O aposentado Orlando Ribeiro, de 59 anos, já não sabe mais o que fazer. No último dia 15, um atestado médico afirmando que o braço direito de seu filho caçula está condenado, depois de quatro anos de busca por tratamento, o levou ao desespero. Após um acidente, o menino perdeu a sensibilidade e os movimentos do membro. Passou por duas cirurgias e sessões de fisioterapia, que não provocaram melhora. Chegou a ficar dois anos afastado da escola e teve de interromper brincadeiras e a prática de esportes.
Moradora de Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba, a família não tem recursos para buscar opiniões de outros especialistas. Um ortopedista ofereceu tratamento gratuito em Campo Largo, mas o interrompeu sem grandes explicações após realizar as duas cirurgias. “Me vem uma angústia. O braço dele está morto. Tem tanto motoqueiro que se arrebenta todo e tem conserto, como é que o braço dele não tem?”, indaga.
Acidente
Em agosto de 2012, Jhonatan Soares Ribeiro, então com 10 anos, estava andando de bicicleta pelas ruas da Vila Boa Esperança quando desviou de algumas crianças e acabou batendo em um poste. O choque fez a cabeça do menino se afastar abruptamente do ombro direito, provocando o rompimento de um tendão. “Eu bati a cabeça e desmaiei, meu ouvido sangrou muito. Quando acordei, já estava na ambulância. Só depois é que percebi que não estava conseguindo mexer o braço”, diz.
Após atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), Orlando ouviu dos médicos que era muito cedo para operar a lesão de plexo braquial, pois Jhonatan estava em fase de crescimento. “Disseram que ele ia se desenvolver e os tendões iam ligar de novo”, conta. Um ortopedista se ofereceu para acompanhar o caso do menino, e realizou duas cirurgias, uma nos meses seguintes ao acidente, e outra em 2013. “Na primeira, eles só abriram para colocar o tendão no lugar. Na segunda, tiraram músculo do meu pulmão para colocar no ombro. Depois disso, fiz umas 40 sessões de fisioterapia, mas não resolveu”, conta o adolescente.
Revolta
Em retorno ao consultório do especialista que prometeu ajuda, a família ouviu que o acompanhamento teria de ser interrompido porque a administração do hospital não iria mais permitir atendimento de graça. “Ele só falou isso, não deu mais explicações e nem disse que o caso do meu menino não tinha mais jeito. No dia 15 de junho deste ano conseguimos uma consulta pelo SUS no Hospital do Trabalhador. O médico falou que os nervos dele já tinham secado e fez um atestado dizendo que o quadro é irreversível”, relata. “Eu não me conformo. Como que antes era muito cedo para operar e agora já é tarde demais?”
Jhonatan reclama que a segunda operação, além de não produzir melhora, ainda prejudicou sua capacidade respiratória. “Eles mexeram no meu pulmão, e agora quando estou falando rápido ou correndo, sinto falta de ar. Não arrumaram o braço e ainda estragaram o pulmão”, lamenta. Ele sente falta de jogar bola e brincar com os amigos. “Não fico correndo muito porque não posso machucar o braço. Sinto falta dele pra fazer várias coisas.” O adolescente tem vários ferimentos nos dedos da mão, que acaba ferindo por não ter sensibilidade.
“Não tenho dinheiro pra ir em médico particular. A gente que é pobre não tem voz ativa, não tem como conseguir as coisas”, desabafa Orlando.
Desde a semana passada, a reportagem tentou contato com o ortopedista que operou Jhonatan, através de e-mails e telefones dos consultórios onde atende, mas não obteve resposta sobre o motivo da interrupção do tratamento.
Consequências
Logo após o acidente, Jhonatan, que é destro, teve de aprender a escrever com a mão esquerda, um processo de evolução lenta. Na escola, a maioria dos professores não tinha paciência para esperá-lo copiar a matéria do quadro-negro. “Só uma professora levava os textos impressos pra mim. Algumas brigavam, me chamavam de preguiçoso. Até que falei pro meu pai que não queria ir mais pra escola”, diz. Desmotivado, o menino ficou longe das salas de aula por dois anos, até que Orlando procurou a imprensa e pressionou a diretoria da instituição. “Quando voltei a estudar já conseguia escrever rápido”, atesta Jhonatan.
Situação crítica
Além da situação do filho, que tira suas noites de sono, Orlando precisa cuidar de sua esposa. A auxiliar de cozinha Cleuza Soares, 49, foi diagnosticada com doença de Chagas em agosto do ano passado. Duas semanas depois, sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e perdeu os movimentos do braço esquerdo. “Ela está em licença médica, recebendo auxílio-doença, e eu sou aposentado por invalidez. Temos essas duas rendas, mas cai pouco na minha conta porque peguei um monte de empréstimos para construir nossa casa. Ela tem muito enjoo, toma um monte de remédios, não consegue comer nada sólido. Tem dia que não tenho dinheiro nem pra comprar um pé de frango pra fazer uma sopa pra ela.”
O pai de Jhonatan se sente de mãos atadas e diz que qualquer ajuda será bem-vida. “Se tiver algum especialista que queira ver o caso dele, ou mesmo alguém que arranje um braço mecânico… Não sabemos o que fazer, o que vier é lucro”, afirma.
Como ajudar?
Alex (41) 8470-7018 – pela manhã
Letícia (41) 9754-2342
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