“Já me via morta no meio do mato”, diz Mariana, que sobreviveu à violência extrema durante um sequestro

Os dados não mentem. Segundo pesquisa recente, divulgada em agosto desse ano pelo Instituto Paraná Pesquisas, o maior medo dos brasileiros é a violência. Conforme apontou o levantamento, 30% das pessoas temem sofrer qualquer tipo de ataque nas ruas. Outra pesquisa, divulgada pelo instituto Datafolha no fim de 2016, mostrou que 75% dos brasileiros temem ser assassinados e 85% dos habitantes do país afligem-se diante da hipótese de serem agredidos por criminosos.

Em outubro de 2016, a então garçonete Mariana Garcia, 24, também estava entre aqueles que temiam esse tipo de situação mas não tinham, de fato, vivenciado a violência urbana. Tudo mudou, no entanto, quando a jovem foi rendida por bandidos e subjugada durante horas, que – para ela – mais pareceram meses. De vítima potencial a refém de sequestro, dois anos depois do trauma, a moça contou sua história para a Tribuna. Confira na segunda reportagem da série, “Sobreviventes”.

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Sexta-feira, dez na noite. Fazia frio e a balada, na Rua Trajano Reis, não tinha sido das melhores. “A ideia era ficarmos pela calçada bebendo cerveja e conversando, mas o frio era tanto que não tinha quase ninguém por lá. Aí decidimos voltar para casa”, lembra. Moradora de Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), a jovem pegou carona com o amigo Ivan Rodrigues*, que também mora no município e estava de carro naquela noite. “Junto com a gente tinha outro amigo, o Felipe, que também achou melhor voltar e foi nos seguindo com o carro dele”, conta.

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Passando pelo bairro Bacacheri, o trio parou em um carrinho de cachorro quente, na altura do Colégio Leôncio Corrêa. “Estávamos quase descendo do carro mas começou a tocar uma música que eu gosto muito no rádio e pedi pra esperar a canção terminar. O Felipe entrou no carro com a gente e ali ficamos curtindo o som”, revela. De súbito, ainda embalados pelos versos da cantora Lily Allen, os amigos foram surpreendidos por um veículo que, sem mais nem menos, emparelhou com eles no meio da rua. Dentro do automóvel, três rapazes com idades entre 18 e 20 anos apontavam armas em direção aos jovens. “Desceram dois e mandaram a gente sair.

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Começaram a mexer em tudo e pegar as coisas, o que nos fez pensar que aquilo seria apenas um assalto. Só que aí eles mudaram de ideia e nos mandaram entrar de novo”, revela.
Assumindo o volante, um dos bandidos determinou que Mariana sentasse ao seu lado, no banco do passageiro. Já Ivan e Felipe foram obrigados a permanecer no banco de trás, onde o segundo sequestrador lhes apontava a arma. “Nessa hora passa tudo pela sua cabeça. Eu estava de vestido, totalmente vulnerável. Eles diziam pra que a gente não mentisse e nem tirasse eles ‘pra loque’ se não ia ser pior”, recorda Mariana. O motorista então arrancou e, seguido pelo terceiro assaltante, que estava no outro carro, conduziu o veículo a esmo pelas ruas do bairro. “Eles eram muito agressivos. Xingavam e ameaçavam o tempo inteiro falando que iam nos largar em alguma quebrada. Eu já me via morta no meio do mato”, conta.

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Há 30 minutos na direção o motorista começava a demonstrar certa insegurança por não conhecer muito bem a região. “Ele ficava perguntando o nome das ruas e não fazia ideia de onde levar o carro. Isso nos deixou ainda mais apavorados porque eles estavam ficando nervosos no caminho”, lembra. De arma em punho o tempo todo e ameaçando os três amigos, os ladrões indagaram o bairro de origem de cada um e decidiram se deslocar até a residência de Felipe, depois que ele afirmou ser morador do Boa Vista. “Acharam que pelo fato do Felipe morar no Boa Vista e a gente em Colombo, ele era ‘playboy’ e que consequentemente teria dinheiro e itens de valor em casa”, relembra.

“Fiquem com Deus”

Garota vitima de sequestro que superou o trauma. Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná
Garota vitima de sequestro que superou o trauma. Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

No caminho até o prédio onde Felipe morava, um dos assaltantes solicitou que ele retirasse a jaqueta. “Quando o Felipe tirou o casaco, o documento do carro dele caiu e o sequestrador ficou enlouquecido dizendo que estávamos enganando eles. Ele disse que, depois que fôssemos até a residência, teríamos de voltar com eles para que levassem também o outro carro”, recorda.

Seguindo as indicações de Felipe, os sequestradores chegaram até o edifício onde o jovem morava com a família. Na hora de entrar na garagem, no entanto, um pequeno acidente deixou a situação ainda mais tensa. “O Felipe não achava o controle da garagem, que tinha caído no chão. Eles começaram a gritar dizendo que estávamos de ‘migué’ e engatilharam os revólveres. Até hoje eu lembro daquele ‘clic‘ e entro em pânico”, revela. Por sorte ou por azar, o controle foi encontrado debaixo de um dos bancos do veículo e eles conseguiram entrar.

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No apartamento, a mãe de Felipe dormia no sofá da sala quando foi surpreendida pela entrada súbita dos bandidos, trazendo como reféns seu filho e os amigos. “Ela deu um pulo e nisso veio o pai do Felipe para ver o que estava acontecendo. Ele tentou reagir e deram um soco na cara dele. Já a irmã dele tentou fugir e a puxaram pelo cabelo, foi terrível”, recorda Mariana. Forçados a deitarem no chão da sala, os reféns permaneciam imóveis enquanto os bandidos faziam a limpa no apartamento. “Levaram tudo que conseguiram. Televisão, computador, roupas, calçados. Eles ficaram quase duas horas na varredura”. Terminado o serviço, os sequestradores fizeram uma última saudação: “Fiquem com Deus aí”, disse um deles.

Sobre as horas seguintes ao sequestro relâmpago, Mariana afirma não se lembrar de muita coisa. “Fiquei sentada no sofá com os olhos fixos num ponto da parede. Eu mal conseguia processar o que tinha acontecido”, lembra. Com boletim de ocorrência em mãos, o trio de amigos conseguiu identificar os integrantes da quadrilha alguns meses depois. Nenhum foi preso. “Eram todos menores de idade e, se não me engano, um deles tinha passagem por tráfico de drogas. Eu não quis ir muito atrás porque estava traumatizada”, relembra.

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Com o passar do tempo, a jovem reaprendeu passo a passo a assimilar a sensação de liberdade. “Logo depois do fato eu parei todas as minhas atividades. Tranquei a faculdade porque tinha pavor de andar de ônibus sozinha de noite e faltei vários dias no trabalho. Aquilo me marcou profundamente, mas chegou num ponto que eu tive de me forçar a sair de casa de novo”, afirma.

Imagem ilustrativa. Foto: Arquivo/Tribuna do Paraná
Imagem ilustrativa. Foto: Arquivo/Tribuna do Paraná

Dois anos depois, Mariana mudou de emprego e também de universidade. Mesmo livre do pânico, a jovem afirma ainda ter dificuldade em andar sozinha pelas ruas. Após a terrível experiência, ela se divide entre a indignação pelo fato dos criminosos ainda estarem soltos e a gratidão por ter saído viva. “Aprendi a exercitar a positividade diariamente. Com relação à impunidade dos bandidos, me preocupo porque eles podem estar fazendo aquilo com outras pessoas quando deviam estar atrás das grades”, finaliza.

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