“Juntas somos mais fortes”. Sob este lema, mães, donas de casa e profissionais que perderam seus empregos se uniram com a ajuda das redes sociais para dar um olé na crise financeira, garantindo uma fonte de renda para ajudar no sustento da família e ter mais qualidade de vida. A iniciativa, que envolve a divulgação e a organização de bazares que vendem os produtos artesanais feitos por elas, reúne hoje mais de 1.500 participantes no “Grupo Mulheres Empreendedoras”, no Facebook. Um projeto criado pela agora empreendedora Jocilaine Fuckner Alves, 38 anos, durante um período difícil de sua vida.
“Eu era vendedora, tive minha filha e perdi o emprego depois que ela nasceu. Logo depois passei por uma depressão pós-parto e fiquei um ano de cama. Aí, aos poucos uma amiga foi me incentivando a reagir e a fazer alguma coisa. Juntas, pensamos em montar um grupo de mulheres, para que uma ajudasse a outra. Assim, montei um grupo de WhatsApp e fui chamando as meninas, aos poucos. Através de uma, eu conhecia a outra e logo organizei o primeiro bazar, pequeno”, lembra Jocilaine, a Joci, como é mais conhecida.
O primeiro evento aconteceu em abril de 2016, em São José dos Pinhais, onde vive com sua família. “Fizemos um bazar para vender de tudo, um mix mesmo, um mini shopping, para a pessoa entrar e encontrar de tudo. No primeiro, eu levei roupa feminina, mas depois vi que não conseguiria conciliar as vendas com a organização. Afinal, eu tenho que dar atenção para as meninas”, conta.
Pouco tempo depois, com a adesão de mais mulheres, ela desativou o grupo de mensagens pelo celular, dando lugar a um grupo maior, no Facebook. Na mesma época, sua filha Giovana, 22 anos, que estuda design gráfico, deixou seu emprego para ajudá-la. “Foi ela quem fez as artes e criou a página no Facebook”.
Hoje, já registrada como microempreendedora individual (MEI) na área de eventos, Joci tem organizado bazares mensais, que contam com cerca de 20 a 40 expositoras em cada edição. Entre as participantes estão as mulheres do grupo, a maioria de Curitiba e região, e algumas que vêm do interior do Paraná e Santa Catarina.
Rotina atribulada
Concentrando seus esforços em montar e organizar os bazares, Joci passou a dividir sua rotina com seu novo trabalho como representante comercial e as atividades com suas filhas, entre elas a caçula Vitória, 5. “Pela manhã, fico com minha pequeninha em casa e cuido dos bazares. Depois, levo ela para a escola e saio à tarde para vender. Quando volto no fim do dia, enquanto faço a janta respondo as mensagens das meninas. E ainda têm os cuidados com a casa e com o marido, é uma loucura”, relata.
No entanto, segundo ela, apesar de tanto trabalho e dedicação, ainda não é possível manter toda a família com a renda dos bazares. “Não consigo ainda sustentar minha família só com os bazares. Esse é um trabalho de formiguinha. A gente trabalha e investe muito para ter um pequeno retorno, mas o que ganho me ajuda muito. Hoje 40% de minha renda vem dos bazares”, diz.
Virada
Mesmo ainda mantendo uma atividade paralela com a organização de bazares, Joci garante que os eventos fizeram toda a diferença para ela. “Mudou minha vida desde que comecei a ter contato com as meninas e a me ocupar no dia a dia. Eu não via mais saída para nada, ficava na cama e os remédio não eram suficientes. Depois que passei a ter contato com alegria destas mulheres, me encantei com a força de vontade e a garra que elas têm. Todas têm uma história de vida difícil, de superação. São mães, donas de casa, que além de vender seus produtos, muitas vezes têm uma segunda profissão, para dar conta de ajudar a família”.
Batalhando por seus sonhos, ela também acredita que o sucesso que busca pode ser partilhado com suas companheiras. “Com a economia da maneira que está indo, não é só a minha necessidade, é a necessidade delas também. Quero fazer alguma coisa, ajudar de alguma forma”.
