São apenas mais seis meses de trabalho e Lourival Ribeiro, 69 anos, vai curtir a aposentadoria. Mas a nova rotina que está prestes a acontecer não é motivo de comemoração. Há 32 anos trabalhando no Horto Municipal, o senhor já está desolado pela saída do emprego. Para ele, cultivar cada muda de flor da unidade do horto que fica no bairro Guabirotuba é como estar em uma maternidade para ver o filho chegar ao mundo. “Você precisa cuidar com amor, carinho. Às vezes pareço meio louco e até converso com elas”, conta Lourival.

continua após a publicidade

O cultivo das flores que é o ganha pão, como Lourival gosta de definir, também está no seu dia a dia familiar. Dono de um belo jardim residencial, ele tem na esposa uma companheira para manter tudo em ordem. “Chego em casa e ela está lá conversando com as flores. E isso é bom porque que ela não vai conversar com o ‘Ricardão’, fica conversando com as flores mesmo”, brinca.

E nestes 32 anos de horto, Lourival viu a evolução na maneira de cultivo de flores que abastecem ruas, praças e parques de Curitiba. São em média 300 mil mudas entregues todos os meses. Hoje, a realidade é muito diferente de alguns anos atrás. Lourival tem uma jornada programada e não trabalha mais de oito horas diárias produzindo incessantemente.

Produção

continua após a publicidade

A mudança faz parte da reformulação iniciada no ano passado. Antes, a produção era de 500 mil mudas a cada mês, mas a perda era muito grande. Hoje, de acordo com Erica Mielke, diretora do departamento de produção vegetal da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, até as condições de trabalho melhoraram com as alterações feitas.

Agora, a produção é programada para atender a demandas dos parques, praças e ruas. “É um cultivo programado, são cerca de 60 dias para que elas estejam prontas, então programamos em cima dos prazos. Todo sistema é mecanizado, temos controle de chuva, incidência de sol, geada”, explica Erica.

continua após a publicidade

Com a mudança, o departamento conseguiu reduzir as perdas. Hoje, o percentual está abaixo do que é considerado ideal pelos produtores comerciais. “Nossa perda está entre 1% e 3%. Ninguém gostava, os próprios funcionários não gostavam de ver perdas. Conseguimos reduzir isso”, acrescenta Erica.

A produção começa com o plantio das sementes, que precisam passar cinco dias numa câmara escura para germinação. Então são levadas para uma estufa onde recebem água e luz. A terceira etapa é na estufa de crescimento. Todo processo leva cerca de 60 dias. Com este método de cultivo, o crescimento é uniforme e o desabrochar das flores também.

O método permite ainda uma produção em série, mais tranquila para os funcionários. “Antes a produção era feita o dia todo, todos os dias. Hoje mecanizado e programado, facilita o trabalho deles”, avalia Erica. “É muito mais fácil, mas ainda faço com amor”, acrescenta Lourival, que está há três décadas no horto municipal.

Combate ao vandalismo

Além do cultivo de flores na unidade do Guabirotiba, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente mantém também a unidade Horto Municipal da Barreirinha, que cultiva árvores. Curitiba tem hoje cerca de 300 mil árvores em vias públicas, mas 40% da produção é usada apenas para repor espécies destruídas pelo vandalismo.

O prejuízo, apesar de alto, cerca de R$ 1,2 milhão nos últimos meses, com o replantio de 6 mil árvores, não incomoda tanto quanto o dano à natureza. “Eu não gosto de ver, fico triste. Quem faz isso tinha de ser punido”, afirma Lourival Ribeiro.

Erica Mielke, diretora do departamento de produção vegetal da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, alerta que os casos de vandalismo como este podem render multa ao infrator. De acordo com o Código Florestal Municipal de Curitiba, quem for autuado pode ser multado em R$ 469. As autuações podem ser feitas pela Secretaria de Meio Ambiente e pela Guarda Municipal.

Confira as fotos.