Como alternativa para bancar as contas que não param de chegar, Cleide conseguiu o seguro-desemprego e receberá a primeira parcela ainda neste mês. Mas, enquanto o tão desejado dinheiro não chega, o jeito é driblar os obstáculos e contar com a ajuda dos familiares. “Precisei renegociar algumas dívidas com o banco. Para quitar outras, recorri aos meus pais”, explica Cleide, em frente à Agência do Trabalhador de Curitiba.
Também à procura de uma oportunidade de recolocação no mercado de trabalho, Alda Lopes Rodrigues está desde junho sem uma renda mensal. A loja de roupas onde trabalhava como estoquista fechou devido à crise econômica. Agora, quer voltar à profissão que ama, mexendo com as panelas. “Moro sozinha com a minha irmã e não tenho filhos. Então até não tive muita dificuldade nesses últimos meses. Já andei distribuindo alguns currículos e espero encontrar logo alguma vaga de cozinheira. De preferência, perto da minha casa”, garante.
Com 52 anos, Lucas Maia da Silva já foi demitido outras vezes, mas nunca encontrou tanta dificuldade em voltar a trabalhar como encontra agora. “Até aqui, o que eu tenho visto é só não, não e não. Está bastante complicado”, desabafa. Demitido da vaga de motorista de caminhão no fim de junho, fez o acerto com a empresa e agora começa a resgatar o seguro-desemprego, benefício que será mantido a ele pelos próximos cinco meses.
Oportunidades minguaram
De acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego no Paraná foi de 8,2% entre abril e junho deste ano. O aumento é de 2 pontos percentuais na comparação com igual período do ano passado. Já em Curitiba, a taxa ficou em 10,2% no segundo trimestre desse ano. É quase o dobro do que a capital havia registrado no mesmo intervalo do ano passado (5,6%).
Nas três primeiras semanas de agosto de 2016, a Agência do Trabalhador ofereceu 1.383 vagas em Curitiba, contra 1.505 no mesmo período de 2015, o que significa uma queda superior a 8%. Atualmente, estão disponíveis 1.860 vagas no Paraná, sendo 921 em Curitiba e Região Metropolitana.
Perspectivas negativas
A tendência é de que o desemprego continue e, pior, ainda aumente. A retração do Produto Interno Bruto (PIB) projetada neste ano é de 3,5%. “Para o ano que vem, a estimativa de alta é de 1% a 1,5%. Para 2017 teríamos de estar com 2% para conseguir manter o mesmo nível de empregos. Como está abaixo disso, teremos mais desempregados. O motivo disso é de que no crescimento econômico havia uma grande rotatividade de mão de obra, pessoas que rodavam entre os postos de trabalho para conseguir seguro-desemprego, sacar o FGTS… Só o benefício do seguro equivale a quase seis meses de salário. Na queda da produção da economia, esse pessoal não conseguiu se recolocar”, detalha o professor de pós-graduação em Finanças, Armando Rasoto.
Para o economista, a previsão de melhora é só para 2019, “sendo otimista”. Ele defende que as medidas estruturais para reverter o cenário atual devem começar pela previdência, seguidas pelo corte de gastos do governo. “Em Curitiba, o que acontece é que houve uma perda na construção civil e, principalmente, nas montadoras, o que refletiu nas autopeças e no varejo, que acumula queda superior a 5% nas vendas”, pontua.
Como organizar as finanças
- Se organize: faça as contas antes de pagar as dívidas. Some o que tem e o que irá receber, levantando os gastos mensais e planejando como distribuir o dinheiro. Gastos supérfluos devem ser repensados e cortados.
- Sem crédito: assim como o cheque especial, o cartão de crédito deve ser deixado de lado. Ferramentas de juros altos não devem ser usadas em épocas de crise financeira.
- Negocie dívidas: se você não tem condições de arcar com as dívidas, seja sincero com os credores. Mostre que há intenção de resolver as pendências e, assim, pode haver uma negociação.
- Trabalhos temporários: por mais que não seja sua área de atuação, considere aceitar trabalhos temporários, fontes alternativas de ganho. É importante fazer o que for possível. Sem falar que, em muitos casos, a oportunidade pode ser a responsável por você descobrir um novo talento ou conseguir uma capacitação em outra área.
Cinco dicas pra se recolocar
E agora? É possível conquistar um emprego mesmo na crise? A Tribuna consultou a professora de Gestão de Recursos Humanos do Centro Tecnológico Positivo, Denise Gabardo. Para ela, a resposta é “sim”.
1) Bagagem: “O que a gente precisa ter é certeza das nossas competências – são nossos conhecimentos, o que a gente estudou, o que aprendeu, as nossas experiências e habilidades. Saber listar e lembrar de tudo isso”
2) Confiança: “Atitude é muito importante. De nada adianta ter boa formação e experiência no mercado de trabalho, se na hora da entrevista não souber transmitir isso. Autoconfiança é essencial, e deve ser demonstrada.”
3) Networking: “A recessão fez com que muitas empresas deixassem de fazer seleção e, quando fazem, geralmente é um recrutamento para vagas básicas. Por isso, vale utilizar a rede de contatos – conhecidos, amigos, parentes. Uma indicação pode valer muito”.
4) Comportamento: “A imagem que passamos é uma das primeiras coisas que as empresas olham. Isso inclui as redes sociais, é importante ter cuidado para não publicar nada que possa expor o candidato de maneira negativa. Por contarem com poucos postos de trabalho, as companhias empresariais estão muito mais rigorosas”.
5) Atualização: “Se está desempregado, é interessante utilizar o tempo livre. Vários órgãos oferecem cursos gratuitos, em praticamente todas as áreas. Muitos deles são online e a pessoa nem precisa sair de casa. Basta procurar e se manter atualizado.”