Reféns do medo

Foto: Átila Alberti

O casal Magno Souza e Renata Silva se sente praticamente prisioneiro em sua própria casa. Moradores de um condomínio em Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba, eles não saem de casa após as 22h, pagam taxa de segurança extra no residencial e, caso sintam fome à noite, preferem que a comida seja entregue na porta. “Estamos reféns em nossa própria casa por falta de segurança”, reclamam.

O casal não está sozinho. Dados da Secretaria de Segurança do Paraná (Sesp) apontam que somente no ano passado, 43 moradores da cidade morreram em situações de violência. De dezembro a setembro do ano passado, 19.426 crimes contra a pessoa foram cometidos na região de Fazenda Rio Grande. Em 2015, foram 24.601. A Sesp não divulga dados de furtos e roubos por município.

Explosões

Foto: Átila Alberti
Em menos de um mês foram detonados três equipamentos. Foto: Átila Alberti

Para se ter uma ideia da violência, a cidade entrou na rota dos ladrões de caixas eletrônicos. Em menos de 30 dias foram detonados três equipamentos, o último deles no dia 2 de fevereiro, o do Banco Itaú. O comerciante Emílio Sérgio Hermes, proprietário de uma papelaria ao lado do Itaú, relata que na madrugada da explosão chegou ao seu comércio achando que tinha perdido tudo. “Achei que tudo tinha vindo abaixo. Eles perderam o medo e agora estão atacando o interior”, avalia. Há 17 anos trabalhando no mesmo endereço, ele acredita que nunca viu “nada igual”. “Eles escolhem as cidades pequenas e roubam de madrugada para não correrem risco. Saíram daqui tranquilamente”, relata.

Nem tão tranquilos assim. Um hóspede do hotel que fica na esquina do Itaú filmou o assalto e, em troca, recebeu dois tiros que acertaram numa placa de rua e na mureta do hotel. Diante de tanta violência, o metalúrgico Ivo Lipke, morador da cidade há 18 anos, até pensa em se mudar. “Está difícil morar aqui. Eu não fui assaltado ainda, mas conheço muita gente que já foi. Penso seriamente em ir embora”.

Muitos casos

Assalto em um banco teve tiroteio acertando uma placa de trânsito e parede de um hotel. Foto: Átila Alberti
Assalto em um banco teve tiroteio acertando uma placa de trânsito e parede de um hotel. Foto: Átila Alberti

 

Quem já passou por situações de violência também reclama. Em 2015, a mãe de Plinyo Pereira foi assaltada com requintes de violência em plena manhã de uma quarta-feira de cinzas. Os ladrões entraram e, como ela ainda estava abrindo a loja, o dinheiro em caixa era pouco. “Eles começaram a agredi-la e machucaram muito a minha mãe”, lembra. Foram 14 golpes, principalmente na cabeça. Há 25 anos no mesmo local, Plinyo só não fecha as portas porque o ganha-pão da família depende da casa de ferragens. “Vivemos com medo”, garante.

Promessa de campanha

Emilio: Eles (assaltantes) perderam o medo
Emilio: Eles (assaltantes) perderam o medo

Promessa de campanha do prefeito reeleito, 29 guardas municipais que já se formaram ainda aguardam uma resposta de Márcio Wozniack para entrarem em ação. Concursados desde 2012 e com curso concluído no ano passado, parte dos profissionais está passando por necessidades, devido à demora. “Vendi meu carro e hoje vivo de favor da família”, desabafou um deles, que não quis se identificar. De acordo com ele, a maioria dos aprovados deixou emprego fixo e hoje passam pela mesma situação que ele.

O prefeito chegou a fazer propaganda junto aos guardas na fase de campanha. Ele publicou numa rede social, assim como numa revista, foto ao lado dos formandos. No texto, ele dizia: “Investindo na segurança de nossa população. Para proteger os habitantes e o patrimônio público, estou nomeando 30 (sic) novos guardas municipais que já estão em fase de treinamento no 17° Batalhão da Polícia Militar e tão logo devem iniciar seus trabalhos. Sabemos que há muito para ser feito, porém não medimos esforços em melhorar ainda mais a qualidade de vida de nossa população”.

Foto
Plinyo: Vivemos com medo.

Na realidade, são 29 guardas, já que um deles foi reprovado. Todos eles investiram no curso de formação e tiveram gastos com uniformes e treinamento. Eles calculam que gastaram cerca de R$ 2 mil cada um. O prefeito anunciou a contratação de nove deles, mas não especificou quem e nem quando. “Queremos saber quais serão os critérios dessa contratação”, pedem.

Enquanto isso, lembram, a população continua sofrendo com a falta de segurança e os constantes assaltos e roubos a bancos que vêm acontecendo na cidade. (RTS)

“É um compromisso”, diz prefeito

Promessa de campanha do prefeito reeleito, 29 guardas municipais que já se formaram ainda aguardam uma resposta de Márcio Wozniack para entrarem em ação. Foto: Átila Alberti
Promessa de campanha do prefeito reeleito, 29 guardas municipais que já se formaram ainda aguardam uma resposta de Márcio Wozniack para entrarem em ação.Foto: Átila Alberti

Em nota, o prefeito Márcio Wozniack reiterou à Tribuna que a contratação dos guardas municipais “é um compromisso sim, não apenas de campanha, mas que eu tenho com a população”. “Infelizmente, e isso todos nós acompanhamos, o país passa por uma séria crise e que nos afetou também, com redução e atraso nos repasses de verbas, que nos obrigou inclusive a fazer cortes internos, redução de gratificações, medidas de austeridade iniciadas dentro da própria prefeitura”, afirma.

De acordo com o prefeito, recentemente foram criadas as patrulhas específicas para as áreas rural, escolar e comércio. “Também recebemos 25 novos policiais militares, isso graças às nossas reivindicações junto ao governo estadual”, enfatiza. “Por isso, mesmo precisaremos aguardar o momento certo para a contratação para não onerar os cofres públicos e cumprir as exigências determinadas pelas autoridades fiscais”, resume.

PM cita prisões e apreensões

Em nota a Polícia Militar do Paraná afirma que “o policiamento preventivo e ostensivo tem sido feito diariamente, e também por meio de operações, em Fazenda Rio Grande, o que têm resultado na prisão de pessoas envolvidas com o crime e na apreensão de materiais ilícitos, como armas e drogas”. Segundo a PM, o 17º Batalhão da PM recebeu parte dos 2 mil policiais que se formaram na metade de janeiro.

População promete fechar rodovia

Ivo pensa seriamente em se mudar da cidade
Ivo pensa seriamente em se mudar da cidade

Diante da falta de segurança e da demora na contratação de novos guardas municipais, a população da cidade promete uma passeata para hoje, a partir das 6h. A concentração será em frente à antiga Lojas Coppel e a organização promete parar o terminal de ônibus e a rodovia. Os organizadores pedem que o protesto seja pacífico e, caso aconteça alguma situação de violência, é para os manifestantes sentarem no chão.

Leia mais sobre Fazenda Rio Grande

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna