Há cerca de dois anos, acabou o sossego de quem mora no entorno do Vila Fanny Futebol Clube, na Rua Coronel Aníbal dos Santos, 54, no Fanny. Festas com som alto até a madrugada vêm sendo realizadas desde que a atual diretoria tomou posse, segundo um dos vizinhos, que preferiu não se identificar. Ele relata que os eventos já reuniram mais de mil pessoas, e alguns participantes estacionam na frente das casas, trancando as garagens, provocam arruaça, urinam nos portões das residências e até protagonizam atos libidinosos na rua.
“Uma vez tentei entrar em minha casa e não pude, por causa de um veículo estacionado na frente. Fui à festa para reclamar e recebi xingamentos e ameaças”, protesta. “É impossível ficar em casa, o som é muito alto. Na última sexta, foi até 4h de sábado. No domingo, começou às 15h e foi até perto de meia-noite. Não são moradores do bairro que vão nessas festas. Você não imagina a espécie de gente que frequenta esse clube e o que acontece na frente das nossas casas. Já teve casal fazendo sexo na rua, em cima do capô, dentro do carro”, conta.
De acordo com ele, o Vila Fanny F.C. já foi o orgulho do bairro por sua tradição no futebol amador. Havia uma cancha que era utilizada pela comunidade e pelos alunos do Colégio Estadual José Busnardo e Escola Municipal Elevir Dionísio nas aulas de Educação Física. Mas o espaço foi desativado para abrigar um estacionamento particular. “O esporte foi deixado em segundo plano, esqueceram a parte do futebol. Agora vivem em função de festas de pagode no fim de semana”, afirma.
Insatisfeita
A consultora pedagógica Talita Gaister, 40, que mora próximo ao clube e tem filhos de 3 e 5 anos, também desaprova as atrações culturais. “Até altas horas da noite ficam tocando aquelas músicas horrorosas, sem contar a circulação de pessoas que a gente não conhece. Eles até trazem umas bandas que cantam bem. Se não fosse a questão do horário, não teria problema”, pondera.
Residentes do bairro estão organizando uma associação de moradores para pedir providências, e já encaminharam documentos à Polícia Militar, ao Corpo de Bombeiros, Vigilância Sanitária e Secretaria Municipal do Meio Ambiente. O próximo passo será procurar o Ministério Público.
Dois lados
Um comerciante do bairro, que preferiu não revelar a identidade, diz que fica “em cima do muro”. “Por um lado, as festas são a forma de custear o futebol amador, é o que sustenta e o que faz a unificação, a confraternização. Por outro, bem na frente do clube existem pessoas doentes, com câncer, e idosos. Não sei o que é pior, uma pessoa com câncer ficar se irritando pelo barulho ou o clube acabar”, diz. A solução, palpita ele, seria que a organização dos eventos baixasse o volume e respeitasse horários. “No domingo à tarde você quer relaxar, descansar, e uma festa com som alto vai incomodar. Mas quem frequenta está tentando se divertir, e ouvir música é um meio de diversão.”
Intriga política
De acordo com o presidente do clube, Romário Vieira Alexandrino, nunca chegaram à direção reclamações da comunidade a respeito das festas. “A gente ouve comentários de terceiros, na rua, no comércio, mas nunca nos procuraram para dialogar”, diz. Ele afirmou que o Vila Fanny F.C. está diminuindo a frequência dos eventos e encerrando-os mais cedo. As queixas teriam, de acordo com o presidente, origem política.
“Isso é revanchismo por parte de um ex-presidente que mora em frente ao clube”, aponta. Segundo ele, no entorno do local existem barracões de empresas que ficam vazios aos fins se semana, e seriam apenas duas ou três residências as impactadas pelo estacionamento dos frequentadores. “O clube é amador, tem o lado de ser um espaço cultural. É divertimento pro pessoal do bairro. Trouxemos grandes cantores, o Monarco da Portela, o Tantinho da Mangueira”, lista. Ele afirma que os eventos grandes são esporádicos, e as festas ocorrem uma vez ao mês.
Sobre o restaurante interditado pela Vigilância Sanitária, o presidente diz que havia um estabelecimento locado, que atualmente está fechado. Ele afirmou que durante os eventos não são comercializados alimentos.
Nenhuma denúncia
A Polícia Militar informou que “já recebeu a informação da comunidade e está trabalhando para amenizar a situação no local por meio de ações coordenadas”. A prefeitura diz que não existem denúncias protocoladas ou pedidos de providências formalizados referentes ao Vila Fanny F.C., e informou que no dia 14 de março a Vigilância Sanitária interditou o restaurante do clube por falta de alvará. Quanto a episódios frequentes de som alto, a administração municipal orienta que denúncias sejam formalizadas através do telefone 156.