segurança – após sofrer vários assaltos nas ruas. ‘Ultimamente venho mais para cá e não ando mais à noite. Pra táxi aqui é um lugar mais seguro, porque dá para escolher os passageiros; mas ainda assim não dá pra baixar a guarda‘, comenta.
Samuel ficou sabendo que parte das câmeras não estava funcionando. ‘Esses dias uma pessoa foi assaltada e tentaram pegar as imagens, mas não tinha nada’, aponta. Para ele, as câmeras não evitam as ações dos bandidos, mas auxiliam na identificação e repressão dos crimes. ‘Evitar não evitam, mas ajudam na investigação. Não adianta ter aí e não funcionar‘, afirma.
O taxista considera fundamental que esses equipamentos estejam ativos. ‘Aqui é onde mora o perigo, porque vem o pessoal de fora, que não desconfia de nada, e a malandragem aproveita‘.
Sensação estranha
A auxiliar de produção Sandra Regina Bento de Assis, saiu de Joinville (SC) de carona e passou pela Rodoferroviária, com destino a Jacarezinho, no interior do Estado. Ela contou que estava com muito medo de ficar sozinha aguardando o ônibus, e só ficou aliviada ao saber que o amigo aguardaria junto. ‘Graças a Deus nunca me aconteceu nada, mas cidade grande, né? Sozinha fico com medo‘.
A auxiliar diz que as câmeras garantem maior tranquilidade aos frequentadores, que ‘sabem que tem alguém vigiando‘. Ao saber que parte dos equipamentos poderia não estar funcionando, ela observou que ‘dá uma sensação estranha. A gente pensa estar seguro e descobre que não é bem assim‘.
Lojistas satisfeitos
Uma comerciante da Rodoferroviária, que não quis ter o nome divulgado e está há três anos no local, considera que a segurança do ambiente está adequada. ‘Tem alguns pedintes que passam por aqui às vezes, mas logo os seguranças orientam a sair. Furtos eu já sofri, mas faz algum tempo que não acontece; e roubo nunca nem fiquei sabendo que teve por aqui‘. Em relação ao problema das câmeras, ela diz ter ficado surpresa ao saber que algumas poderiam estar fora de funcionamento. ‘Sempre converso com os vigilantes, que costumam avisar se tem alguma pessoa suspeita por perto, e nunca falaram nada disso‘.
Para a comerciante Dirceli Gruber, que tem uma loja no local há pouco mais de um ano, a segurança “está ótima”. Ela nota que a mudança no sistema de embarque após a reforma só é permitida a entrada de quem for viajar foi fundamental para essa sensação. “Antes entrava todo mundo no embarque, era mais fácil de roubarem. Além disso, sempre tem guardas passando por aqui”, pontua. Dirceli não soube de nenhuma falha no sistema de monitoramento do ambiente.