Ladrões de água

Vítimas da audácia e da criatividade dos bandidos, os moradores e comerciantes do Hauer pedem ajuda. No bairro, o que tem trazido prejuízo e transtornos para muita gente são os furtos de hidrômetros – aparelhos usados para medir o consumo de água das casas e empresas. Entre os prejudicados com ausência do medidor está o proprietário da Casa dos Carburadores, Eliseu Carajelescow, 53 anos, que há cerca de uma semana ficou sem água em seu comércio, após o imóvel ter sido alvo dos ladrões.

“Foi em uma sexta-feira. Eu já tinha fechado a loja e recebi uma ligação de que tinha água vazando aqui em frente. Quando cheguei, vi que tinham levado o hidrômetro. No sábado mesmo a Sanepar veio e fez a troca, mas à noite levaram o relógio novamente. Isso tudo aconteceu em menos de 24 horas e fez com que nossa conta da água dobrasse”, disse Eliseu. Para evitar que o hidrômetro seja furtado novamente, ele colocou uma grade com cadeado em volta do equipamento.

Comércio de Eliseu ficou sem água após furto do hidrômetro. Foto: Lineu Filho
Comércio de Eliseu ficou sem água após furto do hidrômetro. Foto: Lineu Filho

Este não é o único relato. Pelo bairro, os furtos se repetem. Nem mesmo locais como escolas e igrejas são poupados. Segundo a coordenadora do Centro de Educação Infantil Tiui, Eliane Cunha, 43, foram vários os medidores furtados da escola recentemente. De acordo com ela, até o dia 4 de outubro, pelo menos quatro tinham sido levados. O último deles, na noite do último dia 3.

“Esse mês já foram trocados uns quatro hidrômetros. Mesmo a escola tendo caixa d’água, ficar sem o fornecimento da rua é complicado. Isso muda até nossa rotina, pois a cozinha fica na parte de trás (do imóvel) e a água da caixa vem de uma torneira que fica no meio da escola. Ainda é preciso fazer o boletim de ocorrência antes de pedir a reposição do equipamento para a Sanepar, para evitar as cobranças”, afirmou Eliana, que na manhã do dia 6, menos de 48 horas depois da última instalação do hidrômetro, percebeu que o aparelho tinha sido levado novamente pelos ladrões.

Para evitar os casos, moradores e comerciantes do Hauer estão instalando proteções ao redor dos equipamentos. Foto: Lineu Filho
Para evitar os casos, moradores e comerciantes do Hauer estão instalando proteções ao redor dos equipamentos. Foto: Lineu Filho

Incontáveis

Para o membro da diretoria do Conselho Comunitário de Segurança do Hauer (Conseg), Rodrigo Vidal, 41, a situação chegou a um nível insustentável, tanto que ficou difícil medir o número de casos, que são denunciados pelas vítimas nos três grupos de whatsapp e no Facebook do Conseg do Hauer.

“Na semana retrasada, quando começaram os furtos com mais frequência, em três dias mais de 14 hidrômetros foram furtados. De lá para cá, foram tantos os casos que nós já até perdemos as contas. Todos os dias eu recebo uma reclamação. Há alguns dias um rapaz chegou a ser preso no bairro. Ele contou para a polícia que o metal dos hidrômetros é derretido, para a peça poder ser vendida. Por ela eles conseguem cerca de R$ 8 o quilo, nos pontos de reciclagem”, explicou.

Segundo ele, para evitar o problema, a orientação dada aos moradores do Hauer tem sido proteger os hidrômetros, dificultando o acesso dos ladrões, e também chamar a Polícia Militar. Outro conselho é registrar boletim de ocorrência, pela internet ou em uma delegacia, para que a Polícia Civil possa investigar os crimes. “Temos sido bem atendidos pela Polícia Militar, eles fazem o que podem, com o que têm. Buscamos também um relacionamento mais próximo com os policiais da delegacia do bairro. Mas sabemos neste caso, que não tem muito o que fazer, nossas leis são muito frouxas”, disse o membro do Conseg, que acredita que os furtos só existem porque tem quem compre este material.

Reposição grátis?

Se não houver boletim de ocorrência, vítima tem que pagar pela substituição do aparelho. Foto: Lineu Filho
Se não houver boletim de ocorrência, vítima tem que pagar pela substituição do aparelho. Foto: Lineu Filho

Questionada pela Tribuna, a Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná) não divulgou o número de hidrômetros furtados em Curitiba e região. Conforme a empresa, para que o cliente vítima de roubo do equipamento seja isento da cobrança do novo aparelho, precisa registrar boletim de ocorrência na delegacia mais próxima. Hoje um hidrômetro novo custa R$ 86,49 e o prazo de reposição do equipamento é de um dia.

Para prevenir os furtos do equipamento, a empresa recomenda a instalação de sistema que proteja o hidrômetro, mas que não obstrua a leitura e permita possível manutenção no local. De acordo com o artigo 29, do Decreto Estadual n.º 3926, que regulamenta os serviços prestados pela Sanepar: “O usuário é responsável pela conservação do medidor de água perante a Sanepar e responderá, inclusive, por furto, perda ou danos no aparelho”. A Sanepar também alerta às pessoas que compram os hidrômetros roubados que a receptação é crime. Para informações e solicitação de novos hidrômetros, o telefone da Sanepar é 0800-200-0115.

Polícia

Em nota, o 20º Batalhão de Polícia Militar, responsável pelo policiamento no bairro, informa que está fazendo o policiamento ostensivo e preventivo para coibir qualquer tipo de crime, incluindo roubos e furtos. “Caso haja pessoas suspeitas, os policiais militares abordam e verificam se há objetos ilícitos ou sem procedência comprovada”.

No caso dos hidrômetros, caso o cidadão note o furto posteriormente, deve registrar o Boletim de Ocorrência, pois as informações contribuem para auxiliar no planejamento de segurança e readequamento de policiamento. Segundo a PM, um homem foi preso madrugada do dia 2 de outubro, flagrado furtando hidrômetros na Rua Pádua Fleury, no Hauer. Na ação, dois aparelhos foram recuperados.

Registro

Já a Polícia Civil reforça que é uma polícia judiciária, que investiga os crimes após seu acontecimento. Para o morador ou comerciante que teve seu hidrômetro levado, a recomendação é efetuar o boletim de ocorrência na delegacia mais próxima, que no caso é o 7.º DP, na Rua Prof. João Soares Barcelos, 725 – Hauer. No entanto, a Polícia Civil informa que não tem dados sobre o número de casos semelhantes. De acordo com a polícia, quem é pego furtando estes equipamentos é preso em flagrante pelo crime de furto. Se condenado, a pena varia de um a quatro anos de prisão.

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