O que nos ensinaram é que aos 70 anos chegamos numa fase em que devemos aproveitar a vida, pois já trabalhamos o suficiente, não é mesmo? No caso de Deolinda de Almeida, uma rasteira da vida fez com que ela, aos 72 anos, tivesse que continuar trabalhando e, pior, buscar uma solução para não passar por necessidades. Catadora de materiais recicláveis, ela perdeu a oportunidade que a ajudava e agora precisa empurrar seu carrinho pelas ruas para conseguir ter pelo menos como pagar as contas e comer.
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Deolinda trabalha com materiais recicláveis há 18 anos. Moradora da Rua José Rebelato, no Xaxim, nos últimos três anos ela aproveitava os papelões que não eram úteis para o mercado Verde Mais, que fica na mesma rua, e todos os dias tinha a certeza de que voltaria para casa com o que se tornaria seu sustento. “No último mês, eu tive a notícia de que não iria mais poder pegar os papelões, pois a empresa de resíduos que coletava o lixo do mercado ofereceu um desconto se pudesse passar a recolher também o papelão. O mercado aceitou e eu fiquei sem meu sustento”, contou a mulher.
Mesmo com dores e problemas de saúde que acabam atingindo qualquer pessoa com a idade que ela tem, Deolinda não se abateu e, ainda que preocupada com seu futuro, resolveu voltar a percorrer as ruas para buscar pelo material reciclável. “Mas eu já não tenho mais o pique de antes, não tenho mais tanta força para empurrar o carrinho e quando eu saio para a rua boa parte dos recicláveis já foram recolhidos por quem passa mais cedo, de carro. Não tenho tido chance”, desabafou.
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Viúva, a mulher vive com um neto, que é doente, e com um filho, que é deficiente. “Isso é o que mais me preocupa, porque eu tenho que cuidar deles da melhor forma possível. Se eu ainda tivesse como sustentá-los da melhor forma, não estaria tão aflita. Mas as coisas vão piorar e eu tenho medo de faltar comida, por exemplo. Já as contas, elas não esperam a gente ter dinheiro para pagar, né?”.
Apesar das preocupações, Deolinda continua tentando recuperar a perda que teve, já que por semana ela conseguia R$ 200 com os papelões que recolhia no mercado. “Os funcionários ficaram muito tristes, porque além de recolher, eles também me ajudavam e eu acabava ajudando no mercado também. Não teve um dia que eu recolhi os papelões que eu não deixei tudo limpinho para eles lá fora”.
Acompanhada de sua cachorrinha, Lilica, a idosa empurra seu carrinho até a maior distância que consegue para tentar, pelo menos, conseguir recolher o máximo de materiais recicláveis que puder. “Mas ainda peço a Deus, todos os dias, para que toque o coração do dono do mercado, pois para ele o desconto que a empresa de resíduos deu não é nada, mas pra mim o papelão era o sustento”.
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À Tribuna do Paraná, o Verde Mais explicou que mudou os procedimentos da coleta de resíduos e dos materiais recicláveis para atender a uma lei de destinação do lixo. Apesar disso, como agradecimento pelo trabalho que Deolinda desenvolveu nestes três anos, o mercado se responsabilizou em contribuir com uma cesta básica por mês.
Louco pra ajudar
A reportagem da Tribuna foi acionada por Thiago Fernando Rebellato, de 29 anos, que nasceu no bairro e conhece Deolinda desde criança. “Ao ver essa situação, não consegui ficar em paz, sem pelo menos planejar alguma coisa para ajudá-la. Além de ser uma pessoa boa, é idosa e tem todas as dificuldades em casa, cuidando de duas pessoas que precisam dela. Chega a ser injusto fazer uma mulher dessas ter que ir para as ruas”, comentou o rapaz.
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Dono de um food truck e seu pai dono de um restaurante conhecido no bairro, o Caverna, Thiago e a família começaram a também recolher papelões para entregar a Deolinda, mas a ideia é pedir ajuda dos moradores. “Penso que a comunidade pode ajudar, afinal de contas temos muitos vizinhos, se as pessoas se unirem, com certeza damos uma força”.
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Pensando em como ajudar Deolinda, Thiago bolou um esquema para facilitar até mesmo para os moradores do bairro. “Como o restaurante do meu pai é bem conhecido, o ponto de recolhimento vai ser lá. A partir de agora, quem quiser ajudar pode trazer os materiais, principalmente papelão, até o nosso restaurante. Nós já estamos comprometidos a entregar a ela”.
Bora lá?
Deolinda junta principalmente papelão, pois tem contato com uma pequena empresa que compra e busca o material em sua casa toda semana. Por isso, se você quiser ajudá-la, o material pode ser entregue direto no restaurante Caverna, que fica na Rua Francisco Derosso, 435, no Xaxim. Para outros tipos de ajuda, Thiago concentrou nele as informações necessárias e o contato é o (41) 99106-7942.