Perto do filho
Parceira de Joci desde o segundo bazar, a empreendedora Andrea Generoso Farinhuka, 41, depois de passar mais de uma década trabalhando no setor financeiro, viu em um antigo hobby de fazer geleias e conservas caseiras um novo rumo para sua vida. “Trabalhei por 12 anos na área financeira, mas fiquei doente e acabei me desligando da empresa. Tive síndrome do pânico e diagnóstico de miopia degenerativa. Não tinha tempo para mim e para meu filho, não conseguia fazer a lição com ele. Só depois que saí, descobri o filho maravilhoso que eu tenho e que ser mãe é a melhor coisa do mundo”, afirma.
Mas a inspiração e o novo caminho não surgiram imediatamente. “Quando saí do banco, em agosto de 2014, levei um tempo até decidir o que ia fazer. Mas sabia que não queria mais voltar para minha área e nem trabalhar com dinheiro. Assim, lembrei dos muitos cursos de culinária que já tinha feito e, com o incentivo de meu marido, comecei a testar receitas e fazer geleias. E ele, que faz cervejas artesanais, me desafiou: por que você não faz uma geleia de cerveja? Testei e deu certo”.
Hoje empreendedora, ela conta que as geleias são seu foco. “São geleias com sabores inusitados, como cerveja, caipirinha, pimenta e tomate com manjericão. Eu tinha dificuldade em achar geleias como esta e por isso, acreditei que daria certo vender para outras pessoas”.
Satisfeita e tendo como retorno cerca de 70% do que recebia de salário quando trabalhava no banco, Andreia nem pensa em deixar sua produção de geleias e os bazares. “Não troco por nada. Amo o que eu faço”. E para quem tem dúvida, ela indica: “Há vida fora do banco e das empresas, e ela é maravilhosa. E em meses como o Natal, consigo ganhar até 200% do meu antigo salário com o que vendo nos bazares, nos fins de semana. E participar do grupo faz a diferença, é grande troca de conhecimento entre a gente”.
Empreendedora social
Acostumada a trabalhar em um ritmo intenso, a hoje empreendedora Rafaelle Brustolin Pilatti, 35, diz que seguir por conta própria, vendendo produtos como roupas para bebês prematuros e lousas decorativas, foi a alternativa encontrada conquistar um caminho próprio, após uma sociedade desfeita.
“Engravidei do meu filho, que hoje tem cinco anos e deixei o bebê com minha mãe. Logo voltei a trabalhar, mas pouco tempo depois minha mãe teve gripe H1N1 e eu tive que cuidar dele. Assim, precisei pedir para me mandarem embora. Pouco depois, abri um negócio com uma sócia, mas não deu certo e eu deixei a empresa. Mas como não consigo ficar em casa sem produzir nada, decidi investir em outros projetos, testando coisas novas”, conta.
Como já tinha planejado com seu marido, em abril de 2016, Rafaelle engravidou pela segunda vez e, assim como Joci, também teve depressão. Sem ânimo, sua disposição só voltou meses depois, perto da data do aniversário de um ano de sua bebê. Nesta ocasião, ao preparar a festinha, decidiu organizar um bazar de desapego com suas amigas. Para ter acesso ao evento, pediu às pessoas um quilo de alimento e produtos de higiene, para serem doados à Casa de Apoio do Hospital Pequeno Príncipe.
E em maio deste ano, ao organizar um chá de bebê para uma parente, percebeu que a mini lousas usadas na decoração da festa poderiam virar um produto, vendido para outras mães. “Faço as mini lousas para as festas, para que as crianças pintem. Com elas surgiu a Inventos & Eventos”. E após o nascimento prematuro desta mesma bebê, Rafalelle percebeu que não era fácil encontrar roupinhas para ela. “Fui atrás de roupas para ela e não achei. Por isso criei a PrematuRoma”.
Fora as roupinhas, as mini lousas e os bazares que também organiza, Rafaelle ainda lançou uma linha de pijamas para toda a família, incluindo os pets. “Hoje meus projetos ainda dão mais investimento do que retorno, mas eles me trouxeram de volta a vitalidade. Hoje faço tudo com amor e acredito que logo, um dos meus projetos vai render mais. Sei que uma hora vou ter que parar com os outros. Sou criadora e tenho muita consideração pela Joci, é bom contar com esta parceria”, concluiu.
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