Há um ano, o Jardim Veneza, em Fazenda Rio Grande, era um lugar sem opções de lazer, arte e cultura para a criançada. Mas em agosto de 2016 surgiu o projeto Anjos da Cidadania, do qual as crianças não querem sair por nada. Algumas até ficam doentes quando os pais, por algum motivo, não as levam nas aulas.
O projeto surgiu por causa de um problema de saúde de Milton César Leite, 53 anos. Depois de uma cirurgia na coluna, ele precisou ficar um tempo parado em casa para se recuperar. “Pra quem está acostumado sair de manhã cedo e manter-se ativo até de noite, ele sofreu. Logo veio a depressão e uma crise de ansiedade”, recorda a dona de casa Adriana Aparecida de Paula, 35 anos, esposa de Milton, que por orientação de uma psicóloga, precisou pensar em algo para ocupar a cabeça do marido.
Como ele gosta de leitura e de crianças, a esposa montou uma gibiteca, com livros e gibis doados, para que Milton fizesse contação de histórias para a criançada do bairro. “Aos poucos, fui ocupando meu tempo com a organização da ideia, pintando os caixotes para fazer as prateleira das gibiteca, com isso e aquilo. A depressão foi embora e as dores na coluna também”, comenta Milton.
Adriana começou a pedir a alguns escritores se poderiam doar livros para a gibiteca. As pessoas se interessaram pelo projeto e começaram a sugerir outras atividades com as crianças. Assim, vários voluntários foram surgindo e hoje o Anjos da Cidadania tem 14 atividades diferentes: teatro, zumba, dança contemporânea, ballet, jazz, violão, reforço de matemática e português, artesanato, confecção de bonecas, crochet, hai kai, entre outras. Cerca de 250 crianças participam das oficinas.
De longe
A maioria dos voluntários não residem em Fazenda Rio Grande, vêm de Curitiba ou de outras cidades da região metropolitana. E fazem o seu trabalho de graça, apenas pelo prazer de ver crianças felizes e bem desenvolvidas. Um dos exemplos é o professor de ballet Alexandre Chaves Moreira, 23 anos, que mora em Pinhais. “Vimos que ele não tinha condições de bancar as passagens. Então arranjamos um jeito de custear as tarifas. Mas hoje, por exemplo, não temos dinheiro para pagar a passagem de volta. Daqui a pouco termina a aula e nem sei de onde vou tirar. Vou pedir emprestado a alguma mãe para pagar sábado que vem”, explicou Adriana na quinta-feira passada, quando a Tribuna foi conhecer o projeto.
Ela conta que teve um professor de matemática que morava no bairro Campo Comprido, em Curitiba, e passava os sábados inteiros se dedicando às crianças. “Um dia vimos que ele vinha, passava o dia todo aqui e não comia nada. Descobrimos que estava desempregado e mal tinha dinheiro para a passagem. Demos um jeito de oferecer a ele café da manhã e almoço”, relatou Adriana.
“Meu filho nunca gostou de matemática. Mas depois que começou os reforços aqui, está indo bem nesta disciplina”, conta a dona de casa Juliane Rodrigues Kucla, 27 anos, mãe de um menino de 11 anos e de uma menina de 6 anos, aluna do ballet. Mas também havia um professor de desenho – a oficina de maior sucesso no início – que vinha de Quatro Barras. Saia às 6h da cidade para conseguir estar às 10h em Fazenda Rio Grande.
Se vira nos 30!
Assim como o perfil da maioria dos voluntários do projeto, Adriana e Milton também passam por dificuldades. Quando se recuperou da coluna e voltou a trabalhar, Milton foi mandado embora no mesmo dia. Desde então, está desempregado e o seguro desemprego já encerrou. Adriana é dona de casa e não tem renda. O casal se vira como pode para sustentar a família, com dois filhos, e ainda tirar uma quantia daqui e dali para custear o projeto Anjos da Cidadania. “A maioria dos nossos voluntários são assim. Pessoas que mal têm de onde tirar e mesmo assim dedicam seu tempo a quem precisa”, diz Adriana.
As dificuldades não desanimam o casal, nem Alexandre, o professor de ballet. Pelo contrário, já até trabalhou uma coreografia com as meninas, que fizeram duas apresentações na semana passada. Adriana se preocupou, porque a maioria das meninas não tinham roupas de ballet para a apresentação. Mas aí entrou a solidariedade. A comerciante Rose Maria Luski, 36 anos, doou dinheiro para comprar os tecidos e confeccionar as roupas. Conseguiram alguns collants, porém ainda assim as crianças não tinham as sapatilhas, que também acabaram chegando de doação.
Como ajudar?
– O projeto funciona aos sábados, das 9h às 17h, no ginásio de esportes municipal.
Rua Paulo Leminski, s/n – Jardim Veneza, Fazenda Rio Grande.
– Precisa de doações de todo tipo: roupas, materiais escolares, materiais para artesanato, papel sulfite (muito usadas nos reforços de matemática), materiais de ballet (roupas, a barra de ferro, espelhos, o piso de linóleo, próprio para a dança), entre muitos outros materiais.
– Informações: (41) 99715-9371, com Adriana. Se não conseguir contato telefonando, ela pede que mande Whats App, pois na região do ginásio não há sinal de celular.