Faz quase quatro anos que a Unidade Paraná Seguro (UPS) foi instalada Vila Verde, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), com a promessa de devolver a tranquilidade para os moradores de uma das regiões mais violentas para a cidade. Só que, para muitos, o equipamento foi uma ação de “politicagem”. Eles reclamam que a UPS frequentemente está fechada. A Polícia Militar, no entanto, alega que, mesmo de portas fechadas, existem policiais 24 horas na unidade.
Segundo denúncia feita à Tribuna por um morador da região, que não quis se identificar, a UPS localizada na Rua Jornalista Rubens Ávila ficou fechada pelo menos três dias da semana passada. Conforme o relato do denunciante, a partir de então houve um aumento no número de roubos a residências do bairro.
A reportagem foi até a Vila Verde. Os comerciantes e moradores entrevistados também demonstraram receio ao falar da UPS e não quiseram ter os nomes divulgados. Muitos comentaram sobre um tiroteio que ocorreu na sexta-feira (21) passada, a poucos metros da unidade policial. Um adolescente foi baleado e socorrido ao hospital.
“Vou falar bem a verdade, para mim é só politicagem. Eu não senti melhoria nenhuma aqui”, desabafou uma comerciante. Ela disse que sente que os policiais que ficam na UPS têm medo. “O povo não respeita eles”. A mulher comentou ainda que, há pouco tempo, pediu uma informação a um policial sobre o registro de um boletim de ocorrência e ele não soube responder. “Não dão nenhum suporte para a população”, afirmou.
“A viatura só passa por aqui e vai embora”, reclamou um morador, sobre o funcionamento da UPS. Ele disse que a unidade só funcionou “direito” assim que foi instalada. “Faz falta a presença dos policiais por aqui”, reclamou.
Uma funcionária de comércio da vila disse que, entre os maiores problemas da região, está o tráfico de drogas, que é “bem descarado”. “Esses dias eu me senti no Rio de Janeiro, vi um pessoal andando na rua com arma na cintura. Não estavam nem aí”, contou. Ela também afirmou que a UPS passa a maior parte do tempo trancada e que não vê os policiais fazendo patrulhamento no bairro.
Segurança dos policiais
Quando a reportagem ainda estava na Vila, encontrou o major Kister, do 23º Batalhão da PM. Ele mostrou que, mesmo a unidade estando trancada, havia policiais lá dentro. Ele explicou que, há pouco tempo, um policial saiu da unidade para atender uma situação de perturbação de sossego ali próximo e foi agredido pelo dono da festa. Desde então, os agentes receberam orientação para não sair da UPS.
O major explicou que, por questões como segurança, problemas da estrutura física da unidade e, questões íntimas dos policiais, como idas ao banheiro, a unidade muitas vezes fica fechada. Mas, segundo ele, “sempre vão ter policiais aqui, 24 horas”.
O oficial afirmou que estão sendo planejadas melhorias na estrutura da unidade e aumento da equipe. Ele orientou ainda que os moradores que queiram fazer denúncias como, por exemplo, de pontos de tráfico de drogas, podem fazê-las pelo telefone 181. “O agente público não pode fazer violação de domicílio e entrar em uma biqueira, por exemplo. Precisamos juntar as denúncias, enviar ao Ministério Público, para conseguirmos um mandado de busca e apreensão e assim fazermos o flagrante”, detalhou.
Campeão de homicídios
Segundo a estatística da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), a CIC foi o bairro com mais mortes violentas na capital paranaense em 2015. No ano passado, foram 54 casos: 51 homicídios dolosos (com intenção de matar), dois latrocínios (roubos seguidos de morte) e uma lesão corporal seguida de morte. Este ano, a Tribuna já noticiou três homicídios na Vila Verde.
Na noite de 13 de janeiro, um ajudante de pedreiro foi morto a tiros na frente de um bar na Rua Jornalista Rubens Ávila, próximo ao cruzamento com a Rua Beato Gaspar Stanggassinger. No começo da tarde de 9 de março, Anderson Bueno, 30 anos, que havia saído há pouco tempo da prisão, foi assassinado com cinco tiros na Rua Herculano de Araújo Filho. O atirador estava em uma bicicleta.
E na noite do último dia 8 de abril, Paulo Cesar Batista Matias, 24 anos, foi morto a tiros na Rua Herculano de Araújo Filho, próximo à esquina com a Rua Alvin Tiboni, na Vila Verde, CIC. Ocupantes de um Corsa prata atiraram contra o Escort prata onde ele estava com Josoel Lopes da Silva, 21 anos, que foi baleado no ombro.