O highlander dos papais noéis está pertinho de Curitiba. Se no filme de 1986 o ator Christopher Lambert é o imortal do clã MacLoad, em Fazenda Rio Grande, na região metropolitana, Jenário Palma de Matos, o seu Gino, é o defensor do clã dos bons velhinhos. É com a descrição de highlander que o Papai Noel mais velho do Paraná, talvez do Brasil, se descreve no seu próprio cartão de apresentação.
Em 2019, pela primeira após 35 anos rodando o Brasil, seu Gino vai passar o Natal em família. E pela também primeira vez vai alegrar as crianças da cidade em que mora. Até 19 de dezembro, das 18h às 22h, ele é o Papai Noel da Praça Brasil, no bairro Nações, em Fazenda Rio Grande.
Nada nessa história é por acaso. Seu Gino acabou de completar 90 anos no dia 6 de dezembro, que é data de qual santo? São Nicolau, o bispo que por volta do ano 250 depois de Cristo ficou conhecido por fazer doações aos pobres e necessitados e inspirou a criação do personagem natalino.
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Para cravar o título de highlander dos Papais Noéis, seu Gino explica que já está faz tempo na função. Oito décadas, pra ser mais exato. Afinal, já na infância ele entregava doces para as crianças no Natal. Mas foi a partir dos anos 1980, quando passou a atuar profissionalmente como Papai Noel, que a coisa ganhou força.
Nascido em Lages, Santa Catarina, seu Gino, morava com os pais em uma fazenda. Por lá, a família ajudava os mais necessitados com alimentos e trabalho. No Natal, quem podia saía de charrete para entregar balas. Desta boa ação surge um ideal para o pequeno Gino. “Tenho lembrança da infância de jogar doces para outras crianças. Desde então, não parei mais. No teatro da escola, aos 8 anos, já tinha o fascínio de usar uma longa barba branca. Conto a partir daí o meu tempo de serviço como Papai Noel. Por isso sou o patriarca dos papais noéis”, orgulha-se.
Para ganhar a vida, seu Gino já fez de tudo um pouco. Foi garimpeiro, lapidário de pedras e caminhoneiro. Hoje vive da venda de artesanato que a família produz, com mais de 3 mil peças catalogadas. Mas o que nunca ficou para trás foi o traje natalino. “Em todos os lugares que estive neste período, sempre levei a roupa vermelha. Deixava debaixo do banco do caminhão e era a alegria de todos. Tem adulto que não conhece a história do Natal e fica impressionado quando estamos caracterizados”, orgulha-se seu Gino.
Nordeste
Em 1984, Gino compra um terreno em Fazenda Rio Grande, onde hoje mora e está a loja de artesanato da família. No mesmo ano, ele é convidado pela primeira vez a atuar como Papai Noel no Nordeste. Começa a peregrinação do highlander dos Noéis pelo Brasil.
“Uma escola de Papai Noel tinha sido criada em Fortaleza, no Ceará, e eles começam a chamar o pessoal do Sul. Nós temos olhos claros e o tom da pele nos ajuda. Todo ano a gente fechava novembro e dezembro com dezenas de cidades. Não tenho nem ideia de quantos municípios nordestinos eu visitei”, enfatiza seu Gino.
Com esta sequência de trabalho, incluindo cidadezinhas do sertão, muitas passagens ficaram na memória. Teve criança que caiu do colo e adultos com pedidos estranhos. Mas o que realmente o marcou nesses 35 anos rodando o país como Bom Velhinho foi o pedido de um menino pobre cearense.
“Quando chegou na minha frente, o menino pediu para que o Papai Noel melhorasse a saúde do pai. Fiz uma oração e não consegui segurar as lágrimas. A força do Noel é muito grande e recomendo sempre aos pais que não tirem da criança a ideia da nossa existência. Eu sou verdadeiro”, ressalta.
Em 2019, a pedidos dos filhos e da esposa Marlene Rega, Gino vai passar o Natal em casa. O forte calor nordestino e um recente problema de saúde deixaram marcas no Noel de Fazenda Rio Grande. Mas o pedido da família também pesou na decisão. “Ele é muito forte, mas desta vez vai passar o Natal conosco. Foi até um desejo dos seis netos que nunca passaram o Natal com o avô. Chegou a nossa hora de aproveitá-lo”, confidenciou a esposa do highlander do Natal.
Barba bonita
Para encarar a atividade de Papai Noel, muitos idosos têm procurado escolas ou cursos. No aprendizado, técnicas de como se portar diante de crianças assustadas, bagunceiras e até mesmo adultos que desejam estragar a magia do Natal. Para tudo isso, seu Gino tem a receita: paciência e simpatia. “ O curso até ensina a fazer um ‘ho ho ho’ estiloso. Mas tem que ser natural, a pessoa precisa gostar de criança”, reforça.
Com tanta experiência, é claro que seu Gino é referência. Ao ponto de muitos pedirem bênção para trajar a roupa vermelha. “Tem até uma cerimônia, em que os papais noéis novatos se ajoelham e beijam minha mão.”, comenta.
Ter a barba branca e bem tratada, é claro, também é fundamental. E o cuidado vai além de xampus e cremes especiais. “Uma vez por ano faço um tratamento especial na barba”, revela.
Claro que para os mais próximos e familiares, o highlander do gorro vermelho é uma pessoa comum como qualquer outra. Adora um churrasco, uma cervejinha, dar um trato no carro Ford Belina que ainda dirige e os projetos para o futuro. “Tenho muita energia para viver. Cada abraço que ganho de uma criança é um dia a mais de vida. Crédito não me falta”, garante seu Gino antes de, como não poderia deixar de ser, largar um “ho ho ho”. “Um Feliz Natal e um feliz 2020 para todos!”, é o desejo do Highlander dos Nóeis.