Perto do horário do almoço, tudo parece calmo nas cercanias da estação-tubo Osternack, no bairro Ganchinho, em Curitiba. De um lado da rua, a movimentação é pacata no comércio local. Do outro, o entra e sai de moradores nos conjuntos habitacionais não levanta a suspeita de que a região é uma das que mais sofrem com a ação de bandidos e assaltantes. Os criminosos têm tirado o sossego, principalmente, dos passageiros que utilizam os ônibus da linha Osternack/Sítio Cercado.
Por conta dos inúmeros casos de roubos e pequenos furtos nas imediações da rua Eduardo Pinto da Rocha, moradores da região já se habituaram a sair de casa com o mínimo possível de pertences a tiracolo. É o caso da doméstica Maria Barbosa que, diariamente pega o ônibus na estação-tubo Osternack para chegar à residência onde trabalha, no Centro. “Separo só o essencial. Celular, as chaves e o dinheiro, que vai solto na bolsa, junto com o RG e o cartão do ônibus”, revela. À noite, quando chega do trabalho, o trajeto da estação-tubo até sua casa, algumas quadras pra baixo, é feito às pressas. “Desço do tubo correndo e aperto o passo na rua. Normalmente chego no começo da noite, horário preferido dos bandidos oportunistas. O jeito é mesmo sair correndo”, contou.
Enquanto alguns podem fugir, outros são obrigados a encarar, parados, o perigo. Cobradores que trabalham na estação-tubo são alvos frequentes dos criminosos, que quando agem, não levam somente o dinheiro do caixa – mas também os pertences dos funcionários. Um cobrador, que não quis ser identificado, contou à Tribuna que ao longo de um ano já foi roubado 10 vezes em serviço. “Não tem dia e nem hora para acontecer, e eles levam o que conseguem. Certa vez fui ajudar um passageiro idoso a embarcar no ônibus, e quando me dirigi à guarita, um rapaz me apontou o canivete e levou minha mochila e o dinheiro em caixa”, relatou.
Fura-catracas
Outra situação que evidencia a audácia dos criminosos é o alto número de invasões à estação-tubo. De acordo com o Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp), o ponto aparece nas primeiras posições no ranking de fura-catracas. Segundo dados levantados pelo órgão em agosto deste ano, das 297 estações tubo de Curitiba, a do Osternack aparece em segundo lugar, com uma média de 91 fura-catracas por dia – ficando atrás somente da estação-tubo Rio Barigui, que apresenta 135 invasões diárias.
Passageiros relatam que as invasões já fazem parte da rotina, e nos horários de pico a situação é ainda pior. “Eles nem disfarçam. Vêm em bando de cinco, seis, e invadem o tubo na maior cara de pau. Ninguém fala e nem faz nada”, contou a enfermeira Eliara Rodrigues, moradora do bairro. Somado, o valor das tarifas que deixam de ser arrecadadas com as invasões totaliza R$ 386,75 por dia – nada menos que R$ 11.602,50 por ano – segundo o Setransp.
Falta polícia
Cobradores e moradores do bairro afirmam que as patrulhas feitas por viaturas da Guarda Municipal e da Polícia Militar não têm sido suficientes para conter a ação dos criminosos. “Eles vêm, fazem a ronda e depois vão embora. Isso não funciona. O gato sai e os ratos fazem a festa”, afirmou outro cobrador, que não quis ser identificado.
Por meio de nota, o Setransp ressalta a preocupação da categoria frente à falta de segurança no sistema de transporte, em especial nas estações-tubo mais problemáticas, como é o caso da Osternack. O sindicato afirma ainda que as empresas não têm poder de polícia para inibir os crimes, mas que, no entanto, têm feito a parte que lhes cabe, contribuindo com o mapeamento dos locais onde existem mais ocorrências, e repassando tais informações aos órgãos de segurança.
Também em nota, a Guarda Municipal cita que patrulhamentos constantes, com rondas e deslocamento de efetivo para a região, têm sido feitos sempre que necessário. A GM informa ainda, que nos últimos meses, tem desenvolvido ações para inibir delitos no transporte coletivo e também aqueles praticados contra usuários do sistema. O órgão destaca que operações específicas continuarão sendo deflagradas nos locais com maior incidência de crimes, e que em estações-tubo e terminais, o efetivo da GM foi intensificado, em horários de maior movimento, conforme apontado pela Urbs.
Até o fechamento dessa reportagem, a Polícia Militar não havia se pronunciado.
Irmã no sofrimento
Dados levantados pelo Setransp apontam que a estação Centro Médico Comunitário Bairro Novo é a campeã de assaltos em Curitiba. Localizada apenas algumas quadras à frente da estação Osternack, o ponto é alvo – se não igual, ainda maior – da ação de bandidos. Um dos cobradores que trabalha no local afirma que desde que começou a prestar serviços, há 4 meses, já foram 5 assaltos no ponto. Ele também preferiu não se identificar.